O Século XIX foi agitado por fortes mudanças sociais
Por: Salezio.Francisco • 23/12/2018 • 2.515 Palavras (11 Páginas) • 559 Visualizações
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O romantismo procura elementos rústicos e entrega-se às realizações espontâneas, o que dá origem à incorporação, na nossa cultura, de vários conhecimentos acumulados pelos povos primitivos ou que se desenvolveram longe da Europa civilizada. Isto leva ao estudo das artes chinesa, japonesa, indiana e a africana. Com o regresso à Idade Média, o romantismo recusa as regras impostas pelas academias neoclássicas, pois estas eram inspiradas nos valores clássicos (ordem, proporção, simetria e harmonia). (Imbroisi, Martins, & Lopes, 1998)
Os arquitetos românticos preferem irregularidades nas estruturas espaciais e volumétricas, preferem as geometrias mais complexas e as formas curvas. Preferem os efeitos de luz, o movimento dos planos e o pitoresco de decoração. (Imbroisi, Martins, & Lopes, 1998)
Em 1938, Aino e Alvar Aalto criaram a obra-prima das suas carreiras, a Villa Mairea, uma casa de verão construída para Mairea Gulichsen em Noormarkku. O primeiro esboço dessa construção em forma de “L” faz referencia explicita ao Romantismo. A planta da sala de estar principal remete á planta do estúdio Ruovesi construído em 1893. As duas obras ostentam uma lareira esculpida e saliente, e uma sala de estar escalonada que leva a uma escada de mezanino. Villa Mairea foi construída com uma mistura de tijolo aparente, alvenaria rebocada e chapas de madeira, tal como a Casa Munkkiniemi. (Frampton, 1997)
Mais que qualquer outra obra do pré-guerra de Aino e Alvar Aalto, a Villa representa um elo concetual entre a tradição construtivista racional do século XX e o movimento romântico nacional. Os seus espaços básicos, as salas de estar e jantar, ladeiam um pátio com jardim coberto dentro de uma clareira mais ou menos circular. A massa da casa e o perímetro de contorno irregular da piscina da sauna, sugerem uma oposição entre a forma artificial e natural, e esse principio de dualismo prevalece na obra toda. (Frampton, 1997)
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Aino Aalto
[pic 8]
Aino Mandelin-Marsio (fig.6), (1894-1949) foi pioneira no design finlandês. Nascida em Helsínquia, Finlândia, recebeu o seu diploma de arquitetura em 1920. Em 1924, Aino juntou-se à firma do famoso arquiteto finlandês Alvar Aalto (fig.7). Esse passo revelou-se fatídico para Aino, tanto profissional como pessoalmente quando se casou com Alvar, criando uma parceria ao longo da vida que criou um legado de design internacional. O casal trabalhou de perto até a morte de Aino, colaborando em vários projetos que deixaram uma marca significativa no design global. (Iittala, 2008)
Independentemente de seu marido, Aino também é conhecida por as suas próprias contribuições individuais, o que ajudou a trazer o design finlandês moderno para a arena internacional. As suas exposições arquitetónicas para Artek receberam o Gran Prix na Trienal de Milão de 1936. Aino também ganhou a medalha de ouro na mesma competição pelos seus "Óculos Aalto", que foram inspirados pelos círculos criados ao jogar pedras na água. Oitenta anos depois, o utensílio de vidro "Aino Aalto" versátil e empilhável continua a ser um clássico intemporal. A designer também projetou edifícios, interiores, móveis e têxteis. (Iittala, 2008)[pic 9][pic 10]
S. Giedeon, historiador e amigo do casal disse que Aino era "plácida como os lagos e as florestas finlandesas de onde veio e também ativa, embora da maneira que apenas os nórdicos sabiam ser.” Alvar e Aino trabalharam, apaixonaram-se, viveram juntos e juntos desenharam. (Branco, 2010)
A Villa Mairea, uma das obras mais conhecidas do casal, além de ser um projeto emblemático de modernidade, combinando vernaculismo e tradição - através de formas e materiais orgânicos - com a mais pura essência do funcionalismo, é complexo em si mesmo. Parece ser orquestrada por várias mãos e na verdade também o é. visto que para além do casal, os proprietários das casas do casamento Gullischen também participaram. Complexidade, sobreposição de ideias diferentes em diferentes lugares, composição por partes, dando um resultado bonito cheio de nuances, tudo isso é óbvio ao passear pelas diferentes salas de La Villa Mairea (Garcia & Watanabe, 2008) [pic 11][pic 12]
O Pavilhão da Finlândia na Feira Mundial de Paris (1937), a Biblioteca de Viipuri (1928-34) (fig.8), o Sanatório de Antitubeculoso de Paimio (1929) são os trabalhos mais importantes realizados juntos. Sem mencionar a empresa Artek (Arte + Técnica) que produz e vende móveis até o momento e foi a plataforma de lançamento no nível internacional. (Branco, 2010)
O desaparecimento de Aino marca um ponto de viragem na vida pessoal e profissional de Alvar Aalto. De acordo com Tafuri:" Desde 1945 ela era inconsciente de qualquer demanda programática e tentou apenas desenvolver uma linguagem já formada claramente no final dos anos trinta". (Garcia & Watanabe, 2008)[pic 13]
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Villa Mairea
Villa Mairea (fig.9) foi criada em 1938, e foi um dos trabalhos mais importantes de Alvar e Aino Aalto. A residência localiza-se no topo de uma montanha, cercada por pinheiros no oeste da Finlândia, numa cidade chamada Noormarkku, e foi projetada para ser uma casa de verão para Mairea Gullichsen. (Garcia & Watanabe, 2008)[pic 14]
Uma das premissas de Aalto foi usar o cenário natural como ponto de partida. Combinou materiais dando um ar de moderno, concedendo à natureza uma base totalmente nova. Usou materiais como alvenaria, tijolo aparente e chapas de madeira. Nos primeiros desenhos, é percetível a influência do projeto da Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright. No princípio, Aalto baseou-se na separação entre a casa e a galeria de arte, mas logo desenvolveu a uma ideia espacial, onde a pintura e a vida quotidiana se entrelaçam com naturalidade. Daí surge a ideia de fazer um jardim no modo de um pátio mediante uma sequência formada pelo corpo principal da casa fechando os lados sul e leste a sauna fechando o lado norte, e um pergolado marcando um limite virtual a oeste. (Garcia & Watanabe, 2008)[pic 15][pic 16]
O interesse de Aalto pela arquitetura do Mediterrâneo e suas adaptações ao contexto finlandês fortalece esse interesse pelo pátio que voltará a surgir em muitos outros projetos dessa primeira etapa de sua produção. A planta baixa (fig.10) tem o formato em “L” e está formada pelo grande espaço quadrado da sala de estar, que se encontra em ângulo com a ala que contém uma sala de jantar coberta e outra descoberta.
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