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SOBRE OS INVERTIDOS – SIGMUND FREUD

Por:   •  7/12/2018  •  2.286 Palavras (10 Páginas)  •  349 Visualizações

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esse vazio agora instalado, mas jamais conseguindo tal façanha. Vale constatar que

em algumas versões desse mito, tais seres humanos não possuíam como via de regra uma

cabeça masculina e uma feminina, mas tendo variações como um corpo com duas cabeças

masculinas ou duas cabeças femininas. Tal constatação em muito faz sentido ao lembramo-

nos que a atração por pessoas do mesmo sexo era algo comum na Grécia antiga, e não visto

como anormal em diversas outras civilizações antigas, portanto a procura pelo mesmo sexo

não seria anormal.

A hipótese trazida por Aristófanes é muito interessante por apresentar um motivo para

a busca incessante que temos pela realização de nossos desejos, sendo o desejo de se tornar

completo, de preencher nosso vazio e assim não mais desejar, se tornando pleno, como o

1 FREUD, Sigmund. Obras psicológicas de Sigmund Freud: Um caso de Histeria, Três ensaios sobre

sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Vol. VII, Imago, 1996. p. 152.

maior deles. Além de também mostrar como o desejo pelo mesmo sexo pode ser visto como

algo de natureza normal, e não patológico como muitos acreditavam e ainda acreditam.

No final do século XIX, a sexologia se tornara uma nova ciência, empenhada em um

trabalho positivista de classificação dos “tipos” de sexualidade e seus comportamentos. Na

época, toda patologia que não possuía sua origem provinda de fontes infecciosas ou

traumáticas era rapidamente enquadrada na esfera da degeneração. Classificando assim os

invertidos como doentes degenerados. Tal estreitamento de visão é discordada por Freud que

diz que o termo “degeneração” teria sido usado de forma indiscriminada, fugindo de sua real

conceituação, e que não vê como os invertidos podem ser enquadrados em tal aspecto, sendo

que o uso de degeneração deveria ser empregado apenas quando, (1) Houver uma conjugação

de muitos desvios graves em relação a norma; (2) A capacidade de funcionamento e

sobrevivência parecer em geral gravemente prejudicada. (FREUD, Vol. VII, Cap. 1, p. 131,

1996) 2

Estabelecendo tais condições, Freud então discorre o porquê de os invertidos não se

encaixarem em tais definições sendo elas:

(1) encontra-se a inversão em pessoas que não exibem nenhum outro

desvio grave da norma. (2) do mesmo modo encontramo-la em

pessoas cuja eficiência não está prejudicada e que inclusive se

destacam por um desenvolvimento intelectual e uma cultura ética

particularmente elevada. (FREUD, Vol. VII, Cap. 1, p. 131, 1996) 3

Classificar os invertidos como portadores de algum aspecto degenerativo que não seja

os de cunho “social” empregado pelos valores e crenças religiosas do final do século XIX não

faz o menor sentido se formos olhar a questão de forma analítica e crítica. Afinal a atração

por pessoas do mesmo sexo é datada desde os primórdios da humanidade, encontrando

relatos históricos em praticamente todas as antigas civilizações. Mas aparentemente o cunho

degenerativo era/é empregado apenas as civilizações modernas, fazendo com quem o uso do

termo “degeneração” não seja apropriado para se referir conceitualmente aos invertidos, que

não apresentam nenhum aspecto degenerativo por sua escolha (desviante) de objeto sexual.

2 FREUD, Sigmund. Obras psicológicas de Sigmund Freud: Três ensaios sobre a sexualidade. Vol. VII,

Imago, 1996. p.131.

3 FREUD, Sigmund. Obras psicológicas de Sigmund Freud: Três ensaios sobre a sexualidade. Vol. VII,

Imago, 1996. p.131.

Karl Heinrich Ulrichs foi um dos pioneiros na luta pelos direitos dos invertidos, além

de ter lutado a favor da revogação das leis anti-sodomitas, que eram leis ríspidas que puniam

os comportamentos sexuais desviantes da norma da época. Em sua luta, fundou o culto ao

“Uranismo” onde dizia que seus membros, sendo todos invertidos, eram pessoas comuns,

normais, uma variação da espécie humana que possuía sua particularidade de gozo, esse gozo

que é inerente a moral ou a prática ética dos ditos bons costumes da época. Karl Heinrich

Ulrichs aproveitava seu discurso para versar a diferença, não tão visível as massas, entre os

invertidos e os pederastas e os devassos em uma tentativa de descriminalizar os atos dos ditos

invertidos, visto que os mesmos eram taxados de loucos degenerados e facilmente acusados

de atos públicos impróprios, crimes de vergonha contra os bons costumes e as pessoas de

“bem”.

Freud contribuiu imensamente para um olhar crítico quanto a questão dos invertidos,

ao levantar reflexões que tiram a patologia de sua essência, trazendo ao pensamento o tópico

de um desvio do objeto sexual, uma variação das várias variações possíveis. Mas não posso

deixar de achar intrigante e pensar

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