Plantas utilizadas na medicina popular brasileira com potencial adaptógeno
Por: SonSolimar • 20/4/2018 • 3.602 Palavras (15 Páginas) • 358 Visualizações
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A portaria do Ministério da Saúde Nº 971, de 3 de maio de 2006, aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde, provando assim, o quanto é promissor aos brasileiros poderem usufruir (com base científica) deste amplo custo-benefício, e se tornar mais íntimo da flora brasileira, com sua biodiversidade (FORZZA, 2010). Assim, a PNPIC visa incorporar e implementar experiências que já vêm sendo desenvolvidas na rede pública de muitos municípios e estados, entre as quais destacam-se aquelas no âmbito da Fitoterapia.
A Fitoterapia é uma "terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal". O uso de plantas medicinais na arte de curar é uma forma de tratamento de origens muito antigas, relacionada aos primórdios da medicina e fundamentada no acúmulo de informações por sucessivas gerações. Ao longo dos séculos, produtos de origem vegetal constituíram as bases para tratamento de diferentes doenças (BRASIL, 2006).
Neste contexto, a Fitoterapia abriga espécies vegetais para atuação em diferentes sistemas fisiológicos, como o sistema nervoso central e o periférico, das quais se destacam os adaptógenos, plantas que melhoram a nossa capacidade de adaptação em situações extremas, e que, segundo o médico e cientista russo, Nikolai Lazarev 1947, funcionam como “uma classe de substâncias que aumenta um estado de resistência inespecífica do organismo, após contato com fatores estressores diversos, promovendo um estado de adaptação à situação excepcional” (SALEEBY, 2006).
Os adaptógenos formam uma classe única de plantas medicinais: ajudam no equilíbrio, restauração e proteção do corpo. Outros autores mudaram os critérios e de acordo com a publicação da Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica – SBMF 2006 -, “Os adaptógenos são melhores compreendidos com base na `Síndrome de Adaptação Geral´ - SAG – proposta pelo famoso endocrinologista húngaro, Hans Selye, que definiu o estresse como um estado de perturbação da homeostase, que evoca no organismo um conjunto de reações bem características, independente da natureza do estímulo estressor, reconhecida em três fases: alarme; resistência e exaustão”. Ou seja, a grande missão de um adaptógeno é equilibrar o organismo de um possível estresse, e desativar mediadores da resposta ao estresse (PIATO, 2010), como corticosteroides, catecolaminas e o óxido nítrico, e também, pode ter ação antioxidante, imunomodulatória, hipoglicemiante, hipocolesterolêmica, e de acordo com Panossian et al., 2009, os adaptógenos podem promover maior tolerância ao estresse durante um exercício físico, onde exige uma reparação das proteínas.
Por fim, este trabalho visa, através de uma revisão de literaturas, identificar as propriedades de três plantas brasileiras, consideradas adaptógenas, a saber: Ptychopetalum olacoides, Pfaffia glomerata e paniculata, e Trichilia catiguá.
Material e métodos
Realizou-se um levantamento bibliográfico para a busca de informações sobre os benefícios do uso de três plantas Ptychopetalum olacoides, Pfaffia glomerata e paniculata, e Trichilia catiguá. Para isso, foram utilizadas as bases de dados PUBMED, Scielo e Google acadêmico, além de livros e legislações, utilizando-se como palavras-chaves os nomes científicos das plantas, constituintes químicos e efeitos, sem restrição de idioma e tipo de publicação, dos anos de 1999 a 2016.
Plantas Adaptógenas
Entende-se mediante estudos publicados que esta classe de plantas é empregada para melhorar e amenizar alguns distúrbios consequentes do envelhecimento, os quais mostraram eficiência em diversas condições neurológicas. Podemos começar pelo déficit cognitivo, que frequentemente é observado em pessoas de melhor idade, onde a recuperação da memória parece estar mais prejudicada do que a aquisição e armazenamento, e a busca por uma solução às doenças degenerativas do cérebro se encontra intensa, ainda mais com o aumento da expectativa de vida. No Manual dos cuidadores de pessoas idosas desenvolvido por São Paulo, 2002, um dos pontos tratados é a doença de Alzheimer - DA, com sintomas desenvolvidos, na maioria das vezes, em quatro estágios, sendo que o primeiro é o pré-clínico, e é neste, que as regiões do cérebro ligadas à memória começam a ser afetadas, e alguns sinais despontam, como a deficiência de absorver novas informações; armazenar, e até recuperar. Melhorar a qualidade de vida de uma forma geral pode ser o primeiro passo para minimizar as alterações anatômicas e fisiológicas, durante o processo de envelhecimento.
Dentre vários estudos publicados sobre Ptychopetalum olacoides (marapuama), segundo da Silva et al. 2004, esta droga vegetal é tradicionalmente usada na Amazônia brasileira como um “tônico cerebral”, principalmente por pessoas que estão em processo de recuperação dos déficits cognitivos e motores, após lesões cerebrais. Estudos farmacológicos publicados por Siqueira et al., 2002, com Ptychopetalum olacoides demonstraram efeito no sistema nervoso central, afetando os sistemas noradrenérgicos e dopaminérgicos. O objetivo deste estudo foi investigar os efeitos da droga na modulação da memória, em ratos adultos (2,5 meses) e envelhecimento em ratos (14 meses). As raízes de Ptychopetalum olacoides foram coletadas no estado do Pará (Brasil) preparadas, e os princípios ativos extraídos com etanol, que foi evaporado sob pressão reduzida. Na discussão deste estudo observou que a hipoatividade do sistema colinérgico desempenha um papel importante em déficits cognitivos, e que o extrato de etanol desta droga vegetal melhorou a longo prazo, a recuperação de memória em ratos adultos, onde foi mais significativa com a dosagem de 50 e 100 mg/kg. Também constatou com a mesma dosagem para recuperação de memória, o potencial de inibir a dor, em ratos adultos e idosos. Embora sejam necessários mais experimentos para uma conclusão definitiva, a dose e tempo são interdependentes e atuam de maneira mais eficaz no hipocampo do que no córtex frontal por conta das diferentes moléculas, tecido e regiões do cérebro. Mesmo assim, o estudo conclui que novas investigações sejam realizadas, e que até o momento, o extrato de Ptychopetalum olacoides possui vários modos de ação que são relevantes para distúrbios cognitivos e consistentes para o uso local (FIGUEIRÓ, 2011). O estudo de Vargas et al. 2016, reforça que existe um potencial medicinal da flora amazônica como fonte
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