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As Representações Sociais na Constituição Identitária das Pessoas com HIV/AIDS

Por:   •  25/12/2018  •  3.387 Palavras (14 Páginas)  •  387 Visualizações

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HIV não significa ter AIDS. Muitos soropositivos vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas, ainda assim, podem transmitir o vírus a outras pessoas (BRASIL, 2017).

A partir desta perspectiva e tendo esse conhecimento prévio, abordou-se essa problemática para o foco do presente trabalho, fazendo uma análise do processo de estigma, representatividade e identidade à luz da psicologia social.

Metodologia

O presente estudo foi desenvolvido no mês de novembro de 2017, através de entrevista semi-estruturada, análise qualitativa, e com inspiração no método etnográfico, realizou-se uma pesquisa, com quatro pacientes que estão acolhidos na instituição, que se fez de base para a construção do presente artigo.

A pesquisa qualitativa tem como objetivo a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo. (GODOY, 1995, p.58).

A entrevista semi-estruturada deu-se pelo fato de possibilitar a combinação de perguntas, fechadas e abertas, em que o entrevistador tem a possibilidade de falar sobre o tema proposto sem respostas preestabelecidas pelo pesquisador.

A entrevista como técnica de pesquisa, entretanto, exige elaboração e explicitação de procedimentos metodológicos específicos: o marco conceitual no qual se origina os critérios de seleção das fontes, os aspectos de realização e o uso adequado das informações são essenciais para dar validade e estabelecer as limitações que os resultados possuirão. (DUARTE, 2008, p. 64)

O Método Etnográfico consiste na realização de observações participantes, nas quais o observador participará da rotina do ambiente observado, infiltrando-se no grupo para registrar dados e comportamentos habituais. Dessa forma, buscará proximidade e interação mantendo a ética e o papel de pesquisador. Entretanto, é importante que o pesquisador mantenha uma certa distância da realidade experienciada e permaneça em sua posição para objetivar os comportamentos estudados (BAZTAN, 2014). Fora utilizado inspiração no método etnográfico para a apuração de dados.

Durante a construção do artigo foi realizada apenas uma visita a instituição e foram entrevistadas quatro pessoas, três mulheres e um homem, no período de duas horas. De modo geral, foram feitas perguntas à respeito de como foi dado o diagnóstico, quais mudanças ocorreram, se houve rejeição/preconceito, quais as perspectivas para o futuro, e também foram realizadas pesquisas bibliográficas.

As informações coletadas foram gravadas e depois transcritas para que pudesse ser feita a análise dos dados. Como os dados são para fins acadêmicos, foi devidamente assegurado aos entrevistados que não seriam divulgados seus respectivos nomes e informações fornecidas.

Resultados e Discussão

A perspectiva epidemiológica considera o HIV/AIDS uma problemática mundial crescente, porém há uma diminuição no número de pessoas mortas pela doença, essa redução deve-se principalmente à introdução da terapia antirretroviral (TARV) somada a outras ações de prevenção e controle da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), mostrando mudança no perfil da epidemia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011).

O tratamento da infecção pelo HIV/AIDS tem evoluído continuamente desde o surgimento dos medicamentos antirretrovirais na década de 1980. Vale ressaltar que a TARV não destrói apenas o HIV, mas ajuda a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico, proporcionando uma recuperação parcial da imunidade, reduz a carga viral e as infecções oportunistas. Esse controle da infecção resultou num aumento significativo na qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/AIDS (BRASIL, 2007).

No caso específico dos portadores do HIV, pode-se perceber que o diagnóstico HIV positivo, em si mesmo, não faz com que as pessoas se identifiquem como soropositivas. Há, sim, um tornar-se soropositivo, como conceituou Guimarães e Ferraz (2002), ou seja, há o desenvolvimento de um processo que gradualmente se inicia, em alguns casos, mesmo antes de o indivíduo receber o diagnóstico que venha a confirmar o status sorológico positivo para o HIV. Esse evento apresenta-se diretamente relacionado à reconstrução da identidade, quando visto pelo aspecto extremamente dinâmico que caracteriza esse processo.

Pode ser visto, como exemplo, em um dos casos das pessoas entrevistadas. Joana conta que, procura ver o melhor lado da situação, pois, muitas vezes, é passado uma imagem de que a pessoa ao descobrir o diagnóstico, também perde a felicidade, e ao entrevistar a moça, percebe-se em sua fala que a situação relatada fora diferente, ela não ficou triste, não se abateu, e relata que procurou ajuda no abrigo:

Quando descobri não me abati, nem escondi da família, só procurei ajuda e conheci a casa. Não sou triste, não me lamento, pra falar a verdade, nem lembro que tenho. O HIV não é só uma pessoa debilitada (falou dando exemplo dos cadeirantes), você olha pra mim e não pensa que tenho. (JOANA, 2017)

Já Maria, quando entrevistada, afirma que o diagnóstico fora sua condenação, que, para ela, é muito ruim lidar com inconstância de ser portadora do HIV, e isso fica muito evidente em sua fala, mas agradece de ter um lugar de apoio, o qual pode contar. É importante atentarmos para a característica de isolamento de uma instituição total, como esta casa de acolhimento, no qual coloca o sujeito sem sua individualidade, personalidade, e enclausurando-os em um espaço limitado por regras e regimentos.

Depois do diagnóstico fui condenada, posso dizer assim. Tem medo, um dia você amanhece bem, no outro pode estar cega, outro na cadeira de rodas, com dor de cabeça, e assim por diante. O bom daqui é ter conhecido as meninas que trabalham aqui. Só tenho a agradecer por estar aqui. (MARIA, 2017)

Quando os estigmas da AIDS não são acionados, a Casa é significada socialmente como um espaço de acolhimento para pessoas que não têm onde morar e necessitam de cuidados de saúde especiais. Todavia, quando o perigo da infecção por HIV é evidenciado, sobressai o entendimento de que a Casa é também o lugar de isolamento de indivíduos que representam um risco social

Desse modo, fica evidente que esse é um processo gradual de reconstrução de identidade a partir do diagnóstico de HIV e a propagação da epidemia impulsiona a sociedade em razão da carga

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