EROS E CIVILIZAÇÃO É A INTERPRETAÇÃO DE FREUD ACERCA DA CIVILIZAÇÃO
Por: Hugo.bassi • 17/11/2017 • 1.579 Palavras (7 Páginas) • 446 Visualizações
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Para atingirmos uma sociedade não-repressiva, devemos derrubar esses conteúdos repressivos, substituir o princípio de realidade e “libertar o Eros”. Isso significa tornar o princípio de prazer dominante e que a liberação libidinal é a passagem para uma civilização sem mais-repressão. A libertação do Eros é possível através da dimensão estética.
Nas modernas sociedades, a estética é vista como ineficiente e como um passatempo. Tal visão sobre a estética é resultado de uma repressão cultural que visa manter a dominação do princípio de desempenho. Para suprimirmos tal princípio, é necessário resgatar a dimensão política e revolucionária da estética. Marcuse pretende resgatar o conceito de estética, de forma que a sua existência possa sustentar o conceito de uma sociedade emancipada.
Kant apresenta uma divisão entre o domínio da natureza e domínio da moralidade. O princípio é analisado na Crítica da Razão pura, em que é demonstrado que os juízos sintéticos a priori só produzem conhecimento quando sintetizam os dados da sensibilidade com as categorias do entendimento. Nesse sentido, a sensibilidade é vista como inferior em relação ao entendimento, apesar de não haver conhecimento sem ela.
Na Crítica da Razão Prática, é analisado o domínio da moralidade sob o ponto de vista da liberdade. Uma ação só é moral quando for livre, e não movida por determinações biológicas ou físicas. Nesse caso, a sensibilidade não importa, já que liberdade significa agir com independência em relação a ela.
Porém, Kant criou uma separação muito radical entre essas duas esferas, visto que o homem pertence as duas simultaneamente. Era necessário então o surgimento de uma mediação, que vai ser introduzida como dimensão estética na Crítica da Faculdade de Julgar. Além disso, Kant também recuperou a importância da imaginação como intermediária entre as faculdades cognitivas e práticas.
Ele define o belo como o objeto de uma satisfação desinteressada, pois caso contrário, não seria possível ter uma objetividade estética, já que os interesses são pessoais e por isso não podem ser generalizados. Ao ignorar os desejos particulares, os homens poderão então obter uma satisfação que se deve somente à beleza do objeto estético. Tal satisfação é resultado de uma harmonia entre a imaginação e o entendimento, e que deve ser válida universalmente.
A dimensão estética efetiva uma reconciliação erótica do homem com a natureza, desprezando toda a repressão desnecessária e colocando os homens no caminho da liberdade.
Marcuse se interessa por uma teoria de Schiller, pois ela visa a reconstrução da civilização a partir da força libertadora da função estética. Schiller acreditava que tal função poderá desempenhar um papel decisivo na reformulação da civilização.
A dimensão estética apresenta diversos obstáculos para o sistema dominante, uma vez que a estética busca uma liberdade que não interessa esse sistema. Essa liberdade significa se emancipar de uma “lógica de repressão”, que visa manter um sistema de dominação baseado em alta produtividade e alto consumo. A liberdade estética, por sua vez, é regida por uma “lógica de gratificação”, que visa a felicidade.
Schiller diz que a civilização moderna estabelece um conflito entre duas dimensões polares da existência humana: o impulso sensual e o impulso formal, submetendo o impulso sensual ao formal. Deve-se então buscar uma forma de reconciliar esses dois impulsos, coisa que só pode ser efetivada pelo impulso lúdico.
O impulso lúdico sugere que a liberdade surge quando a realidade perde sua seriedade, onde “seriedade” significa “estruturas repressivas rígidas”, que não permitem ao ser humano mostrar todas as suas potencialidades (brilhar). A realidade só perde essa seriedade quando deixa de ser uma realidade de carência e necessidade. Outra vantagem do impulso lúdico é que ele consegue reconciliar o homem e a natureza, o que acabaria com dominados e dominadores, pois o homem se sentiria na natureza como em seu lar e dessa forma não buscaria dominá-la.
Marcuse acredita que a educação estética schilleriana seria o caminho para uma sociedade não-repressiva, em que o Eros e o princípio de prazer estejam liberados. Ele resume os resultados de Schiller em 3 pontos: a transformação do esforço laborioso em atividade lúdica, e da produtividade repressiva em exibição das potencialidades humanas, coisas que devem ser antecedidas pela conquista da carência. Isso significa que uma sociedade não-repressiva só pode surgir de uma sociedade tecnológica-industrial moderna, uma vez que só essa sociedade chegou a um nível de produção que permite ao homem se libertar das carências, necessidades e trabalho alienado; a auto-sublimação do impulso sensual e a des-sublimação do impulso formal, a fim de reconciliá-los. A razão passa pela supressão do processo de sublimação repressiva, o que transforma o trabalho em uma obrigação sem nenhuma relação com o prazer. Para que tal obrigação seja executada, a satisfação libidinal é adiada para um futuro incerto. Com a libertação do Eros, essa sublimação
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