Resumo Texto Roberto DaMatta
Por: Ednelso245 • 6/6/2018 • 3.980 Palavras (16 Páginas) • 494 Visualizações
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Explicita o autor que o poder desses usos e a familiaridade com essa forma de identificação social revelam seu impacto e a sua frequência no cenário brasileiro. Tanto que o povo já desenvolveu mecanismos para repelir, sancionar tal comportamento.
Acredita-se que as pessoas que se utilizam do "sabe com quem está falando?", o fazem com intuito de se colocarem acima, diferenciarem-se das outras pessoas, estabelecendo, dessa forma, uma relação hierarquizada.
Pode-se afirmar que o uso dessa expressão não é específico de uma única categoria, e sim pode ser utilizada por filhos, esposas, empregados. Assim, fica demonstrado que a mesma é utilizada como forma de projeção social, na qual alguém que é "inferior" se utiliza da posição de seu "superior" para inferiorizar alguém, que na maioria da vezes seria considerado um igual.
O "sabe com quem está falando?" chama atenção para o domínio das relações pessoais desvinculada de camadas ou posições econômicas, contrastando com o domínio das relações impessoais geradas pelas leis e regulamentos diversos. Todos podem fazer uso do "sabe com quem está falando?" ("o superior"), e também qualquer um está sujeito a ser "vítima" do seu uso ("o inferior"). Salienta-se que "a fórmula "sabe com quem está falando" é, assim, uma função da dimensão hierarquizadora e da patronagem que permeia nossas relações diferenciais e permite, em consequência, o estabelecimento de elos personalizados em atividades basicamente impessoais.
A forma do "sabe com quem está falando?" pode ser substituída por um de seus equivalentes como: "Quem você pensa que é?", "Onde você pensa que está?", dentre tantas outras. Pode-se notar que todas essas expressões estão na forma interrogativa, evidentemente não cordial, que pode lembrar um inquérito. Há duas questões que se pode levantar sobre o assunto mencionado, a primeira é que o brasileiro não gosta de não saber algo, revelando sua possível ignorância frente a um determinado assunto, e ainda dentro deste mesmo pensamento, o brasileiro, desde sua infância, é ensinado a não fazer muitas perguntas, pois isso pode ser considerado indelicado ou um traço agressivo.
Fazendo um paralelo, com o uso da expressão "Who do you think you are?" (Quem você pensa que é?) pelos americanos, percebe-se logo que eles utilizam uma forma verticalizada, porém na perspectiva do "polo inferior", inclusive utilizando o verbo "to think" (pensar), ou seja, para quem está se proferindo esta expressão pensa que é superior, porém com esta frase é trazido a realidade. O uso da expressão americana apresenta um rito com o intuito de igualar as pessoas envolvidas, ou seja, tem a função inversa da expressão utilizada no Brasil.
O "sabe com quem está falando?" parece ser utilizado a bastante tempo,e seu uso tornou-se mais frequente depois que as características que destacavam os "superiores", como a bengala, os bigodes, saíram de moda, e assim se fez necessário o uso de algo que distinguisse os "superiores" e os "inferiores" para manter a boa e velha hierarquia.
Na medida em que as marcas de posição e hierarquização vão se perdendo, é necessário um aumento do uso das expressões que separam as posições sociais, para que mantenha-se o padrão hierarquizante na sociedade, mesmo quando a lei e o povo se dizem iguais.
Nesse norte, pode-se afirmar que ao mesmo tempo que são criadas leis para afirmar que todos são iguais, aqueles que se sentem "superiores" criam mecanismos para se fazer distintos, retomando a manutenção da hierarquia.
No Brasil a abolição da escravatura e demais leis que buscam a igualdade entre todos criou uma reação distinta as ocorridas em outros países, como os Estado Unidos. Lá, ocorreu uma prática social aberta, estabelecendo-se um sistema igualitário, o sistema do ser igual, mas separados. Já no Brasil, as diferenças se impuseram no campo pessoal, não se criando leis contrárias e segregacionistas, na base do "sabe com quem está falando?".
Aduz o autor, que o escritor Lima Barreto descreveu como nenhum outro o mundo social brasileiro, revelando a sofreguidão do uso dos títulos e formas hierarquizantes, a impessoalidade das regras universais sempre distorcidas em nome de uma relação pessoal importante. Expôs, com profundidade inigualável, as contradições de uma sociedade com dois ideais: de igualdade e o de hierarquia.
Outro escritor citado é Machado de Assis, e sua "Teoria do Medalhão". Esta seria uma fórmula para alcançar o sucesso em uma sociedade debelada pelo convencionalismo, pelas doutrinas fechadas, pelo conformismo que impede a criação de soluções originais, resumindo pelo sistema hierarquizante existente em países como o Brasil.
"Os Medalhões", na fala de Machado de Assis, seriam aqueles pessoas que prescindem de apresentação, aqueles que devem ser primeiramente procurados. Esses, também não são personagens de um só grupos social, podem surgir em qualquer segmento. Assim, apresenta-se, mais um forma para o estabelecimento de diferenças e hierarquia.
Nos sistemas igualitários, como o americano, são chamados de VIPs (very important persons), porém aparecem em número reduzido. Nos sistemas hierarquizantes, de forma diametralmente oposta, podem ser identificados inúmeras vezes, sempre gozando de fama, livres das regras constrangedoras, e livres do uso do "sabe com quem está falando?", já que todos já sabem com quem ou de quem se fala.
"Medalhões" são consideradas aquelas figuras conhecidas em âmbito nacional, as celebridades, os políticos, os jogadores de futebol, e sua fama acaba sendo estendida aqueles que se aproveitam dessa condição, como os familiares.
Nesse caso outro escritor é citado, Érico Veríssimo, conta, em seu livro A revolta do gato preto, que em uma de suas viagens aos EUA encontra-se no mesmo lugar onde estava um ganhador do Prêmio Nobel de Física. O escritor conta que ficou estupefato em como o cientista era tratado, sem nenhuma deferência ou tratamento especial, e sim era tratado como qualquer outra pessoa que ali se encontrava. Comentou o autor que se o mesmo se encontra-se no Brasil, com certeza, seu tratamento seria outro, e se assim não fossem tratados, já seria utilizada a frase "sabe com quem está falando?".
O mesmo autor ainda apresentou alguns elementos básicos do uso da supramencionada expressão: "ele fala em fortuna
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