Resenha do livro: O Fio das Palavras
Por: Carolina234 • 2/11/2017 • 2.122 Palavras (9 Páginas) • 3.448 Visualizações
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A psicoterapia existencial pretende compreender os fenômenos humanos, podendo oferecer ao seu cliente a possibilidade de recriar a realidade e de uma forma sutil, desligar-se do que sempre se formou como essência, para haver a volta à procura; e nesse retorno João pode até reencontrar o sofrimento, mas agora de forma autêntica, e o terapeuta junto com ele vai construindo a trajetória rumo ao âmbito de cura. Essa experiência de relacionamento humano, o pro-curar junto com o outro, não se reduz a "solucionar um problema" ou a "eliminar um sintoma". Pretende ser uma experiência imaginada, evidenciando a imensa capacidade humana de reinventar o mundo.
A cada encontro João traz novos relatos de sua vida ao terapeuta e ele vai puxando o fio da conversa sem nunca deixa o assunto terminar, as palavras de João nesses relatos não terminam e ele sempre leva para a sessão algo novo e nova descoberta para que junto ao seu terapeuta possam descobrir de onde vieram todos esses sentimentos que mexem e revela tanto para João. A tarefa do terapeuta é confiar em seu cliente, escutando-o e ajudando-o a encontrar os significados em sua própria vida.
No sonho poderia ter sido feita por parte do terapeuta, dentro dos padrões teóricos uma intervenção para oferecer um caminho ou significado, mas, enfim. João termina por assemelhar esse sonho ao ódio que sente pela avó, relata que ela não lhe dava carinho, e quando dava, logo o retira. A lembrança deste sonho veio em um momento no qual era falado por ele do sentimento em relação as mulheres o que coloca à mostra desejos proibidos. É observado pelo terapeuta a inquietude de João, que cobra um parecer cientifico, ou seja, o suposto saber do profissional. Ao termino de sua fala as imagens desaparecem, porém no silêncio que se sucede as lembranças voltam a sua mente como os mesmos tópicos. A mulher, o acolhimento e a morte. O significado é parte de uma história individual e trouxe em seu enredo o amor e o ódio, uma mistura de realidade e fantasia. A confusão se instala na mente de João diante das possibilidades que ele mesmo traz como explicação para aquela experiência. Mesmo tentado a dizer algo ao seu cliente, o terapeuta permite que prossiga em seu relato. Com essas fortes lembranças inevitavelmente vem o choro e a sensação de dúvida; afinal, ele gosta ou não da sua avó? Porém sentimentos de carinho, ternura, mágoa, indiferença, raiva e condescendência vão aparecendo na forma que ele compõe o cenário da relação entre neto e avó.
E esse é o momento de uma possível observação e reiteração do papel do terapeuta como testemunha. Pois se antes sua função era lembrar o conflito agora, ele compartilha da reconciliação. Se antes podia ser confundido com o papel de juiz, agora se torna amigo com o objetivo claro de trazer o seu cliente para o presente, para o aqui-e-agora onde a verdade se desvela. Entretanto a uma distância que se faz necessária. Continua acompanhando as recordações do seu cliente, que certamente voltarão a aparecer, no entanto sob outros focos, no processo de consolidar o resgate que está sendo feito.
O terapeuta busca a libertar seu cliente, sem, no entanto, confundi-lo, pois não cabe a ele a previsão de ações do cliente. A arte da psicoterapia é a intimidade que o profissional com sua experiência vai adquirindo no seu compartilhar com o ser humano.
Ele percebe que a palavra “pai”, faz referência que conceitua o homem, e que lhe falta que possa significar família, que era considerado um vazio para sua vida. Então o terapeuta questiona essa relação, João reflete, e essa intervenção proporciona um novo significado para ele. É percebido sinais de melhoras nas seções que se seguem, e o problema que trouxe João ao consultório se mostra resolvido, porque percebe-se que ele mostra ter reencontrado a expressão do seu modo de sentir de forma libertadora e não mais sintomatizada.
Psicopatologia e Cura
A psicopatologia é um conjunto de descrições de sintomas, estados patológicos da mente, tornando possível, a quem lhe domina o edifício teórico, distinguir entre as diversas “doenças mentais”. Um paciente com depressão, por exemplo, ao tomar algum medicamento passa a ter maior motivação para a ação, voltando às atividades produtivas que praticava antes, relatando melhoras em seu estado subjetivo. Porém, em alguns casos, como na depressão reativa, o uso destas drogas antidepressivas pode desmotivar o cliente a continuar a psicoterapia, devido ao seu bem-estar que a ação medicamentosa proporciona. E isto não é bom. Pois a droga deixa o corpo sob o efeito que estas substâncias exercem no cérebro. No entanto, somente a psicoterapia pode abrir um leque de possibilidades facilitadoras que pode levar o ser humano à compreensão e melhor aceitação de sua existência.
Referenciado pelos padrões de sua cultura, João sabe que não é “louco”, mas se percebe como um indivíduo “problemático”. O próprio ambiente cultural fornecerá as possíveis explicações para esse vago mal-estar, que o paciente mesmo designa como neurose”. (CANCELLO, 1991, p.59).
Sexualidade e Cura
João certamente não é tão problemático que justifique um tratado de psicopatologia. Mas é problemático o suficiente para especular a causa de seus males. (CANCELLO, 1991, p. 61).
É possível perceber o quanto as subjetividades se constituem e se expressam, em um espaço repleto de paradoxos. Por um lado, à negação do outro, através de uma afirmação de autossuficiência e exaltação de si; por outro, o sofrimento e a dor gerados pelo esvaziamento das relações, em um palco onde se exaltam as exterioridades e os papéis multifacetados. João trouxe para a sessão algumas indagações acerca da importância da sexualidade como causa dos distúrbios afetivos, apesar de ter relações satisfatórias com a namorada acreditava haver algum problema sexual que estava sendo negligenciado na terapia. O terapeuta diz que os distúrbios sexuais estão extremamente vinculados a problemas afetivos e culturais. Em muitas culturas a cerimônia entre homem e mulher imita um arquétipo divino, o que nos difere de uma relação profana como a de um homem que procura uma prostituta para aliviar a tensão, uma função biológica apenas.
Para algumas escolas de psicoterapia, a sexualidade é compreendida como “energia psíquica” diferente do sexo em si. A psicoterapia existencial não pretende ter um direcionamento que sirva de uma prévia orientação para esses leitores, almeja devolver ao cliente a tarefa de traçar seus próprios seus próprios enlaces e caminhos.
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