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O Lazer e Seus Principais Conceitos

Por:   •  21/12/2018  •  8.529 Palavras (35 Páginas)  •  500 Visualizações

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Para melhor esclarecer, vejamos o conceito de lazer apresentado pelo autor francês citado, um dos mais influentes no Brasil. Dumazedier (2012, p. 34) compreende o lazer como

[...] um conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

Este autor, embora tenha influenciado muitos autores e instituições do Brasil com suas idéias e conceitos, recebeu muitas críticas por não ter considerado o ócio, o ‘nada fazer’ como opção de lazer e a influência da cultura nas atividades de lazer. É necessário considerar que o ‘não fazer nada’, a não participação em atividades também pode ser uma escolha do indivíduo no seu tempo livre, uma vez que este pode buscar o repouso e o relaxamento. O ‘dolce far niente’, ‘o doce não fazer nada’, expressão criada pelos italianos, nos remete à contemplação, ou a uma pessoa deitada numa rede, ou à beira mar, ou, ainda, apreciando outras paisagens. Mas a meditação e as técnicas de relaxamento também são possibilidades de ócio.

Considerar nossa cultura também é importante uma vez que somos influenciados por ela em nossas escolhas no tempo livre. O significado da palavra cultura é muito amplo e está presente em no cotidiano de diversas formas. A maior parte da população a entende como um conjunto de atividades ligadas às artes de forma geral: música, pintura, poesia, escultura, dança, literatura, entre outras. Outro entendimento diz respeito ao nível de informação, de conhecimento de uma determinada pessoa, quando ouvimos tal pessoa é culta ou tem cultura.

Mas o significado que é importante para nós, aqui, é aquele que entende a cultura como o modo de vida, de hábitos e costumes de determinados povos: suas línguas, seus comportamentos, sua religião, alimentação, seus instrumentos de trabalho e também suas formas de lazer. Podemos então afirmar que o Brasil é um país com grande diversidade cultural. Os hábitos e costumes nas regiões de nosso país são muito diversos e o mesmo vale para as atividades de lazer. Enquanto na região norte a festa dos bois (Caprichoso e Garantido) é uma das manifestações de lazer mais atraentes, no nordeste são as festas juninas que as pessoas mais apreciam.

Vejamos, agora, o conceito de lazer de outro autor, Nelson Carvalho Marcellino (2013), brasileiro com muitas obras publicadas nessa área. Para ele o lazer é entendido como a

[...] cultura – compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível. O importante como traço definidor, é o caráter desinteressado desta vivência. Não se busca, pelo menos fundamentalmente outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. A disponibilidade de tempo significa a possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa (MARCELLINO, 2013, p. 31).

Este autor, além de considerar a influência da cultura nas atividades de lazer nos traz, ainda, outras questões pertinentes: para Marcellino, uma pessoa pode participar de uma atividade praticando-a ou, ainda, de outra forma assistindo-a, sentido de fruição ou contemplação apontado. Ao exemplificarmos no esporte, podemos tanto gostar tanto de praticar o vôlei, quando de assistir uma partida, num estádio ou pela TV. O mesmo vale para a dança, futebol entre tantas outras atividades. Também podemos participar mais como espectador, ao invés de vivenciar a atividade, como acontece com o automobilismo, ou com os espetáculos de dança, de música. Para este autor, a expressão ‘tempo disponível’ é mais indicada que ‘tempo livre’, uma vez que tempo nenhum é livre de normas e condutas sociais, mesmo no tempo de lazer em que estamos mais descontraídos, temos regras a cumprir, de acordo com a sociedade e a cultura em que vivemos. Você se lembra do caso de uma mulher que quase foi presa na praia no Rio de Janeiro por estar fazendo o uso do topless?Ela estava em seu tempo livre, em um domingo, aproveitando a praia, tomando sol, mas foi abordada por policiais que a obrigaram a recolocar o seu biquíni. É comum, também, observamos em determinadas praias ou mesmo nas ‘baladas’ o consumo de drogas, mas as leis de nossa sociedade não permitem, somos obrigados a cumpri-las também no tempo livre. Concluímos assim, que temos um pouco mais de liberdade no tempo do lazer do que, por exemplo, no trabalho, mas não somos ‘totalmente livres’ para realizarmos tudo que temos vontade, você já pensou nisto?

Outra questão a considerar é que o tempo do desempregado não pode ser considerado como tempo livre, ele, provavelmente nessa situação porque quer, e não consegue usufruir deste tempo com prazer, consideramos como tempo desocupado, qual o seu posicionamento sobre isto?

Vamos refletir um pouco mais sobre o lazer e suas relações com algumas dimensões da vida, como o trabalho no próximo tópico.

Fique de olho!

1) Navegue na internet e ouça a música ‘Hoje eu não saio não’, de Marisa Monte. Preste atenção na letra e veja como o descanso, o ócio, o nada fazer também pode e deve fazer parte de nossas opções de lazer.

1.2 Lazer e trabalho

Antes de discutirmos sobre esta relação, vamos refletir um pouco como o tempo livre surgiu, ou, como citam alguns, o tempo de não trabalho. Antigamente, o lazer e o trabalho nas sociedades tradicionais, rurais, se misturavam, pois o ritmo do trabalho e da vida eram dados pela natureza e pelas estações do ano: trabalhava-se mais durante o dia, enquanto havia sol e mais no verão. Havia pausas durante o trabalho para o descanso, para as conversas, os cantos e as festas do trabalho (como a da colheita) e as religiosas eram as principais atividades de lazer na época. O local de trabalho e de lazer eram muito próximos, às vezes, aconteciam em um mesmo espaço. A partir da chamada Revolução Industrial, fenômeno que ocorreu na Grã-Bretanha, no século XVIII, a sociedade passou a ser urbana e o trabalho industrial. A máquina a vapor e o tear foram criados, os trabalhadores seguiam, então, o ritmo das máquinas, as jornadas de trabalho eram longas e chegava a 16 horas por dia. O mesmo fenômeno aconteceu no Brasil, iniciou-se no final do século XIX e se estendeu pelo século XX. Foram muitas as greves e as lutas dos operários para reivindicar a diminuição da jornada de trabalho. À medida que a jornada de trabalho

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