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Movimentos de Massa e Fascismo: Die Welle e a Terceira Onda.

Por:   •  20/8/2018  •  2.600 Palavras (11 Páginas)  •  361 Visualizações

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Na história recente da humanidade, temos grandes apontamentos de mobilizações de massa que transformaram alguma realidade, de forma positiva ou negativa. As ideologias de massas, como o Nazismo – abraçadas pela população e defendidas. Em 1933, Reich anunciava:

As massas não foram iludidas, elas não se enganaram e não foi por desconhecimento que aceitaram o fascismo. Tampouco a expansão do fascismo vem por conta de uma política ou um projeto econômico estatal falido: naquele momento e naquelas circunstâncias, as massas desejaram o fascismo. E o desejaram e apoiaram porque o nazi-fascismo apresentou-se sob uma forma que reproduzia a moral repressora da família patriarcal, autoritária e nacional, presente na base da estrutura psicológica que organiza a classe média e o proletariado alemão (Barros e Josephson, 2013 apud Reich, 1933).

Da mesma forma, a população, em algum momento, desejou mudanças positivas, como a queda do muro de Berlim, como políticas ambientalistas mais eficazes e até mesmo direitos humanos. Muitos autores aceitam a existência de manifestações das dimensões individuais dentro das dinâmicas do grupo, mas essa noção é algo que circula de diferentes formas pelos teóricos.

Le Bom, por exemplo, defendia que os indivíduos perdem a identidade quando estão em grupo e assim, o autocontrole. São movidos por emoções e instintos e agem por uma força primitiva, o "inconsciente racial". Outros pesquisadores afirmaram que coletivos teriam uma consciência mental independente. O psicólogo britânico William McDougall, que formulou, no início do século XX, a chamada hipótese da mentalidade de grupo, considerava que todos aqueles que se juntam a uma multidão abrem mão de sua identidade em favor de uma "alma coletiva". As teorias de Le Bon e McDougall foram posteriormente alvo de ceticismo: em especial, a ideia da massa com sua própria percepção mental foi considerada por demais metafísica. Mas a noção de perda de identidade do indivíduo sobrevive. Na década de 70, após o trabalho de Zimbardo, a ideia foi desenvolvida e aprimorada pelos estudos dos chamados grupos mínimos. Nessas experiências, os participantes eram aleatoriamente agrupados de acordo com critérios triviais, como preferências no modo de vestir. Apesar de a divisão ser arbitrária, na maioria dos casos isso criou forte sentimento de ligação ao grupo, assim como comportamentos condizentes com esse sentimento. (Simon, 2005).

A Psicologia Social já se preocupou mais com a questão, especialmente em períodos conturbados, em que ideologias como o Fascismo influenciaram povos inteiros e os levaram a cometer ou concordar silenciosamente com humilhações e desumanização, levando a atrocidades e genocídios (Jesus, 2013 apud Reich, 2001). Nasciutti (2011) diz que as relações que os homens estabelecem entre si estão articuladas com as práticas sociais e com o modo de vida no mundo atual. Desta maneira, o contexto social do homem constrói sistemas apoiados na cultura e na história de nossa sociedade.

Um movimento de massas é capaz de gerar qualquer coisa: todas as nossas experiências revolucionárias partem de encontros entre muitos, de entendimento das necessidades de mudanças. Das transformações e das colisões que os encontros provocam. Nesse sentido, elas têm uma força que pode ser a força mais perigosa que a humanidade conhece: quando utilizada para um bem que não é o bem comum e coletivo, quando é produtor ou reforçadora de desigualdades, a massa causa revolução perversa e corrobora para criação de sistemas fascistas e autocráticos.

- As teorias que perpassam Die Welle

Farias, Ferreira e Silvares (2003) apontam que a construção da identidade pessoal é considerada a tarefa mais importante da adolescência, o passo crucial da transformação do adolescente em adulto produtivo e maduro e quanto menos desenvolvida está a identidade, mais o indivíduo necessita o apoio de opiniões externas para avaliar-se e compreende menos as pessoas como distintas.

Die Welle se passa em uma escola de ensino médio, com estudantes de classe média que vivenciam um experimento social por alguns dias, a fim de descobrir se é possível que uma sociedade fascista se estabeleça (na Alemanha) após a Segunda Guerra. E é neste contexto que a subjetivação capitalística produz grupos de minorias excluídas, sendo as gangues um espaço representativo dessa subjetivação (Nasciutti, 2011). Podemos observar no filme alguns exemplos de minorias que se “empoderam” a partir do experimento da Onda. O aluno Tim é um deles, um adolescente inseguro e solitário que muda completamente suas atitudes com o novo grupo.

Para Kleba e Wendausen (2009), no processo de empoderamento há duas faces, interdependentes, de uma mesma moeda: a dimensão psicológica e a dimensão política. A primeira é aquela que consiste no processo de tomada de consciência da força individual, das potencialidades e a segunda face é aquela onde os indivíduos e grupos tomam pra si a responsabilidade por coordenar e decidir estratégias do poder politico social. Talvez isso se dê porque a vivência dentro de um grupo de gangue cria várias possibilidades de subjetivação para cada sujeito que a experiência. Pensar a gangue como espaço social de subjetivação requer compreender a complexidade que envolve o fenômeno, pois este é concomitantemente histórico, cultural, social, individual, coletivo e emocional (Nasciutti, 2011).

Lima (2006) aponta que embora o filme seja uma metáfora de como surgiu o nazi-fascismo e o poder de seus rituais, pode conscientizar os estudantes sobre o poder doutrinário dos movimentos ideológicos políticos ou religiosos. O uso de slogans, palavras de ordem e a adoração a um suposto “grande líder” se repetem na história da humanidade: aconteceu na Alemanha nazista, na Itália fascista, e também no chamado ‘socialismo real’ da União Soviética, principalmente no período Stalinista, na China com a “revolução cultural” promovida por Mao Tsé Tung, na Argentina com Perón, etc. Ainda, recentemente, líderes neo-populistas da América Latina, valendo-se de um discurso antiamericano, conseguem enganar uma parte da esquerda resistente a aprender com a história.

- Fascismo nas massas no Brasil Contemporâneo

Em 2008, vivemos a maior crise do capitalismo desde a Grande Depressão de 1929. Certamente, uma crise com essas proporções rearranjaria toda a estrutura da sociedade, todas as noções estabelecidas de representatividade e organização social. Em 2012, nosso país viveu mais de 800 greves, muitas das Universidades Federais atravessaram

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