Resenha: 20 anos de Crise, de Edward Carr
Por: Lidieisa • 10/4/2018 • 1.429 Palavras (6 Páginas) • 502 Visualizações
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Carr mais uma vez critica a esquerda pela falta de empirismo em suas teorias, porém um pouco antes em seu texto não parece tratar o problema com tal grandeza. Seguindo mais um pouco no texto, o autor afirma que ao chegar ao poder, a esquerda abandona seus ideais básicos e começa a tender para a direita mantendo a fachada de governo de esquerda aumentando a confusão da terminologia política. Infelizmente, isso é algo que tende a ser verdade, nos dias atuais, como no Brasil em que a esquerda ao assumir o poder executivo fez alianças com bancos e a burguesia.
Ao entrar na segunda parte do livro, no capítulo III, O Pano de Fundo Utópico, percebemos a crítica ferrenha que Edward Carr faz àqueles que acreditam que a opinião pública deve ser ouvida sem ressalvas, o que para os mais desavisados, pode parecer que ele era contra a democracia por utilizar-se de termos como “tirania da maioria”, mas na realidade se referia mais a opinião pública internacional do que a própria opinião pública nacional. Argumenta dizendo que, por vezes, a opinião pública é ainda mais cruel que os próprios estadistas que frequentemente tentam fazer concessões. Carr se questiona a respeito da crença da opinião pública estar sempre certa, quando na verdade, segundo ele “em assuntos internacionais, a opinião pública estava quase sempre tão errada quanto impotente” (pg 52). O autor diz, muito coerentemente com seu pensamento geral, que a teoria utópica tem como base a lei natural de que a justiça é regida pela opinião publica e que a verdade irá triunfar. Para ilustrar não tão brevemente este argumento, Carr usa de exemplo a Crise da Manchúria, quando em 1931, para impedir a expansão da influencia do governo nacionalista chinês, liderado por um ditador, os dirigentes militares japoneses adotaram uma forte política na China. Um incidente serviu de deixa para o inicio das agressões japonesas. A China pediu ajuda a falida Liga das Nações, mas nada efetivamente foi feito, assim, a crença popular, a opinião pública a respeito das instituições liberais foi caindo, desta forma Edward Carr consegue exemplificar dois argumentos de uma vez: a ineficácia das instituições liberais e o equívoco da opinião pública.
Voltando um pouco neste mesmo capítulo, Carr cita Jeremy Bentham q John Stuart Mill que acreditavam que deveria haver doutrinação pela opinião pública, algo que é muito raso, para dizer o mínimo, e a preocupação de Carr era a retomada destes autores por parte do pensamento utópico para ter como base em suas teorias “fantasiosas”. Menciona também Bucklet que disse que “a opinião de que a educação levaria a paz internacional, compartilhada por muitos contemporâneos e sucessores”, querendo dizer que a guerra é falta de racionalidade e que a guarda da paz deve ser feita através do esclarecimento, do intelecto.
Carr inaugurou o primeiro debate da disciplina de Relações Internacionais, entre o idealismo e o realismo. As principais características do idealismo, para Edward Carr, são as ineficazes leis naturais do mercado para a ascensão do aperfeiçoamento econômico, o otimismo em relação ao desenvolvimento da razão no iluminismo e a ingênua convicção no direito internacional de resolver os problemas em âmbito internacional que tinha Woodrow Wilson.
Um dos argumentos de utilizados pelo autor para endossar sua tentativa de provar que são fracassados os estudos que visam julgar o ser humano como indivíduo isolado. Carr demonstra duas atitudes inerentes ao homem: a cooperação e o egoísmo, e ainda diz que a sociedade não pode existir sem uma combinação de ambos já que pertencer a uma sociedade não é uma opção.
Tomando esse gancho, para finalizar, gostaria de citar um trecho do capítulo II, Utopia e realidade. Trecho mais cheio de clareza e que sintetiza a definição do mundo onde deveríamos viver: “Toda ação humana sadia, e portanto todo pensamento sadio, deve estabelecer um equilíbrio entre utopia e realidade, ente livre arbítrio e determinismo. O realista completo, aceitando incondicionalmente a sequencia dos acontecimento, se prova da possibilidade de modificar a realidade. O utópico completo, rejeitando a sequencia causal, se prova da possibilidade de entender a realidade que está tentando transformar, ou os processos pelo quais ela poderia ser transformada. O vício característico do utópico é a ingenuidade; o do realista, a esterilidade.”. Ou seja, o ideal seria se a realidade e a utopia agissem juntos para haver um real movimento de ações no mundo.
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