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A PSICOLOGIA E TRABALHO HUMANO

Por:   •  15/6/2018  •  2.237 Palavras (9 Páginas)  •  413 Visualizações

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Na sociedade em que vivemos, sem emprego não somos nada?!... Pior: sobreviver na situação de desemprego dá muuuuito trabalho! Além de preocupar-se permanentemente com o perigo de não entrar ou voltar ao mercado de trabalho (assim como o risco do desemprego é o pesadelo do noite a noite dos que estão empregados). Que contradição! Trata-se, por um lado, de desumanização, quando se impede que um humano exercite esta experiência decisiva para sua própria humanidade. Por outro lado, há que subsistir... e para isso pessoas são submetidas a experiências que destoam das conquistas societárias.

Estamos convivendo também com a tendencial ampliação da “informalidade” (como dizem economistas, sociólogos e juristas). Em outras palavras, o que está sendo imposto, na verdade, é a precarização do trabalho, sua degradação. Se no capitalismo que se instituiu nos países do norte, com a regulação societária fordista, o emprego assalariado formal tornou-se a modalidade de trabalho dominante, a tendência vem sendo o desmonte do que foi sendo estabelecido no pós-Segunda Guerra.

- Trabalhar não necessariamente adoece, mas pode ser sim nocivo...

Outra figura da música popular – Ed Mota – na música Vamos dançar (autoria dele com Rafael Cardoso) nos canta o seguinte:

Eu não nasci pra trabalhoEu não nasci pra sofrer

Já dirigi automóveisJá consumi capitalJá decidi que o dinheiroNão vai pagar,

não vai pagarA minha paz

Vamos dançar lá na ruaVamos dançar pra valerVamos dançar enquanto é tempoNos aplicar a viver

Quando ele nos canta que não nasceu “pra trabalho”, pois não nasceu “pra sofrer”, na verdade ele está se referindo a uma dada forma de trabalhar que se caracteriza como pura exploração, dominação, trabalho nocivo a ser mesmo recusado.

O TRABALHO NÃO É SEMPRE ESCRAVIDÃO, ELE TEM UMA DUPLA FACE:

PODE SER POSITIVO PARA A SAÚDE, PARA VIVER MELHOR

PODE SER NOCIVO, GERAR SOFRIMENTO ADOECEDOR

Vital, constituinte e estruturante, o trabalho tem se revelado na história humana até aqui, como atividade contraditória, paradoxal. Nas sociedades de produção doméstica – como a dos indígenas brasileiros “descobertos”/invadidos pelos europeus –, o que denominamos experiência-trabalho não tinha um único nome. E todas as atividades eram atravessadas pelo sagrado, não visando acumulação de riqueza, evitando-se o caminho da guerra entre classes e o poder de Estado.

Na Grécia antiga para designar o que chamamos hoje de trabalho fazia-se uso de mais de um vocábulo e o chamado trabalho “manual” era menosprezado. Tais distinções persistiram em Roma, com os vocábulos opus, opera e labor.

No ocidente, a condição humana trouxe as marcas da cultura judaica e cristã. No caso da cristandade pode-se verificar um processo que não é unívoco. Considerando o Velho Testamento, por um lado no Gênese pode-se perceber um Deus ativo, trabalhador, que cria o mundo em 6 dias e repousa no sétimo. Por outro, trabalho é castigo, condenação, penitência, meio de expiação do pecado original. Com o desenvolvimento do cristianismo, já na Idade Média percebe-se uma polarização, o trabalho continuou visto como punição, porém servindo à saúde do corpo e da alma, como nos mosteiros medievais (“regras monásticas”): dever-se-ia alternar trabalho manual com oração e limitar-se à satisfação das necessidades básicas da comunidade (evitando a acumulação). É neste contexto da vida monástica que aparece, desde o século VI, a figura de uma fadiga patológica: a preguiça (como pecado: ociosidade, “mãe de todos os vícios”), um relaxamento da alma, que só o trabalho e a oração poderiam erradicar. Algo que no Brasil esteve presente quando da escravidão, não só moralizando como medicalizando, psiquiatrizando a recusa ao trabalho violento e intensivo. Na Europa, trabalhar passa a ser entendido como obrigação (para os pobres), codificado no Direito (Inglaterra: “Estatuto dos Trabalhadores”, 1349). Na Europa, internação dos “vagabundos” no chamado Hospital Geral, deportação para as colônias (como o Brasil), até mesmo a pena de morte (a regra, no Brasil, frente aos indígenas e escravos transplantados da África).

No Renascimento as fronteiras geográficas foram ampliadas pelas navegações, assim como as descobertas científicas ofereceram uma nova percepção do universo: a figura do Homem inverte a figura de Deus, emergindo uma cultura “humanista”: o trabalho (inclusive o dito “manual”) passou a ser visto como expressão da força do homem: cria-se a expressão “artes mecânicas”, ao lado das “artes liberais”. Ao mesmo tempo, uma nova significação religiosa se acopla a esta lógica, no interior da Reforma Protestante[2]: uma nova moral do trabalho se constituiu, entendendo-se que a rigorosa dedicação profissional tinha um fim em si (permitindo manifestar no cotidiano o amor de Deus), dignificando o homem. No entendimento de diversos pesquisadores (como Max Weber) foi esta cultura que representou o “espírito do capitalismo” (ascetismo burguês puritano, cujo enriquecimento aparece como sinal de sua boa conduta no mundo, de sua predestinação) e deu base para a emergência do modo de produção capitalista. Enfim, a positividade do trabalho vem à cena.

OU TRABALHO É CASTIGO PELO PECADO CAPITAL... MAS PODE TORNAR-SE ÚTIL. OU TRABALHAR É EXPRESSÃO DA FORÇA DO HOMEM E O DIGNIFICA NO EXERCÍCIO DE UMA PROFISSÃO PARA A QUAL TENHA VOCAÇÃO. OU...

Retomando o que dissemos, encontra-se em muitos textos uma visão estreita desta história. Diz-se que a palavra trabalho, em latim, tem a mesma base da palavra tortura: TRIPALIUM. Trata-se um instrumento de três pontas, usado na agricultura e na veterinária, seja para ferrar ou tratar um animal de maior porte, seja para ajudar em tratamentos de humanos e partos difíceis. Ok, também usado para o castigo, a tortura. Enfim, esta última foi uma das possíveis utilizações desta ferramenta. Ela foi usada também para partos difíceis, impossíveis mesmo, caso não se usasse o tripalium... Assim como se poderia perguntar: no Paraíso, ao cuidar de si e da mãe terra, Adão e Eva já não trabalhavam?

Só a partir de um determinado momento histórico se configurou um quadro em que um único vocábulo passou a designar um complexo e amplo conjunto de atividades.

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