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ANTIGA VILA OPERÁRIA DE JOÃO MONLEVADE/MG: IMPACTOS CAUSADOS PELA FALTA DE ACESSIBILIDADE E NECESSIDADE DE REESTRUTURAÇÃO - ANÁLISE COMPARATIVA AO MODELO DE VOLTA REDONDA/RJ

Por:   •  25/10/2018  •  6.619 Palavras (27 Páginas)  •  671 Visualizações

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O primeiro bairro erigido em uma cidade sempre carrega a história dos que deram origem ao novo município. No caso em questão, João Monlevade foi uma cidade que começou a ser construída em meados do século XX. No ano de1934 a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira promoveu um concurso para a construção da Vila Operária de João Monlevade, hoje denominada como “antiga”. Dentre 13 (treze) propostas apresentadas, os vencedores foram o arquiteto Lucio Costa e o engenheiro Lincoln Contentino. Ambos estavam sintonizados com o que havia de mais atual na época para os grandes centros urbanos, sendo certo que Costa já se arriscava nos primeiros passos do movimento moderno ao adotar o sistema construtivo das cidades-jardins preconizado por Le Corbusier.

Como será demonstrado, a antiga Vila Operária de João Monlevade, hoje bairro Centro Industrial, infelizmente caiu no esquecimento das pessoas e do poder público, necessitando de uma reestruturação urgente e efetiva a ser implantada pelos cidadãos, com apoio da municipalidade.

O padrão de moradores para o qual fora projetada a antiga Vila Operária era de jovens em busca de novas oportunidades de vida e emprego na indústria siderúrgica Belgo Mineira. Entretanto, com o passar dos anos, o espaço mostrou-se inadequado para a dinâmica contemporânea da população residente, pois não acompanhou as mudanças das condições da população residente.

É nítido que a falta de acessibilidade nos espaços urbanos está cada vez mais notória em nossa realidade, principalmente para as pessoas que necessitam dela para se locomover. Segundo dados do IBGE (2015), 24%da população brasileira possui alguma debilidade física; 8,6% tem mais de 60 (sessenta) anos de idade e encontra-se, em sua maior parte, vivendo em cidades cuja inacessibilidade se destaca. O Censo (2010) da cidade de João Monlevade apurou que a antiga Vila Operária é o bairro que mais possui idosos em todo município. Observando-se os espaços urbanos da cidade, como um todo, nota-se que assim como o atual bairro Centro Industrial, todos os demais não estão preparados para atender às necessidades específicas das pessoas da terceira idade e/ou com mobilidade reduzida.

Objetiva-se, assim, mostrar como o bairro em questão deixou de evoluir junto à população da antiga Vila Operária, construída na década de 40 (quarenta), e como o local e suas debilidades afetam na vida dos moradores, que hoje são idosos. Para obtenção de resultados foram utilizadas pesquisas bibliográficas, análises aprofundadas de conceitos, e entrevistas realizadas com os moradores do bairro, fins de compreender seus sentimentos perante a situação atual de absoluto descaso do Poder Público. Realizou-se pesquisas in loco, junto à Prefeitura Municipal, bem como trabalho de campo, para vivenciar a dificuldade que é enfrentada pelos idosos em seu dia a dia. Por fim, a título comparativo fora realizado o estudo minucioso da antiga Vila Operária da cidade de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, cuja história é similar à do bairro Centro Industrial, mas a realidade é bem diferente, para melhor, uma vez que se tornou exemplo de acessibilidade e bem-estar diante das constantes reformas dos espaços urbanos, que acompanharam a evolução das condições físicas dos moradores decorrentes do envelhecimento próprio à natureza humana.

DA ORIGEM DA ANTIGA VILA OPERÁRIA, ATUAL BAIRRO CENTRO INDUSTRIAL DE JOÃO MONLEVADE

A transição do Brasil rural para o urbano iniciou-se com uma série de mudanças políticas e econômicas desencadeadas na primeira metade do século XX, formando a base para o crescimento urbano através dos investimentos para a industrialização do país. Em meados do ano de 1817 o francês Jean Antoine Félix Dissantes de Monlevade chegou ao Brasil para desbravar o campo de estudo na área de mineralogia e geologia. Após visitar o estado de Minas Gerais, Jean de Monlevade notou a extensa área para produção de ferro nas cidades do Médio Piracicaba[1] e, então, construiu sua moradia no atual bairro Centro Industrial, na cidade ainda não fundada de João Monlevade.

O crescimento industrial trouxe significativas mudanças na sociedade, na política e no pensamento relacionado ao urbano. Nesse contexto a indústria passou a ocupar um importante lugar, exercendo influência decisiva na estrutura urbanística, pois a produção industrial estimulou o surgimento e o desenvolvimento de pequenos núcleos urbanos próximos à grande fábrica que estava nascendo. Na década de 30 (trinta) construiu-se a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, que restou definitivamente implanta no ano de 1935. Na sequência o distrito começou sua evolução, recebendo trabalhadores vindos de cidades próximas em busca de uma nova vida. O perfil dos trabalhadores que chegavam ao distrito era jovial, entre 14(quatorze) e 27 (vinte e sete) anos, tendo os mesmos instalado-se ao entorno da usina siderúrgica devido à proximidade do novo emprego e às moradias que seriam futuramente construídas na região.

Já prevendo a chegada volumosa de trabalhadores, antes mesmo da fundação da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, esta promoveu um concurso no ano de 1934 para a realização de um projeto urbanístico para o bairro que seria fundado ao redor da usina. A organização do concurso, segundo Lima (2011), teve como finalidade principal a consolidação e a previsão de ampliação da companhia. Foram apresentados 13 (treze) projetos urbanísticos e, dentre eles, destacaram-se as propostas do Engenheiro Lincoln Continentino[2] e do arquiteto Lúcio Costa[3]. A iniciativa da Belgo-Mineira ao optar por um concurso de urbanização da cidade foi a primeira desencadeada por uma empresa privada que seguiu rigorosamente os princípios do urbanismo moderno.

O projeto realizado se apropriava dos preceitos inseridos na concepção das cidades jardins, método proposto por Le Corbusier para a construção de uma cidade moderna. Era exatamente o que a usina procurava. Além disso, as equipes de Costa e Continentino ousaram anunciar novos conceitos de moradia no partido de uma cidade operária.

O plano de urbanismo eleito para a Vila Operária de João Monlevade

Para a realização do plano urbanístico selecionado foram considerados múltiplos elementos, imprescindíveis para o desenvolvimento de uma cidade industrial moderna, tais como condições de saneamento, serviços de água, esgoto, entre outros. Entretanto, o quesito acessibilidade ainda não era visto como elemento de influência ponderável para a construção do bairro, uma vez que o padrão de moradores era jovem, não necessitando de nenhum cuidado específico de transitabilidade

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