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ANÁLISE IDENTITÁRIA CINEMATOGRÁFICA

Por:   •  2/10/2018  •  2.080 Palavras (9 Páginas)  •  256 Visualizações

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Desenvolvimento

A fim de entendermos melhor o processo de construção de identidade do personagem Vicente, do filme “A pele que habito”, descreveremos um pouco da história e cada um dos personagens, tendo como foco principal a influência do Cirurgião Plástico.

Robert Ledgard é um respeitado cirurgião plástico que está fazendo uma pesquisa que busca criar uma pele mais resistente que possa ser implantada em seres humanos vítimas de queimadura. Sua pesquisa ocorre devido ao acidente que acontece durante a fuga de sua esposa adúltera com Zeca. A esposa sobrevive ao acidente, porém tem sua aparência toda deformada pelas queimaduras, mediante isso, Robert fica obcecado com a ideia de devolver-lhe a vida por meio da ciência. Ela é reconstruída em um ambiente privado de luz e qualquer coisa que pudesse refletir sua aparência. Em uma manhã, quando ouve a voz da filha cantando, vai em direção a janela, ao se aproximar, se depara com sua aparência até então não vista. É tomada por um profundo desespero e se joga da janela, morrendo aos olhos da filha, que chocada, passa sua infância e juventude em uma clínica psiquiátrica. Após um tempo, o médico psiquiatra de sua filha aconselha tentar uma ressocialização da mesma, assistida a base de muitos remédios. Nessa época, Robert e Norma (sua filha) vão a um casamento, onde ela conhece Vicente, que no dia, estava fazendo uso de drogas. Ambos vão para o jardim da festa onde desenrola uma conversa discordante, já que quando Norma fala sobre os remédios, Vicente acredita que a mesma estaria sob o efeito de drogas em busca de diversão, não por razões clínicas. Logo, Vicente começa a beijá-la. Diante daquela excitação que era algo novo para a garota, ela não consegue discernir se quer ficar ou fugir, enquanto Vicente se prepara para o ato sexual. Quando Norma sente algo lhe tocando, a mesma começa a gritar, Vicente não entende a reação, lhe tampa a boca e é mordido, consequentemente ele reage em reflexo, dando-lhe um tapa, o que a faz ficar desacordada. Vicente não força o sexo, ao contrário, arruma sua roupa e foge. Robert chega e encontra sua filha estirada no chão, quando ela acorda se encontra nos braços de seu pai. Por estar em surto, passa a associar a imagem de seu pai com aquele que à estuprou. Posteriormente Norma comete suicídio pulando da janela da clínica. Em consequência disso, o ódio de Robert por Vicente aumenta e o faz buscar por vingança.

O prisioneiro Torturado

Vicente é raptado por Robert que o mantém prisioneiro. Durante um tempo Vicente se rebelava ao personagem que foi lhe imposto, implorando por ajuda, pedindo para que o libertasse. Enquanto sujeito ativo de sua vida, não aceitava que alguém lhe roubasse o direito à liberdade. Posteriormente, diante da tortura sofrida ele se sujeita ao personagem que lhe foi dado, vivendo o papel que se espera de alguém que tem sua vida, entendida enquanto liberdade, a comando de alguém. Passa a viver na mesmice, tem uma metamorfose regressiva, o homem que ali residia e lutava pela sua liberdade, passa a ser um homem passivo, que consente com sua situação e ao desejo daquele que tem o controle de sua liberdade e até mesmo pede pela companhia de seu sequestrador.

O Metamorfo Artista

Robert faz uma vaginoplastia em Vicente sem seu conhecimento, que ainda vivendo sobre a mesmice, sendo produto de sua própria existência se submete a todo processo de desenvolvimento do novo órgão. Posteriormente começa o processo de reconstrução de seu corpo, construindo um corpo feminino. Com o procedimento finalizado, é dado ao novo Vicente o nome de Vera. O mesmo, que já não era mais torturado no que diz respeito a privação de suas necessidades fisiológicas, retoma seu personagem rebelde, que estava oculto, trazendo novamente para sua vida, uma metamorfose positiva buscando ser autor de sua própria existência. Luta e até tenta tirar a própria vida, porém, sua tentativa é frustrada. Era agora conhecido como Vera, mas Vera enquanto substantivo, dado pelo conhecimento do outro sobre ele, mas não enquanto verbo, pois suas ações não representavam o papel que foi lhe designado. Em busca de manter sua identidade enquanto Vicente, encontrou através das Artes e da Yoga formas de manter sua mente refugiada em seu interior. Como seu corpo pertencia a alguém que não era si mesmo, sua mente era a única coisa que podia manter refugiada, intacta, algo que lhe pertencia e que ninguém poderia modificá-la. Em sua parede, haviam desenhos de corpos femininos e a cabeça era em formato de uma casa, frases como “respiro, sei que respiro”. O que mostra um desejo de manter sua consciência enquanto sua propriedade, seu lar, uma nítida resistência a personagem que lhe atribuíram. Poderiam modificar todo seu corpo, mas não teriam controle do seu ser.

A Vingadora

Quando Robert passa a reconhecer Vera apenas como Vera, ou seja, deixa de reconhecer o sujeito enquanto Vicente/Vera, acaba por se apaixonar por ela, já que a mesma seria uma “cópia” de sua falecida esposa. Vicente ao perceber isso, toma para si o papel de Vera em busca de conquistar a confiança de Robert. Ao ganhar sua confiança, descobre sobre os fantasmas do passado que assombravam Robert e de certa forma se permite criar alguma empatia pelo mesmo. O contexto que começa a transcorrer na história nos leva a pensar que Vicente ao se representar enquanto Vera, se transforma em um ser diferente de Vicente devido as múltiplas determinações, que ao mesmo tempo o determinava enquanto Vera e o negava enquanto Vicente. Portanto nesse momento Vicente/Vera assume o personagem de esposa descrito socialmente e historicamente e reposta o papel que lhe é designado. Porém tal metamorfose não levou o personagem Vicente a “morte”, apenas o deixou oculto. Quando já tem a confiança de Robert, encontra uma maneira de conquistar a liberdade e vê a vingança como esperança de recuperar o controle de sua existência, Vicente o mata e volta para casa. O que parecia ser uma metamorfose regressiva, a qual levaria o sujeito a uma passividade diante do papel que lhe foi determinado, ou seja, a mesmice, se torna uma metamorfose produtiva, em direção a emancipação, possibilitando o movimento de sair da reposição e buscar o outro “outro” que também somos, ou seja, o outro que desejamos ser através da superação da identidade pressuposta.

Considerações Finais

Fazendo a análise identitária das personagens do filme "A Pele que Habito", com ênfase na personagem do médico Robert influenciando a identidade de Vincent/Vera,

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