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LAZER – CIDADE – ESPAÇO – EQUIPAMENTO – POLÍTICA PÚBLICA.

Por:   •  12/1/2018  •  2.785 Palavras (12 Páginas)  •  370 Visualizações

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Piracicaba, 17(44): 55-66, 2006

Uma análise de situação, da questão do espaço e dos equipamentos de lazer, põe em destaque algumas características indesejáveis, quando se pensa em termos de democratização, um dos valores centrais, ao lado da participação popular, na concepção de políticas de lazer, que vêm orientando os trabalhos de políticas públicas mais progressistas.6 Democratizar o lazer implica democratizar o espaço. Muito embora as pesquisas realizadas na área das atividades desenvolvidas no tempo disponível enfatizem a atração exercida pelo tipo de equipamento construído, deve-se considerar que para a efetivação das características do lazer é necessário, antes de tudo, que ao tempo disponível corresponda um espaço disponível. E se a questão for colocada na esfera da vida diária da maioria da população, não há como fugir do fato: o espaço para o lazer é o espaço urbano. Se procedermos à relação lazer/espaço urbano, verifi caremos uma série de descompassos, derivados da natureza do crescimento das nossas cidades relativamente recente, e caracterizado pela aceleração e pelo imediatismo. O aumento da população urbana não foi acompanhado pelo desenvolvimento de infra-estrutura adequada, gerando desníveis na ocupação do solo e diferenciando marcadamente, de um lado, as áreas centrais, ou os chamados pólos nobres, concentradores de benefícios e, de outro, a periferia, com seus bolsões de pobreza, verdadeiros depósitos de habitações. Mesmo quando nesses espaços estão localizados equipamentos como shopping centers, a população local geralmente não tem acesso privilegiado a eles. Constata-se, particularmente, a centralização de equipamentos específi cos (teatros, cinemas, bibliotecas etc.)7 ou a sua localização em áreas para públicos segmentados, o ar de santuário de

6 MARCELLINO, 2001. 7 REQUIXA (1980) enfatiza a necessidade de integração, numa política de lazer, de equipamentos privados e públicos, de um lado, e, de outro, de equipamentos específi cos e não específi cos. Como equipamento não específi co entendem-se os que, em sua origem, não foram construídos para a prática das atividades de lazer, mas depois tiveram sua destinação específi ca alterada, de forma parcial ou total, criandose espaços para aquelas atividades. O autor coloca que atualmente os espaços das cidades precisam ser aproveitados de modo a se tornarem polivalentes. Entre esses equipamentos não específi cos estão: o lar, a rua, o bar, a escola etc. Já os equipamentos específi cos são construídos com essa fi nalidade, podendo ser classifi cados pelo tamanho, pelo atendimento aos conteúdos culturais ou por outros critérios.

que ainda se reveste um bom número deles e as difi culdades para a utilização de equipamentos não específi cos – o próprio lar, bares, escolas etc. Essa situação é agravada sobretudo se considerarmos que as camadas mais pobres da população vêm sendo expulsas para a periferia e, portanto, afastadas dos serviços e dos equipamentos específi cos – justamente as pessoas que não podem contar com as mínimas condições para a prática do lazer em suas residências e para as quais o transporte adicional, além de economicamente inviável, é muito desgastante. Nesse processo, encontramos cada vez menos locais para os folguedos infantis, para o futebol de várzea ou que sirvam de pontos de encontro de comunidades locais. Assim, aos espaços destinados ao lazer pouco restou. O lazer também passou a ser visto pelos grandes investidores como uma mercadoria. “Há muito a cidade deixou de ser basicamente um espaço público, neutro, sem querer chamar a atenção. A própria cidade é um produto a ser vendido para o desenvolvimento de atividades lucrativas.”8 É preciso que o poder municipal entenda a importância dos espaços urbanos de lazer, antes que empresas os transformem em produtos acessíveis somente a classes sociais mais altas. Se o lazer é colocado pela sociedade capitalista como um momento de consumo, o espaço para ele também é visto como um espaço para o consumo. “A constituição dos núcleos é primordialmente assentada em interesses econômicos. Foram e são concebidos como locais de produção, ou de consumo.”9 Dessa forma, também os equipamentos de lazer, os espaços de convívio seguem uma tendência à privatização, incluindo aí as áreas verdes, que, como o próprio lazer, passam a ser mercadorias. Da nossa parte, somos partidários da opinião de que a bela cidade constitui o equipamento mais apropriado para que o lazer possa se desenvolver. É aí, onde se localizam os grandes contingentes da população, que a produção cultural pode ser devidamente estimulada e veiculada, atingindo um público signifi cativo.

8 SASSEN, 2000, p. 120. 9 MARCELLINO, 2002a, p. 25.

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O crescimento desordenado, a especulação imobiliária, enfi m, uma série de fatores vem contribuindo para que o quadro das nossas cidades não seja dos mais promissores, quer na defesa de espaços, quer em termos da paisagem urbana, quando se fala da contemplação estética. Em nome da economia e da funcionalidade, muito se tem feito enfeando a paisagem urbana. Mas não somente a urbanização é regida pelos interesses imediatistas do lucro. A visão utilitarista do espaço é determinante também nos processos de renovação urbana, ou seja, nas modifi cações dos lugares já urbanizados, ditados pelas transformações verifi cadas nas relações sociais. Além da alteração da paisagem, fato mais facilmente observado e que, pela ausência de critérios, geralmente contribui para a descaracterização do patrimônio ambiental urbano e a conseqüente perda das ligações afetivas entre o morador e o habitat, ocorrem a diminuição dos equipamentos coletivos e o aumento do percurso casa/trabalho, enfi m, o favorecimento de pequenos grupos sociais em detrimento dos antigos moradores. É relativamente recente a preocupação com os efeitos nocivos, causados pelo processo de urbanização crescente, para a estrutura de nossas cidades. A ação predatória, motivada pelos interesses imediatistas, ocasiona problemas muito sérios, que afetam a qualidade de vida e o lazer das populações, contribuindo com a violência e a falta de segurança, inclusive. Fala-se muito, hoje em dia, em entretenimento. Pelo nosso entendimento de lazer, o entretenimento deveria ser um dos componentes do lazer, ligado basicamente aos valores de divertimento. Mas o que se percebe é uma clara alusão ao entretenimento como lazer mercadoria. Não se trata de atividades populares

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