ERROS DE MEDICAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR E ERROS DE ADMINISTRAÇÃO NAS ENFERMARIAS
Por: SonSolimar • 3/9/2017 • 6.518 Palavras (27 Páginas) • 575 Visualizações
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O Dr.Tarcisio Palhano lembra que o que dá origem ao erro é a letra do medico. Das prescrições com problemas que ele conseguiu reunir, a maioria trazia nome de medicamentos que davam margens a confusões com outros nomes, um exemplo com nomes genéricos numa grafia ruim: Clorpromazina confundido como Clorpropamida, Triazol (Fluconasal) e Triatop (Cetoconazol) (BRANDÃO, 2005).
O conceito de medicamento como agente de cura já era associado ao seu potencial de dano pelas civilizações arcaicas da Mesopotâmia e Egito. O termo shêrtu, que aparece nos manuscritos da época, tem significado simultâneo de doença, pecado ou castigo divino. Somente através de uma operação de catarse, em que era atribuído um conteúdo mágico ao medicamento, o indivíduo alcançaria a purificação de seus pecados e o restabelecimento da saúde por intervenção dos deuses (Weatherall, 1990).
Estes conceitos influenciaram o entendimento sobre a patologia e a terapêutica durante muitos séculos e persistem, em alguns aspectos, até nossos dias. A própria palavra fármaco teve origem a partir do termo grego pharmak, que significa “aquilo que tem o poder de transladar as impurezas”. Entre os gregos, vítimas dos sacrifícios oferecidos aos deuses eram chamadas de pharmakó, e o alimento utilizado durante as cerimônias de comunhão,phármakon. Essa última palavra passou a integrar a terminologia médica grega e chegou até nossos dias com o nome de fármaco. Para os gregos, phármakon era aquilo que poderia trazer tanto o bem quanto o mal, manter a vida ou causar a morte (Weatherall, 1990).A concepção do medicamento como potencial causador de dano também se manifestou durante a Idade Média.
No século X, foi criada em Salerno uma comunidade de médicos que estudava, compendiava e ensinava a medicina. Uma das atribuições da instituição era a de fiscalizar a comercialização de medicamentos, com autoridade para enforcar vendedores de elixires mágicos, poções ou drogas Nocivas que tivessem levado à morte aqueles que as utilizaram (Davies, 1999).
Porém, somente no final do século XIX, foram criadas as primeiras comissões para investigar os danos associados ao uso de medicamentos, inicialmente em função de inúmeros relatos de mortes súbitas durante anestesia com clorofórmio. Mais tarde, em 1922, foi estabelecido um novo inquérito para investigar a ocorrência de icterícia associada ao uso de salvarsan, um arseniacal orgânico utilizado no tratamento de sífilis. Em 1937, mais de 100 crianças morreram nos Estados Unidos pelo uso de um elixir de sulfanilamida, que continha como veículo o dietilenoglicol. Embora os efeitos tóxicos do solvente já fossem bem estabelecidos naquela época, não eram conhecidos pelo fabricante do elixir. Em conseqüência deste incidente, foi aprovada em 1938 a lei que criou nos Estados Unidos a “Food and Drug Administration” (FDA), obrigando as indústrias farmacêuticas a fornecer a esta instituição dados clínicos sobre segurança de novos medicamentos antes da permissão para a comercialização dos mesmos (Grahame-Smith, Aronson, 2002).No início da década de 1950, a observação que o uso terapêutico de cloranfenicol induzia, em alguns pacientes,a anemia aplástica fez ressurgir o interesse pelo tema, resultando na publicação do primeiro livro-texto sobre os efeitos colaterais dos medicamentos (Strom, 1989). Dez anos mais tarde, em 1960, a FDA lançou nos Estados Unidos o programa de notificação de efeitos adversos causados pelos medicamentos e, paralelamente, foram publicados os primeiros estudos de utilização de medicamentos, englobando a comercialização, distribuição, prescrição, dispensação e uso de medicamentos em uma sociedade, enfatizando especialmente as conseqüências médicas, sociais e econômicas que resultam desta utilização (Organização Mundial da Saúde, OMS, 1977).O fato mais marcante relacionado ao uso de medicamentos foi o surto de focomelia, ocorrido em 1961. Esse termo grego significa membro de focas e caracteriza um processo de deformidades dos membros. Mais de 10.000 crianças nasceram deformadas na Alemanha Oriental em conseqüência do uso de talidomida pelas mães, sendo que apenas aproximadamente 5.000 recém-nascidos sobreviveram.
Estudos epidemiológicos comprovaram os efeitos teratogênicos da talidomida, um hipnótico não-barbitúrico, que era empregado para tratar ansiedade e insônia, prescrito à época para tratamento de náuseas e vômitos matutinos em mulheres grávidas. Nos Estados Unidos praticamente não houve incidentes relacionados à talidomida, pois a FDA havia retirado o medicamento do mercado, em função de evidências que o associavam ao hipotiroidismo e
neuropatia periférica (Grahame-Smith, Aronson, 2002).Neste cenário, foram iniciados os primeiros estudos com enfoque na utilização racional de medicamentos, em resposta à necessidade de se conhecer e relatar os problemas relacionados à medicação e da elevada morbidade e mortalidade associada ao uso inadequado dos medicamentos (OMS, 1969). Assim o conceito da “pílula milagrosa”, que beneficia a saúde do homem, foi sendo contraposto pelos riscos e prejuízos causados pelos medicamentos (Lefevre, 1991). Dessa forma, iniciou-se a discussão de algumas questões relevantes, como o uso indiscriminado e incorreto do medicamento e os possíveis efeitos adversos e interações relacionadas ao tratamento medicamentoso (Mant, 1994). A partir de então, a idéia do medicamento como mercadoria de qualidade e segurança absoluta começou a ser questionada. Paralelamente ao desenvolvimento de novos fármacos e novas formas farmacêuticas, o processo de assistência à saúde tornava-se cada vez mais caro, complexo e repleto de riscos ao paciente. A disponibilidade e o elevado número de princípios ativos e especialidades farmacêuticas expunha o paciente à possibilidade cada vez maior de ser vítima de danos associados à medicação (OMS, 1995).
No século XX, com o aumento da eficiência da prevenção de doenças e atendimento médico, a expectativa de vida, menor que quarenta anos até a década de 1940, ultrapassou os sessenta e cinco anos (década de 1990)(WHO, 1997). Todavia, com o crescimento dos custos com equipamentos, materiais e medicamentos, surgiu a impossibilidade do acesso universal aos recursos e tecnologia moderna disponível (Crozara, 2001).Assim, visto que os medicamentos se apresentam como um dos fatores responsáveis pelos gastos com saúde,a questão de sua utilização de modo adequado nuncaesteve tão presente no cotidiano da população, nem foi tão discutida: segundo Nascimento (2003), o número de reportagens publicadas em jornais e revistas da grande imprensa escrita sobre medicamentos e saúde durante os anos 70, 80 e 90 foram
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