Construindo pontes para o projeto de vida: relato de experiência em Psicologia Escolar

...

Pode-se dizer que a adolescência é um conceito histórico que adquire distintas conotações de acordo com o momento e a sociedade que se relaciona (Áries, 1981).De acordo com Erikson (1992), a adolescência pode ser caracterizada também, numa perspectiva desenvolvimental, como um período marcado por tentativas de resolver e integrar os sentimentos e as crises das etapas anteriores, ou seja, da infância.Para “este autor, os jovens, no geral, buscam “um novo sentimento de continuidade e igualdade consigo mesmo” (1992, p. 110).

A adolescência pode ser vista como um momento da vida em que o jovem sente a necessidade de uma inserção social mais ampla, simplesmente pelo fato de ser o tempo todo compelido interna e externamente a ampliar seu contexto social. Neste sentido, Tardeli (2010) destaca a relevância de conceber o adolescente “como um ser ativo e participativo, capaz de atuar no mundo profissional, projetar-se na construção do seu futuro e da sociedade em si, valorizando os laços afetivos e sua preocupação com o outro” (p. 61).Decorre dessa concepção de adolescente, a importância da implicação do mesmo na construção de seu Projeto de Vida, o qual reflete as direções centrais assumidas por ele, as quais, por sua vez, determinam sua posição e pertencimento a uma sociedade.

Para Gilberto Velho, o Projeto de Vida pode ser concebido como uma forma de comunicação, que ao expressar e articular interesses e objetivos servirá para o indivíduo como um instrumento de negociação com a realidade (citado em Mandelli, Soares & Lisboa, 2011, p.54).

Ao construir um plano de vida, o adolescente destaca certos valores, acolhe o que é melhor e evita o que é prejudicial para se chegar à meta destinada, ou seja, pensar em um projeto de vida é de extrema importância para o futuro. Além disso, o Projeto de Vida se caracteriza por sua temporalidade, ou seja, a relação entre a concepção e o emprego do tempo presente com as expectativas do emprego do tempo futuro. O tempo, visto como um aspecto fundamental na estrutura dos projetos de vida, por destacar a maneira como os jovens colocaram suas aspirações para o futuro, destaca também, seus estilos de vida e seus significados, bem com as condições de vida concreta em que vivem (Tardeli, 2010).

Estudos realizados (Bastos, Schiessl, &Mazzaleni, 2008; Cardoso &Cocco, 2003; Sarriera, Silva, Kabbas, &Lopéz 2001; Tardeli, 2010; Valore &Viaro, 2007), apontam como os jovens, influenciados pela cultura, pelas condições sociais e processos históricos, revelam expectativas e preferências em seus projetos de vida a partir da possibilidade real de vida, na qual estão inseridos. Vale salientar também que, os adolescentes tem a convicção de que continuar estudando tem uma relação direta com o tipo de escola em que estão inseridos, com os valores da família em “ser alguém na vida” e a intenção de inserção na sociedade em que vivem. Os projetos futuros dos adolescentes representam, de forma geral, as suas expectativas de melhorar sua condição de vida, realizações de sonhos e esperanças de buscar seu lugar no mundo.

De acordo com D´Angelo (citado em Mandelli, Soares & Lisboa, 2011, p.54), todo Projeto de Vida é de caráter antecipatório, organizador e regulador das principais atividades e comportamentos dos indivíduos na sociedade em que se inserem. Desta forma, o Projeto de Vida pode ser visto como constituído nas relações entre a pessoa e a coletividade, que contextualizadas culturalmente abrem-se para o domínio do futuro, o que implica considerar sua vinculação com as transformações das relações humanas.

- Elaboração de um Plano de Ação

Após a realização do estudo teórico, acima descrito, foi elaborado e apresentado em sala de aula um Plano de atividades. A partir da discussão e orientação da docente responsável, foram definidas as atividades a serem realizadas na escola.

As atividades foram planejadas tendo em vista os objetivos de cada encontro a ser realizado, as características da dinâmica de relacionamento observada na turma do 9º ano e a temática “Construção de Projetos de vida”, definida para ser trabalhada na intervenção.

- Intervenção /Resultados

A intervenção foi realizada na sala de aula do 9º ano (EF) com a participação de 23 estudantes em atividades de dinâmica de grupo. No primeiro encontro foram realizadas duas atividades para promover a integração entre facilitadoras e grupo favorecendo o conhecimento mútuo.

Na primeira atividade, as facilitadoras solicitaram que o grupo se organizasse formando um círculo. Depois de estarem todos sentados, uma bola foi entregue e quem estivesse com a mesma se apresentava, falava o nome, a idade e o que mais gostava de fazer. Todos os integrantes do grupo participaram tornando possível iniciar a construção do vínculo entre grupo e facilitadoras.

Seguiu-se a segunda atividade visando estimular a autoestima dos participantes através do reconhecimento de qualidades pessoais. A atividade foi orientada pelas facilitadoras que sugeriram ressaltar uma qualidade do colega que estava sentado ao lado, ao passar a bola para ele. Alguns componentes do grupo sentiram dificuldades em reconhecer neles próprios as qualidades apontadas pelos colegas. Ao término da atividade, os estudantes relataram satisfação ao experienciar olhar para o colega de uma forma positiva, mencionaram que, até então, não haviam participado de atividades em grupo que os estimulassem a desenvolver tal atitude.

A atividade proporcionou um espaço muito rico de exploração das emoções, dos sentimentos e das atividades de cada um, como também promoveu a importância da amizade, o reconhecimento do outro e do beneficio que ele fez ou faz em sua vida, uma oportunidade de até mesmo dizer “obrigada”. Aos poucos, quando um participante olhava para o colega ao lado e dizia uma qualidade, de alguma forma, despertavam-se sentimentos, emoções e agradecimentos de uma maneira que a atividade passou a fluir positivamente.

O encontro seguinte teve como objetivo trabalhar as perspectivas de futuro do grupo. Foi realizada uma atividade com o objetivo de promover um espaço de fala e reflexão que os levassem a perceber que a construção do futuro dependeria das vivências e escolhas do presente. Nesta atividade, as facilitadoras distribuíram recortes de papel em branco para cada participante, solicitando que, sem se identificar, cada um escrevesse como se imaginava daqui a três anos. À medida que as respostas foram lidas favoreceu-se mais um espaço para reflexão com todo o grupo sobre