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OS TÓPICOS ESPECIAIS EM PSICOLOGIA II

Por:   •  25/12/2018  •  2.082 Palavras (9 Páginas)  •  461 Visualizações

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3 TRABALHO ADOLESCENTE E INTERAÇÃO FAMILIAR

Fishman (1998) ressalta que a família e o trabalho tendem a serem as forças que mais influenciam a manutenção da identidade da pessoa por oferecerem sustento econômico, identidade pessoal e contexto social. Além disso, as atitudes no trabalho tornam-se enraizadas e são levadas para a vida doméstica, cada ambiente induz padrões estruturais semelhantes em outros ambientes e tanto o trabalho, quanto a vida em família influenciam um ao outro. O que acontece no local de trabalho pode ser uma consequência ou antecedente do que ocorre na família.

Campos e Francischini (2003) comentam que a mudança de status do adolescente na família, a partir da experiência de trabalho do jovem, não ocorre apenas como resultado de sua ascensão financeira, mas também por um deslocamento de função da figura paterna. Assinalam que as mudanças no interior das famílias, provocadas pela entrada precoce dos adolescentes no mundo do trabalho, representam, para eles, uma inserção artificial na vida adulta. Nessas condições, a independência financeira pode ser experimentada como independência emocional e social por um indivíduo que, na verdade, ainda está se descobrindo, está em plena construção da identidade, que ainda precisaria de limites e de orientação e que, efetivamente, ainda não viveu o suficiente para ter maturidade física, cognitiva, emocional ou social para o exercício das funções por ele assumidas.

Nesse sentido, Calil (1987) aponta que a adolescência de um ou mais membros da família, por si só, já desequilibra o sistema familiar. Nessa fase de desenvolvimento, a família terá que modificar o que é e o que não é permitido em relação ao adolescente. Se, no entanto, a tolerância do sistema familiar às mudanças é muito limitada, pode-se impor ao adolescente mais lealdade para com a família, acarretando-lhe, inclusive, sentimentos de culpa graças à tentativa de manter inalterados os usuais padrões de interação. Além disso, é importante levarmos em consideração que o sistema familiar é um sistema dentro de outro sistema, na medida em que é o primeiro lugar de socialização do indivíduo, sem por isso ficar isento das influências contraditórias dos sistemas sociais mais amplos (Segond, 1992).

Em um estudo sobre a avaliação das redes sociais de adolescentes em situação de risco, Pereira e Sudbrack (2003) comentam que além do trabalho ser um modo de sustento individual e familiar para jovens, à inserção precoce no mundo do trabalho constitui uma forma de atingir a independência financeira necessária para manter a autoestima e o respeito da comunidade, uma possibilidade de maior autonomia perante os familiares e uma forma de manter a mente e o corpo ocupados. É importante destacar que compreendemos como redes sociais o conjunto de relações interpessoais concretas que vinculam indivíduos a outros indivíduos, sendo que, o que vai determinar a qualidade das relações sociais e afetivas do indivíduo com os pontos de sua rede (família, escola, amigos, trabalho, dentre outros) é o equilíbrio dessas interações (Duarte, 2006).

4 AS CONTRIBUIÇÕES DA ABORDAGEM CENTRATADA NA PESSOA PARA A RESSOCIALIZAÇÃO DO MENOR EM CONFLITO COM A LEI

A psicologia humanista se mostra como uma grande aliada para a melhora do sistema sócio educativo. Pois os seus princípios têm como objetivo principal proporcionar a estimulação do potencial humano, uma vez que o responsável pelo crescimento psicológico de um ser pessoa só poderá ser ela mesma, através da tendência atualizante, que se trata de um recurso inato e presente em todas as pessoas ao longo de seu desenvolvimento.

Essa tendência traz a possibilidade do ser humano de se compreender e de construir a sua personalidade, se baseando nas suas próprias vivências em um progressivo processo de atribuição de significados. Desta forma “o adolescente com histórico infracional, será estimulado a apreender novas maneiras de comportamentos sobre ele mesmo e sobre o mundo, desenvolvendo novas maneiras de se relacionar e beneficiando-se das situações de aprendizagem ofertadas pelo ambiente, e não apenas aprender através de métodos coercitivos aquilo que não deve fazer.” (ROCHA, 2009. p.195-208).

Para Rogers, a personalidade é um processo de construção em progressiva mutação. Assim, uma personalidade saudável “é aquela que pode confiar em sua própria experiência e aceitar o fato de que as outras pessoas são diferentes. (BUBER, 1982, p.3)” Apesar de existir uma tendência inata para a autorrealização, os sujeitos estão sob influência do ambiente social.

Em concordância com o fundador da psicologia humanista, Bachelard (1972), enfatiza que os adolescentes em conflito com a lei tentam encontrar no crime a resposta para superar a sua realidade de exclusão social. Dentro dessa perspectiva, o atendimento psicológico do psicoterapeuta da abordagem humanista consistirá na significação, compreensão e desdobramento de sentidos que o indivíduo experiência em certo momento da vida, por meio da escuta empática.

Quando as pessoas agem livremente, estão abertas para experimentar e realizar a nossa natureza básica como animais sociais positivos. Entretanto, em alguns casos as pessoas podem se comportar de maneira irracional, antissocial, destruindo o próprio self e o self dos outros. Desta forma, estão sendo neuróticos e não agindo como seres humanos plenamente desenvolvidos. (BUBER, 1982, p.3)

De acordo com estudos de Bachelard (1972), histórico de crianças e adolescentes em práticas violentas está presente na história do Brasil desde o século XIX. Conforme expõe o autor esse fenômeno é explicado em duas perspectivas. A primeira tem relação com tendências instintivas. A segunda defende que ao contrário disso, o comportamento que um ser humano adquire sofre influência do meio a qual ele pertence.

Para Rogers, o comportamento que uma pessoa exerce é oriundo do seu self, que nada mais é do que o auto-conceito que ela tem de si mesma, sendo esse influenciado por experiências de seu passado e estímulos de seu presente. No trabalho cotidiano do psicólogo junto às medidas socioeducativas, não há espaço para uma escuta profunda, como ocorre na clínica tradicional, mas, no curto espaço de tempo em que ele atua, é provável que deste encontro surja uma chance do adolescente sentir-se como verdadeiro sujeito de direitos. Pois, talvez na primeira vez em sua vida, ele se depare com uma proposta de intervenção que ressalte a existência de um adolescente, para além do delinquente. Possibilitando que este além de ser

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