Foucault e Todorov
Por: Rodrigo.Claudino • 8/4/2018 • 1.341 Palavras (6 Páginas) • 371 Visualizações
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eixo de reflexão. E é verdade quem ao menos desde o século XVII, o que se chama de humanismo foi sempre obrigado a se apoiar em certas concepções do homem que são tomadas emprestadas da religião, das ciências, da política. O humanismo serve para colorir e justificar as concepções do homem as quais ele foi certamente obrigado a recorrer.” (idem, p.346)
No entanto, em uma perspectiva contemporânea de análise, há um desvio do espírito humanista das luzes: nada pode limitar a autonomia individual, fazendo crescer o egocentrismo e o interesse do poder por ele mesmo. Há, portanto “um esquecimento dos fins e o da sacralização dos meios.”. Em O Espírito das Luzes, o autor cita que, em 2007, por exemplo, Jacques Chirac, chefe de Estado francês, decidiu fazer um referendum, mesmo que para isso tivesse a possibilidade de sua derrota. Taticamente, ele seria enfraquecido e então poderia disputar as eleições presidenciais de 2007. Tal ato não se relacionava com o fato de levantar uma ideia, uma vez que até mesmo a Constituição europeia foi sacrificada em meio a esse desejo incessante pelo poder. Tal ato, consequentemente, assim como inúmeros outros de muitos governantes, não tem uma consciência por parte dos indivíduos. Estes não sabem a que estão sendo submetidos e mesmo assim se acham livres por estarem na democracia.
“Hoje os direitos do homem gozam de um imenso prestígio e quase todos os governos gostariam de apresentar como seus defensores. Isso não impede que os governos, mesmo os mais eloquentes nessa reivindicação, os rejeitem na prática quando as circunstâncias parecem exigi-lo.” (TODOROV, 2008, p.121)
Partindo dessas discussões sobre o poder, sabe-se que o pensamento das Luzes privilegia aquilo decidido pelo próprio indivíduo ao invés do que é imposto por uma autoridade externa. Na obra O Que São as Luzes, Kant define isso como um processo a se chegar ao estado de maioridade Se para ele a menoridade se vincula a obediência, para Foucault ela é o que interrompe a ordem (há uma valorização do “menor” que é silenciado e desqualificado na história). Deste modo, existe uma autonomia que se engaja no conhecimento sem precisar se esbarrar nas autoridades: “A finalidade é a autonomia do indivíduo, a capacidade de examinar de maneira crítica as normas existentes e escolher por si mesmo suas regras de conduta ou suas leis” (TODOROV, 2008, p.85). Todavia, essa pregação de liberdade se faz a partir de uma conduta burguesa: assegurar a liberdade significa, entre outras coisas, manter o equilíbrio dos diferentes poderes. O Estado garante, portanto, não a liberdade do povo, mas a liberdade do comércio, a revisão e a afirmação do sistema fiscal, e além de tudo, e a abolição de privilégios e das imunidades da nobreza e do clero, tão caro aos anseios burgueses em questão.
3 CONCLUSÃO
Portanto, a questão da liberdade é colocada onde lhe convém. Kant, a partir de sua perspectiva liberal e contratualista, mostra a possibilidade de ser livre a partir da obediência: a então “vontade comum” da maioria deve ser traduzida numa legislação geral para que os indivíduos obedeçam toda lei consentida. Caso contrário, o Estado pode intervir fazendo o uso racional da força. Foucault questiona essa liberdade condicionada proposta principalmente pelos contratualistas: se a propriedade é considerada sagrada nesse período (para os liberais especialmente), a visão de liberdade será direcionada a interesses meramente burgueses no período das Luzes. Todorov também permeia pela exaltação desses feitos e se questiona como essa totalidade de ideologias “bem intencionadas” e privilegiadas pela autonomia individual não foram inseridas no século XXI.
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