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O NÍVEL INDIVIDUAL DA CORRUPÇÃO

Por:   •  3/12/2018  •  1.765 Palavras (8 Páginas)  •  324 Visualizações

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A corrupção aparece como um construto social relativo, de acordo com as particularidades de cada cultura, variando no tempo e no espaço. Popularmente, ouve-se que o Brasil é corrupto e tem o seu próprio “jeitinho brasileiro”. Esse jeitinho, como definido por Roberto Damata (1996) é um modo de satisfazer nossas vontades e desejos mesmo que vá de encontro com o bom senso e a coletividade em geral. Entretanto, seria um equívoco associar o brasileiro apenas a atos corruptos, visto que esse “jeitinho” também se encontra interligado com o modo de resiliência diante das adversidades como fome e falta de recursos. Apresentando também um espírito de “coletividade”, onde ocorre a união pelas causas sociais.

A identidade brasileira encontre-se em formação, por conta das condições de infraestrutura, que implica em um ego cultural fragilizado, em processo de desenvolvimento.

Atualmente o conceito utilizado para se referir a fenômenos sociais é o de complexo cultural, que se refere a

[...] um agregado emocionalmente carregado de memórias históricas, emoções, ideias, imagens e comportamentos que tendem a se agrupar em torno de um núcleo arquetípico que vive na psique de um grupo e é compartilhado por indivíduos dentro de um coletivo identificado. (SINGER, 2012, p. 5). ´

Os motivos da corrupção da nossa cultura podem estar relacionados aos complexos culturais, Yung ressaltou que um complexo tem como origem um trauma, então, outra causa da corrupção pode estar nos traumas coletivos sobre os brasileiros. Tais traumas, estão principalmente subdivido em quatro marcos históricos: colonização, escravidão, ditaturas, opressão da pobreza. Isso emplacou em um complexo de inferioridade vivenciada pelos brasileiros diante de outros países, considerados “desenvolvidos”. Temos também uma falsa ideologia de democracia racial, onde a própria miscigenação é alvo de estigma dos próprios brasileiros, que resulta em um complexo racial com o preconceito mascarado e encoberto. Como por exemplo, ainda é presente na sociedade um resquício dos tempos da escravidão, através da mão de obra barata e desqualificada, contando com outras significantes desigualdades sociais. Por outro lado, há pontos positivos a serem destacados: simplicidade, resistência, forte instinto de sobrevivência, união, hospitalidade, alegria.

A malandragem brasileira é uma expressão cultural local típica do arquétipo universal do trickster. Seria o personagem adquirido na cultura, caracterizado por “malandro”, “trapaceiro”, “palhaço” e “pregador de peças”. Remete a ideia de agir sem consequências, de maneira inconsciente. Podemos trazer como uma explicação desse fenômeno, o tipo psicológico brasileiro – uma generalização necessária aqui, onde ele é visto predominantemente como sentimento extrovertido. O brasileiro é cordial, possui emoção envolvida nas suas relações, tais como a generosidade, demonstrando hospitalidade e afabilidade. Contudo, não gosta de seguir regras, conseguindo ser extremamente frio, fechando os olhos para as desigualdades sociais que acontecem diariamente no país.

De acordo com o explicitado acima, as consequências da corrupção no nível cultural resultam em características de passividade no brasileiro, onde o mesmo encontra-se imobilizado para buscar o bem comum. Preso diante de uma cultura que provoca uma dispersão na luta pela nação.

4. NÍVEL COLETIVO DA CORRUPÇÃO

A corrupção pode ser vista como algo inerente aos humanos, visto que a mesma pode ser observada diante da história em vários contextos, em diferentes civilizações. Partindo desse pressuposto, podemos afirmar que a corrução política está ligada a corrupção da própria natureza humana. Nesse nível, as características coletivas da corrupção apontam para tendências arquetípicas.

Para yung o mal e o bem são atemporais, e por não se tratar de algo mensurável, gera também uma certa ambiguidade quanto ao seu significado, dependendo da compreensão de cada povo. Apesar dessa ressalva, ele também os concebe nas suas raízes ontológicas, como aspectos de Deus e que contêm um caráter numinoso. O bem e o mal aparecem como maiores do que um único ser humano. A corrupção é uma expressão do mal que está presente na existência humana. Portanto, quando o sujeito aponta a corrupção em partidos, na verdade, está apontando também para dentro de si. Para compreender a corrupção podemos utilizar a teoria dos opostos de Jung, focando os opostos em integridade e consciência moral. John Beebe (1992) deu à integridade um status maior dentro da psicologia analítica, colocando-a como objetivo moral a ser alcançado pelo indivíduo, de maneira semelhante ao processo de individuação. A integridade é um movimento em direção à totalidade moral, envolvendo aspectos como a responsabilidade, perfeição, honestidade, harmonia, castidade, obediência, prudência, santidade. Contudo, na corrupção, a maioria desses aspectos citados são encontrados em sua caracterização oposta a irresponsabilidade, vergonha, ruptura, desonestidade, violação, impureza e maldade.

A integridade, segundo Tony Dungy (2011), é o que você faz quando ninguém está olhando. É fazer o certo mesmo que isso custe em desvantagem para você. Isso leva ao contrário da corrupção, pois não se leva em conta o que é conveniente unicamente para si. A corrupção pode ser entendida como a deterioração da integridade.

A consciência moral é descrita por Yung como fator psíquico autônomo. Segundo Murray Stein:

"É uma função autônoma da psique e provavelmente é fortemente relacionada com a função inata da consciência de fazer descriminações sobre a realidade" (1995, p. 23). Envolvendo o aspecto religioso, a consciência moral seria a “voz de Deus”.

5. CONCLUSÃO

Após fazer uma passagem entre o nível individual, cultural e, por fim, coletivo, podemos concluir que, no individual, a corrupção é caracterizada principalmente por uma tendência arquetípica do ego que desconsidera as regras sociais em prol dos próprios interesses, atrelado ao individualismo. Aqui, o corrupto utiliza personas diferentes para agir conforme o que é esperado.

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