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A HISTÓRIA DA FARMÁCIA NO BRASIL E MUNDO DESDE OS SEUS PRIMORDIOS.

Por:   •  22/12/2017  •  10.417 Palavras (42 Páginas)  •  418 Visualizações

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2. O LEGADO TERAPÊUTICO DA ANTIGÜIDADE: DO PRIMEIRO MILÊNIO a.C AO SÉCULO XVI.

2.1. Objeto, fontes e métodos

2.1.1 Conceitos básicos e evolução da História da Farmácia

2.1.1.1. Primeiros passos.

Embora existam crônicas e outros textos anteriores, podemos considerar o século XIX como o do nascimento da historiografia farmacêutica, com o aparecimento, logo após 1800, de várias introduções históricas em livros de texto alemães. A primeira obra ibérica dedicada à História da Farmácia apareceu em Espanha em 1847, devida a C. Mallaina e Q. Chiarlone1. A esta seguiu-se, em 1853,

aquela que é geralmente considerada como a primeira obra de fôlego sobre esta disciplina, escrita pelo francês A. Phillippe2, que deu origem dois anos depois a uma versão alemã, desenvolvida por J. F. H. Ludwig (1855). Em Portugal, a primeira grande obra de investigação sobre a História da Farmácia, da autoria de Pedro José da Silva (1834-1878), começou a ser publicada em 18663, poucos anos, portanto, após as suas congêneres espanhola e francesa. A História da Farmácia começou por ganhar um reconhecimento institucional e acadêmico na Alemanha, nos finais do século passado e princípios do atual, principalmente com o trabalho de Julius Berendes (1837-1914)4, Hermann Peters (1847-1920) e Hermann Schelenz (1848-1922).O desenvolvimento da História da Farmácia tem assentado essencialmente no trabalho realizado sobre três eixos: as instituições de ensino superior e investigação onde existe esta disciplina, as sociedades científicas a ela dedicadas e os museus de farmácia. A inclusão da História da Farmácia nos programas de ensino superior farmacêutico encontra-se hoje generalizada, tanto como disciplina independente como agrupada com outras matérias de intersecção das ciências farmacêuticas com as ciências sociais e humanas. O primeiro país a incluí-la no currículo farmacêutico foi a Espanha em 1852. Estudos de pós-graduação, incluindo doutoramentos, sobre História da Farmácia, são atualmente realizados em vários países, tanto na Europa como nos EUA. Em Portugal, o primeiro doutoramento com uma tese sobre História da Farmácia teve lugar em 1991. A primeira sociedade dedicada à História da Farmácia, a Societé d’Histoire de la Pharmacie, surgiu em 1913 em França, seguindo-se-lhe várias outras sociedades nacionais e internacionais.

1. Chiarlone, Quintin; Mallaina, Carlos – Ensayo sobre la historia de la farmácia. Madrid, Saunaque, 1847.

2. Phillippe, Adrien P. N., 1801-1858 - Histoire des apothicaires chez les principaux peuples du monde, depuis les temps les plus recules jusqu’a nos jours, suivie du tableau de l’etat actuel de la pharmacie en Europe, en Asie, en Afrique et en Amerique. Paris, Direction de publicite medicale, 1853.

3 Silva, Pedro José da - Historia da pharmacia portugueza desde os primeiros seculos da manarchia até ao presente: memórias publicadas na Gazeta de farmácia. Lisboa: Tip. Franco-Portuguesa, 1866-1868.

4 Berendes, J. Die Pharmacie bei den alten Culturvolkern; historisch-kritische Studien. Halle a. S.: Tausch & Grosse,1891.

5 Peters, H. Der arzt die heilkunst in der deutschen vergangenheit. Mit 153 abbildungen u. beilagen nach den originalen aus dem 15.-18. jahrhundert. Leipzig: E. Diederichs, 1900; Aus pharmazeutischer Vorzeit in Bild und Wort. Berlin: Springer, 1886-89.

6 Schelenz, H. Geschichte der pharmazie. Berlin: J. Springer, 1904.

2.1.2. Da história da profissão à história do medicamento.

Central no desenvolvimento da História da Farmácia como disciplina científica é a definição do seu objeto de estudo, o qual tem implicações numa série de outros problemas, como a delimitação das fronteiras da disciplina e as suas relações com outras disciplinas próximas. A primeira tentativa de definir de forma clara a natureza e os limites da História da Farmácia deve-se ao farmacêutico George Urdang (1882-1960) em 1927. Este investigador, cujas ideias influenciaram profundamente a historiografia farmacêutica europeia e dos EUA (país para onde emigrou durante o regime nazi),preocupou-se em demarcar fronteiras para a História da Farmácia, cuja lógica interna consistia em considerar os farmacêuticos e o exercício farmacêutico como sendo o objeto desta disciplina. Esta perspectiva tinha como principal consequência o facto de considerar fora da História da Farmácia um grande número de aspectos da História das Ciências Farmacêuticas, que seriam remetidos para o

âmbito da História da Química, da Botânica, da Biologia, etc. Esta perspectiva choca-se frontalmente com as tendências da moderna historiografia, nomeadamente da escola dos Annales, de busca de uma história global, acabando por limitar o estudo da própria profissão farmacêutica, restringindo-a a um ponto de vista estreito que não permite a sua compreensão.

Para podermos identificar corretamente o objeto desta disciplina, temos antes de mais que ver que o termo Farmácia Serve simultaneamente para denominar uma profissão e uma área técnico-científica. Como profissão, a Farmácia encontra a sua definição nas diferentes atividades relacionadas com a preparação e dispensa de medicamentos. Como área técnico-científica é o produto da intersecção de várias disciplinas, como a Biologia, a Química e a Medicina, tendo como objeto a relação entre os medicamentos e os organismos vivos. Desta forma, qualquer que seja o ponto de vista por onde encaremos o termo Farmácia, o que encontramos no centro do seu significado é o medicamento.

Assim, forçoso será concluir que o objeto da História da Farmácia não é a profissão farmacêutica, mas sim o medicamento. Não se trata aqui de estudar um medicamento isolado na redoma ou no almofariz, não se trata de estudar o medicamento em abstrato, mas numa série de diferentes relações com os homens e as sociedades humanas. Parafraseando M. Bloch, a História da Farmácia é a disciplina que estuda a relação homem-medicamento no tempo. É esta relação o seu objeto e ela define o seu domínio, um domínio riquíssimo que mostra em toda a sua amplitude a importância desta disciplina para a formação dos futuros profissionais do medicamento. Neste quadro conceptual, a profissão farmacêutica continua a ser tão importante como anteriormente, mas temos que dirigir igual atenção para o conhecimento dos aspectos da história dos medicamentos

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