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O Acordo de Bretton Woods

Por:   •  3/4/2018  •  3.236 Palavras (13 Páginas)  •  283 Visualizações

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Ao invés do ICU, foi criado o Fundo Monetário Internacional (FMI) para administrar o sistema internacional de pagamentos. Mais limitado, o FMI deveria promover a cooperação monetária e proporcionar auxílio aos países que enfrentassem dificuldades nas suas contas externas.

Na Conferência ficou estabelecido que problemas no balanço de pagamentos não devessem ser resolvidos através da restrição dos fluxos de comércio entre os países, e eventuais mudanças nos valores cambiais precisariam ser acordadas de forma cooperativa. O FMI acataria a mudança na taxa de câmbio se o desequilíbrio a ser corrigido estivesse na conta de transações correntes, sobretudo na balança comercial. O acordo previa a possibilidade de variações no valor das moedas que não ultrapassassem +/- 1% dos níveis estabelecidos em relação ao dólar para corrigir o desequilíbrio na conta. Poderiam ocorrer casos em que a desvalorização devesse ser maior: variações superiores a 1% e inferiores a 10% o país se comprometia a comunicar formalmente, e para variações superiores a 10%, apenas com a autorização do FMI. Nesses casos, somente seriam permitidos os países que estivessem em estado de “desequilíbrio fundamental”. Evidentemente, o dólar era a única moeda que não poderia sofrer ajustes, sem colocar em risco a ordem monetária internacional estabelecida.

Nos círculos da grande finança de Wall Street, tanto a criação do FMI quanto o controle dos fluxos de capitais foram considerados um passo atrás na busca de uma ordem liberal como nos tempos do padrão-ouro. Como relata Moffitt, a ideia de que os Estados Unidos iriam bancar uma instituição internacional que disputasse o monopólio dos bancos no mercado internacional de crédito sofreu a repulsa dos grandes bancos sediados em Nova Iorque. Os banqueiros abominavam a ideia de ter que dividir seu poder sobre o crédito internacional com uma instituição financiada pelo governo norte-americano. Além disso, na visão desses banqueiros, o FMI poderia incentivar a irresponsabilidade fiscal na medida em que os países em dificuldades no seu balanço de pagamentos teriam direito a obter crédito oficial do novo organismo.

O plano dos EUA após a guerra visava impedir que a nações derrotadas alcançassem um desenvolvimento que pudesse voltar a confrontar novamente as grandes potências. A ideia era desmembrar a Alemanha e transformá-la numa nação eminentemente agrária. Destino semelhante esperava pelo Japão. Segundo Ernani Teixeira, o plano norte-americano pretendia castigar severamente o povo japonês por sua “aventura militarista”, impedindo que o Japão tirasse qualquer benefício da nova ordem internacional.

Mas tudo mudou após o início da guerra fria. A partir de então a política externa norte-americana assumiu como prioridade o desenvolvimento de seus aliados na Europa e na Ásia, como ficou estabelecido na aprovação do Plano Marshall em 1947, na dispensa das reparações de guerra e no cancelamento de parte das dívidas. A ideia de uma economia pós-guerra de livre comércio e livre movimentação de capitais mostrou-se inviável. Nos anos seguintes houve tolerância e apoio dos EUA aos seus aliados em relação a medidas protecionistas (subsídios às exportações e restrições às importações americanas), desvalorizações cambiais e abertura às importações a termos vantajosos, ainda que tais medidas tornassem suas exportações menos competitivas. Os EUA também promoveram volumosos investimentos e missões de transferência de tecnologia.

Enfim, a gestão econômica internacional desse período garantiu o crescimento e um alto nível de emprego, ficando conhecido como a “idade de ouro” do capitalismo. A hegemonia dos EUA foi estabelecida de forma benigna.

A consequência direta dessa política foi a rápida recuperação do comércio externo dos países aliados e o forte aumento das importações norte-americanas. Aos poucos o superávit na conta de transações correntes dos EUA foi diminuindo até que em 1971 apresentou seu primeiro déficit. A medida que o fortalecimento dos países se consolidava, surgiam questionamentos quanto à liderança dos EUA e a partir de janeiro de 1965, a Franca passou a questionar fortemente o papel do dólar como meio de pagamento internacional, a ponto do presidente Charles de Gaulle reclamar do “exorbitant privilège” que os EUA alcançaram no sistema monetário internacional. Afirmando que não estaria mais obrigado a aceitar a moeda norte-americana, a Franca passou a trocar seus dólares excedentes pelo ouro de Fort Knox.

No início dos anos 1970, o governo norte-americano enfrentava o seguinte problema: precisava recuperar a competitividade de sua economia, mas não podia desvalorizar o dólar sem quebrar a disciplina da regra de Bretton Woods. Primeiramente, buscou-se convencer os demais países a valorizarem suas moedas de forma coordenada; assim, o dólar seria desvalorizado sem que o preço oficial do ouro em dólar variasse. Os aliados, em especial Alemanha e Japão, não aceitaram. Por outro lado, os EUA brecaram todas as propostas de reforma monetária que restringisse o papel do dólar no sistema monetário internacional.

No dia 15 agosto de 1971, diante das pressões protecionistas por parte do Congresso norte-americano, do declínio relativo da sua competitividade e sem conseguir alcançar qualquer acordo com os países aliados, o presidente Nixon optou pela ruptura unilateral da conversibilidade em ouro do dólar. Para completar, instituiu controles internos de preços e salários e fixou uma tarifa externa sobre todas as suas importações, que seriam conservadas até que os aliados chegassem a um novo acordo, o que só ocorreu em 1973. A decisão unilateral do Nixon em 1971 foi ratificada em 1973 pelas principais potências capitalistas. Desde então o sistema financeiro internacional passou a conviver com taxas de câmbio flutuantes, sempre conservando a hegemonia do dólar.

A justificativa imediata para romper com o acordo baseou-se no argumento de que o desequilíbrio externo dos EUA era determinado por práticas comerciais desleais dos países europeus e do Japão. Mas hoje está claro que o alcance desta decisão crucial do Estado norte-americano foi muito maior do que se poderia imaginar na época. O desenrolar das décadas seguintes demonstrou que o fim do padrão dólar-ouro não foi uma derrota do capitalismo norte-americano, nem se tratou de uma imposição natural dos mercados, mas sim de uma política estratégica bem articulada. Daí surgiu um novo padrão monetário, o chamado dólar flexível, inédito na história das relações internacionais, e ainda mais vantajoso para os EUA. Este acontecimento também marca a volta da grande finança

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