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Renda e Produção

Por:   •  15/3/2018  •  10.522 Palavras (43 Páginas)  •  217 Visualizações

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As metamorfoses do capital

Nos romances clássicos dos séculos XIX, a riqueza estava em toda parte, e, quaisquer que fossem seu tamanho e seu detentor, ela invariavelmente aparecia de duas formas: terras ou dívidas públicas.

A dívida pública não é nada mais do que um crédito de uma parte do

país (aqueles que recebem os juros) junto a outra (aqueles que pagam os

impostos), deve-se, portanto, excluí-la da riqueza nacional e incluí-la na riqueza

privada.

Essa complexa questão do endividamento dos Estados e da natureza da riqueza correspondente é tão importante hoje quanto foi em 1800.

O processo de intermediação financeira (os indivíduos depositam dinheiro no banco, e esse, por sua vez, passa os recursos adiante) tornou-se tão complexo que muitas vezes se esquece quem é dono do quê.

A relação capital / renda seguiu trajetórias muito semelhantes nos dois países (França e Reino Unido), apresentando uma relativa estabilidade nos séculos XVIII e XIX, depois passando por um enorme choque no século XX,para finalmente retornar, no início do século XXI, aos níveis próximos dos observados às vésperas das guerras do século XX.

Metamorfose do Capital porque a longuíssimo prazo as terras foram aos poucos substituídas pelos imóveis e pelo capital profissional e financeiro, investido nas empresas e nas administrações públicas, sem que o valor do capital medido em anos de renda nacional tenha, de fato, se alterado.

Piketty diz que a dívida pública deveria ser tratada como um ativo privado, visto que apenas uma pequena parte da população se beneficia dela. Entretanto, ela é uma riqueza pública que se converte em privada, devido ao que rende para os seus beneficiados. Ao decorrer do capítulo é mostrado como ela foi importante para a construção de serviços públicos no século XX, qual a sua importância em cada época e como ela interfere na distribuição da riqueza e da renda.

Ao tratar da riqueza pública e da riqueza privada, são importantes os conceitos de:

-Capital Nacional= soma do Capital público e do capital privado;

-Capital Público= diferença entre os ativos e os passivos do Estado e das administrações públicas.

-Capital Privado=diferença entre os ativos e passivos das entidades privadas.

-Riqueza Líquida=diferença entre o valor de mercado do que se detém (ativos) e do que se deve (passivos ou dívidas).

Os ativos públicos podem ser não financeiros – na forma de edifícios públicos, utilizado por instituições públicas, como escolas e hospitais – e financeiros – quando o Estado tem participação financeiras nas empresas.

Tanto a França como o Reino Unido sempre foram países fundamentados na propriedade privada, neste indício de século, os dois países estão mais caracterizados por querer aumentar a dívida pública.

No passado, a monarquia britânica se endividou muito e os ingleses que dispunham dos recursos emprestavam quantias demandadas para o Estado e posteriormente recebiam os juros ao longo de décadas. A diferença desse tempo para a atualidade, é que nessa época a dívida pública compensava muito àqueles que a tinham.

No século XX, surgiu uma visão totalmente diferente da dívida pública, fundada na convicção de que o endividamento poderia, na verdade, ser um instrumento a serviço de uma política de despesas públicas e de redistribuição social em favor dos menos abastados.

A diferença entre as duas visões é bastante simples: no século XIX, a dívida rendia muito, o que era uma vantagem para os credores e reforçava a riqueza privada; no século XX, a dívida foi corroída pela inflação e os juros eram pagos com uma moeda cujo valor decrescia.

Desde os anos 1970-1980, as análises da dívida pública sofrem com o fato de que as análises dos economistas se baseiam demais na hipótese dos modelos de “agente representativo”, isto é, modelos nos quais cada agente supostamente dispõe da mesma renda e da mesma riqueza (e, portanto, da mesma quantidade de dívida pública).

Às vezes isso pode ser útil, porém, quando se ignora por completo a questão da desigualdade na distribuição da renda e da riqueza, esses modelos costumam chegar a conclusões extremas e pouco realistas. Desse modo, desconsidera-se que uma grande parte da dívida pública é detida, na pratica, por uma pequena parcela da população, de modo que a dívida alimenta redistribuições importantes no interior do país, tanto no caso em que ela é paga quanto no que não é.

Houve uma expansão correspondente ao aumento do papel econômico do Estado ao longo da história dos dois países em questão – e na maioria das nações - com o desenvolvimento dos serviços públicos no século XX, cada vez mais concentrados nas áreas de educação e saúde. Mas houve também, posteriormente e a longo prazo, importantes ondas de privatização desses mesmos ativos públicos.

Piketty expõe que o sucesso do desenvolvimento dos Estados se dá não pela quantidade de recursos poupados, e sim pela quantidade de recursos que o Estado consegue gastar, principalmente pela emissão de papéis de títulos públicos, pois é através deles que o Estado obtém recursos para financiar sua expansão.Outro fator de desenvolvimento, ao contrário do que muitos pensam, pode ser o déficit na balança comercial (mais importação e menos exportação), pois as grandes potências podem importar mais eao invés de mercadorias, exportar capital. Isso compensa o déficit comercial e obtém-se recursos para o crescimento do país da mesma forma.

Capítulo 4- Da Velha Europa ao Novo Mundo

O capital no Novo Mundo tomou formas particulares e específicas, primeiro

porque havia tanta abundância de terra que ela não era cara e, em segundo

lugar, pela importância do sistema de escravidão; por fim, porque essa região em

constante crescimento demográfico tendia a acumular, estruturalmente, menos

capital — em relação ao fluxo anual de renda e de produção — do que

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