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ABORDAGEM PISCODINÂMICA DO PACIENTE ANSIOSO

Por:   •  18/12/2018  •  3.408 Palavras (14 Páginas)  •  414 Visualizações

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Caso: Júlia 23 anos após detalhar exaustivamente ataque de pânico continua demonstrando perplexidade sobre a possibilidade da existência de algum fator psicológico envolvido. Pelo contrário achasse uma pessoa controlada desempenha bem suas atividades e suas relações sociais são boas. Após um detalhado interrogatório em que nada de especial é visualizado pelo terapeuta, ele se percebe tentando observar e compreender os sentimentos que estão se manifestando no “aqui e agora” da entrevista. O analista já sabe que ela descrê de qualquer terapia psicológica e se sente impotente, mas também desafiado. Assinala a descrença e o desafio, e Júlia confirma, acrescentando que seu primeiro psiquiatra lhe dissera claramente que “ficasse longe da psicanálise”, já que ela não ajudaria em nada, e pior, colocaria ideias “estranhas” na sua cabeça. Em seguida surpreende o terapeuta contando que lhe havia escondido o fato de que tentar efetuar terapia cognitiva com o Doutor X, mas achara tudo muito superficial e “bobo”.

O terapeuta se sente incomodado, não só impotente, mas também enganado; imagina a paciente falando dele, no futuro, da mesma forma que fala do Doutor X. Diz a Júlia que ela parece ter muita dificuldade em sentir-se ajudada. Ela confirma que é muito independente, nunca dá trabalho aos outros, sempre soube cuidar de si mesma. Mas vai fazer análise com o terapeuta, já que o respeita profissionalmente. Este percebe que está sendo reassegurado e que Julia deve estar assustada com o desprezo que vinha demonstrando. Nesse momento o analista se sente à vontade para dizer a Julia que não se preocupe com sua descrença, que isso é natural, e que ele vai aceitá-la como paciente e não vai manda-la embora...

Enquanto Júlia fica em silêncio, o terapeuta se pergunta se não extrapolou no humor, mas e tranquiliza quando ela diz que sua mãe não a suporta mais e que ela não consegue mais sair sem a companhia da mãe. Tem receio de que ela se canse e está certa de que ela não entende a sua necessidade. O terapeuta pensa que, caso o processo já tivesse iniciado, poderia mostrar a analogia entre o que está acontecendo na entrevista e a relação entre Júlia e a mãe. Júlia continua “ela nunca se preocupou comigo, a não ser para exigir que eu fosse sempre a melhor. Parece castigo: Agora ela tem que cuidar de mim como se eu fosse um bebê”. A última frase é dita com sentimento misto de tristeza e Triunfo. O terapeuta assinala que agora ela não se sente mais a melhor filha como a mãe lhe exigia. Júlia concorda tristemente e afirma: “eu não queria ter crises, eu queria precisar da minha mãe”. O terapeuta estranha construção da frase e repete: “você queria precisar da sua mãe?” Júlia está perplexa e diz que não era isso que ia dizer. Pretendia dizer: “eu não queria precisar da minha mãe, eu queria ter crises”. Dessa vez o terapeuta não necessita mostrar o lapso porque Júlia está atrapalhada tentando consertar, pela segunda vez, a frase: eu queria dizer, eu queria dizer que NÃO queria ter crises e NÃO queria precisar da minha mãe. Mas depois Júlia permanece pensativa. E pergunta: “Será que as crises têm alguma relação com a minha mãe?”. O terapeuta lhe diz que no tratamento isso poderia ser melhor avaliado e marca-se a primeira sessão.

O PROCESSO TERAPEUTICO

O analista precisa contracenar com os personagens colocados em cena pelo paciente. Assim ele começa sendo induzido ao mundo interno e ao funcionamento mental do paciente, recrutado a representar determinados papeis. O analista deve então perceber o que esta acontecendo e introduzir novos elementos, tornando-se coautor. Iluminando e abrindo espaço para as ressignificações e mudança psíquicas.

O VÍNCULO TERAPEUTICO

No inicio do processo psicoterápico o paciente tende a “colar-se” ao analista. Seu processo de desespero e fragilidade faz com que o vínculo se torne muito intenso, idealizando, se colocando numa situação de dependência do terapeuta como se este fosse uma figura forte e capaz de lhe proteger. Essa configuração se mantem num primeiro momento, mas logo se manifesta a presença de raízes mais profundas. Em alguns casos o paciente nega a sua necessidade de dependência, tomando uma distancia protetora, onde suas defesas nega a necessidade de um objeto analista-ideal.

Há muitas tentativas do paciente em mostrar recursos e qualidade dentro e fora do tratamento, tentando agradar o analista e ser amado. O processo analítico se constitui então como uma valsa. O paciente passa a concordar com tudo que lhe é dito e parece permitir que o analista tenha acesso aos seus conteúdos, fatos e algumas lembranças.

Os ataques e crises tendem a persistir, e esse paciente então lida com a frustração para com o analista. Ataques e ameaças se manifestam, mas existe um esforço maior de permanecer valioso para o terapeuta, do que a ânsia de compreende sua ansiedade. Quando o terapeuta mostra os mecanismos para o paciente, este fica assustado, por perceber em si uma fragilidade ate então desconhecida, e parece se tornar vulnerável, perdido, sem recursos. Algo similar com que acontece em suas crises.

Possivelmente nem todos os pacientes se comportem da mesma forma. Alguns podem apresentar descargas em atos, ou negações, outras defesas maníacas ou obsessivas. Visando se proteger do processo analítico.

Mas uma vez que o paciente se com a possibilidade da perda de seus recursos emocionais, com os quais contou durante a vida toda, tenta refaze-los ou recorrer a outros. Nesse momento o paciente pode passar a ir as sessões muito tempo antes do horário, ou caminhar pelas ruas próximas ao consultório, pois acredita que a presença ou proximidade do terapeuta esta o protegendo.

Quando o terapeuta consegue captar essas ansiedades desencadeadas pela separação, tem a chance de tornar o processo analítico potente, possibilitando que o paciente perceba as suas fantasias inconscientes.

Durante esse processo, graças ao funcionamento mental manifestado no vinculo terapêutico, o paciente pode se apavorar, ameaçando abandonar o tratamento. Reativando então antigos mecanismos de defesas. Cabe ao terapeuta utilizar esse momento como favorável para aprofundar o processo, mostrando com clareza um dos maiores problemas do paciente: sua destrutividade onipotente.

CATÁSTROFE

O paciente costuma apresentar-se, em sua vida corrente, de uma forma normal, ou até “bem demais”, com exceções. Os ataques de pânico são o único ou principal problema. Se eles não atrapalhassem muito ou tivessem sido

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