Resumo do livro: “As verdades e as formas jurídicas” (MICHEL FOUCAULT)
Por: Juliana2017 • 4/5/2018 • 5.439 Palavras (22 Páginas) • 718 Visualizações
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3.4.“conhecimento não está em absoluto inscrito na natureza humana” Utilizando à obra de Nietzsche, que para Foucault é a melhor escolha, pois segundo ele: “é o melhor, o mais eficaz e o mais atual”. A partir deste trecho da obra de Nietzsche citado na conferencia 1: “Em algum ponto perdido deste universo, cujo clarão se estende a inúmeros sistemas solares, houve, uma vez um astro sobre o qual animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o instante da maior mentira e da suprema arrogância da historia universal”
Desconsiderando erros que sabemos que na época eram entendidos com verdades Foucault realça a seguinte afirmação de Nietzsche: “animais inteligentes inventaram o conhecimento” e com sua conclusão brilhante que o ideal não tem origem. Ele foi fabricado, inventado, produzido por uma serie de pequenos mecanismos. Logo, dizer que o conhecimento foi inventado é dizer que o conhecimento não esta em absoluto inscrito na natureza humana, segundo Foucault.
“O conhecimento é simplesmente o resultado do jogo, do afrontamento, da junção, da
luta e do compromisso entre os instintos. É porque os instintos se encontram, se batem e
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chegam, finalmente, ao término de suas batalhas, a um compromisso, que algo se produz. Este algo é o conhecimento”
(FOUCAULT, 2002. pp. 16)
Esta é a ideia central da primeira conferencia de Foucault é que será base para a discussão das próximas conferencias. O autor vai demostrar como de fato as condições politicas, econômicas de existências não são atravanco para o sujeito de conhecimento, mas sim aquilo pelo qual se formam os sujeitos de conhecimento e em consequência as relações de verdades.
Conferência II
Na conferência II, Foucault vai analisar a história do Rei Édipo sobre uma nova ótica, uma vez que esta anteriormente na visão de Freud vinha sido considerada como a fábula mais antiga de nosso desejo e do nosso inconsciente. Foucault vai mostrar que a partir do livro lançado por Deleuze e Guattari que faz referência sobre essa história acabou desempenhando um papel totalmente diferente.
O mito de Rei Édipo é analisado sobre uma nova ótica, que serviu não para interpretar a psiquê humana, mas para demonstrar as formas jurídicas gregas vigentes na época em que foi escrito. O mito é dividido em três partes de duas metades, onde fica claro como o conhecimento seria interpretado com o tempo: primeiro ele era repassado pelos deuses (advinho Tirésias e oráculo de Delfos) que previam o futuro, em segundo lugar os soberanos (Édipo e Jocasta) falaram o que sabiam, e por último o povo (o pastor que vivia escondido e o escravo que pegou Édipo ainda bebê) testemunhariam sobre fatos que haviam presenciado. Por conseguinte, move-se então o conhecimento de algo que ainda não havia ocorrido para algo que já aconteceu, da profecia para o testemunho, dos deuses para os reis e depois para o povo.
Nessa perspectiva, Foucault nos remete ao conto de Homero sobre Antíloco e Menelau, que durante os jogos desencadearam um conflito. Menelau acusa Antíloco de cometer uma irregularidade e que por haver testemunhas, este desafia Antíloco a jurar diante dos deuses e é o que acontece e essa foi uma maneira singular de produzir a verdade, em síntese, ele utilizou uma forma de estabelecer-se uma verdade jurídica é criar-se uma
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conduta de sistema desafiador e uma prova. Não por uma testemunha do fato, pois não havia e não por uma forma clara e coerente de razão, mas por um desafio e uma provação. Sua renuncia seria, portanto, a constatação da acusação ou da afirmação preponente. Tal conduta, afirma Foucault, é característica da sociedade grega arcaica e se encontra na antiga Alta Idade-Média.
Na história, Édipo ameaça através de um juramento de exílio aquele que havia causado a maldição, a peste de Tebas. Não sabendo que ele mesmo era o culpado mas, Foucault nos chama atenção para uma lei contida na história, uma espécie de forma pura que ele chama de "lei das metades". O autor afirma que só obtém-se por metades o ajuste e encaixe da verdade no mito de Homero, somente por conspurcação. Há uma verdade pela metade que é “dada” por alguém, algum ser, e, sua complementação é obtida através de um representante próximo ou por outra pessoa. Foucault enfatiza o fato de que na tragédia de Édipo trata-se tudo no futuro, só há prescrições e nada é apontado.
Em contrapartida, o autor nos chama atenção para o testemunho sucumbido, e nos mostra, sob esta perspectiva, que o testemunho é dado de forma confusa, difusa, mas mesmo assim é dada. Como foi o caso do testemunho de Jocasta, ao dizer da morte de três e a de Édipo ao matar um. Nota-se o elo perdido que é encontrado quando se apercebe que Édipo não tinha matado só o rei, mas sim seu pai.
Cada testemunho é como uma peça de um quebra-cabeça, uma peça numa superestrutura. Trata-se, pois, de uma análise do discurso; não de una análise filosófica, mítica, poética ou cientifica, mas de observar o discurso em seu exercício, observá-lo de um ponto de vista pragmático.
Tendo em mente esta visão, o mito de Édipo de Sófocles consiste numa técnica, num instrumento de poder que permite a alguém que detém um segredo, ou um poder, quebrá-lo em duas partes e remontá-lo quando necessário. Tal técnica, afirma o autor, é muito difundida na religião, na política e na justiça. Assim, a tragédia de Édipo é um meio representativo de como se desloca a enunciação de uma verdade profética a um discurso também baseado na testemunha. Como a visão de estoica, difundida por Platão e Aristóteles, onde a linguagem é reduzida a uma função declarativa. Faz-se referência à mesma ao discurso doa deuses e a dos pastores. Ambos veem a mesma coisa, mas de formas diferentes. Um é cotidiano, o outro é profético. Porém, ambos correspondem-se.
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Mais a frente Foucault nos incentiva a procurar o nível dos reis, seu saber, e indaga: "Que significa seu olhar?". Remete-nos desta forma ao confronto entre o homem do inconsciente freudiano. Édipo não é aquele que não sabia, mas é aquele que sabia demais, aquele que provou do fruto
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