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Atendimento psicológico a populações em situação de vulnerabilidade psicossocial: as contribuições do Plantão Psicológico

Por:   •  29/3/2018  •  2.127 Palavras (9 Páginas)  •  323 Visualizações

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Esta definição do que constitui a prática clínica do psicólogo é excessivamente ampla e não representa o que realmente é feito pelos psicólogos clínicos seja no âmbito da clínica particular, institucional e/ou das políticas públicas. A tradição associa a prática psicológica clínica ao modelo da assistência médica voltado quase que exclusivamente ao ajustamento psicológico do indivíduo às solicitações, metas e costumes socioculturais, enfatizando os processos psicológicos e psicopatológicos de um indivíduo abstrato e a - histórico, por meio de atividades de psicodiagnóstico e psicoterapia, de forma autônoma e dirigida a populações abastadas economicamente, com elevado nível sociocultural e inserção política. Este modelo exerce um fascínio sobre o discente nos cursos de formação em Psicologia, que se mantém em sua vida profissional e é reiterado pela representação social da profissão perante os grupos sociais e profissionais de outras áreas de conhecimento (MENDES, 2012; MAZER e MELO-SILVA, 2010; BASTOS e GOMIDE, 2010; BASTOS, GONDIM e BORGES-ANDRADE, 2010; CENCI, 2006).

Entremeio, esta perspectiva em relação às práticas clínicas psicológicas promove direcionalidade ao trabalho do psicólogo, constituindo o reconhecimento deste profissional como aquele que cuida da subjetividade ou, num ponto de vista mais amplo, da intersubjetividade, principalmente no que diz respeito à saúde mental. Este pensar tem repercussões significativas para as práticas realizadas nas instituições públicas de saúde e assistência social, tais como o conflito entre as representações de saúde/doença entre usuários e profissionais; baixa eficácia das terapêuticas e alto índice de abandono dos tratamentos; seleção e hierarquização da clientela e de suas queixas e demandas, por exemplo (MICHELS e FAGUNDES, 2014; MENDES, 2012; REBOUÇAS e DUTRA, 2010; LAHM e BOECKEL, 2008; DIMESTEIN; 2000). Reiterando a questão: quais deveriam ser as modalidades de atendimento psicológico clínico oferecido às populações em situação de vulnerabilidade psicossocial no âmbito das políticas públicas?

Deste modo, buscou-se apontar as estratégias desenvolvidas pelos psicólogos clínicos, nos serviços públicos para o atendimento a população em situação de vulnerabilidade psicossocial, especificamente aquelas cujo referencial é a psicologia fenomenológico-existencial. Este delineamento decorre da necessidade de refletir sobre formação do psicólogo clínico na perspectiva fenomenológico-existencial na contemporaneidade, onde prevalece a técnica, inclusive no campo da psicologia clínica, pois espera-se que o psicólogo lide apropriadamente com demandas de respostas imediatas e eficientes que frequentemente são dirigidas à clínica.

Este trabalho é uma pesquisa bibliográfica qualitativa cujos critérios de seleção do material analisado foram: resultados de estudos teóricos e empíricos, desenvolvidos no âmbito acadêmico-científico e publicados em bases de dados nacionais, em português e integralmente, no período de 2010 a 2016 (ressalva para as publicações publicadas em datas anteriores consideradas relevantes para esta investigação).

Os resultados apontaram o Plantão Psicológico como a modalidade de prática psicológica clínica mais utilizada na esfera pública pelos psicólogos fenomenológico-existenciais. Segundo Souza e Souza (2011), o Plantão Psicológico surgiu “oficialmente em 1969 (Tassinari, 1999), somente no final da década de 1980, segundo Rosemberg (1987), foi que brotou a primeira sistematização pública, pois inicialmente era entendido como uma proposta alternativa”. Esta prática é definida como uma modalidade singular de atendimento centrada no processo de significação da procura por ajuda psicológica, especificamente a ressignificação do sofrimento e o (re)conhecimento dos recursos disponíveis para resolução da problemática trazida ao buscar um serviço de psicologia (BRESCHIGLIARI e JAFELICE, 2015; SCORSOLINI-COMIN, 2015; REBOUÇAS e DUTRA, 2010). Constitui-se, portanto, como acolhimento, esclarecimento da queixa, compreensão da demanda e acessibilidade aos recursos disponíveis ao cliente em seu território e de modo intersetorial.

O plantão psicológico se distingue do modelo clássico de triagem, pois oferece encaminhamentos pertinentes à dinâmica da experiência do cliente, o que requer a criação de uma rede informativa de contatos com outros serviços e instituições no âmbito da saúde, educação, assistência social, assistência jurídica etc. Sua execução implica o planejamento do espaço físico, a sistematização e a organização do serviço pela instituição; e habilidades e competências do psicólogo para lidar com o inesperado e com o inusitado e acolher a demanda daquele que o procura em situação circunstancial. Portanto, a modalidade de plantão visa um atendimento breve, situacional e contextual, a situação-problema que emerge como crise e necessita de um acolhimento específico e de uma postura compreensiva do profissional (FARINHA e SOUZA, 2016; AMORIM, ANDRADE e BRANCO, 2015; BEZERRA, 2014; COIN-CARVALHO e OSTRONOFF, 2014; GOMES, 2012; MOZENA e CURY, 2012; SOUZA, BARROS NETA e VIEIRA, 2012; SOUZA e SOUZA, 2011). MEU SLIDES 8 E 9

O Plantão Psicológico tem amplo alcance nas mais diversas políticas públicas e instituições: serviços-escola (GOMES, 2012); escolas (BEZERRA, 2014); hospitais (SOUZA e SOUZA, 2011); serviços de saúde mental; serviços de assistência social (SOUZA, BARROS NETA e VIEIRA, 2012) e judiciária (MOZENA e CURY, 2012); delegacias (FARINHA e SOUZA, 2016); centros comunitários (COIN-CARVALHO e OSTRONOFF, 2014) e comunidades religiosas (SCORSOLINI-COMIN, 2014). Sendo realizado individualmente ou em grupos, com duração variável em termos de número de encontros (de 1 a 2) e tempo de atendimento (de 30 minutos a duas horas), em espaços reservados ou abertos, conforme a infraestrutura institucional ou demanda da população atendida. Cabe observar que coexistem diversas perspectivas teóricas e metodológicas acerca de como deve ser operacionalizado o atendimento em plantão psicológico, embora, no Brasil, prevaleçam as abordagens humanistas e fenomenológico-existenciais (SOUZA e SOUZA, 2011). Embora ainda seja necessário mais pesquisas sobre a temática, Scorsolini-Comin (2015) afirma que “evidências disponíveis nos estudos recuperados mostram a contemporaneidade e a importância do campo do plantão psicológico como intervenção em situações de urgência e como prática de destaque na formação do psicólogo no contexto brasileiro”.

REFERÊNCIAS

AMORIM, F. B.T.; ANDRADE, A. B.; BRANCO, P. C. C. (2015) Plantão

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