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O CANIBALISMO ESTATAL PRESENTE NO SEGREDO DO SOYLENT GREEN: REFLEXOS ATEMPORAIS

Por:   •  6/5/2018  •  4.113 Palavras (17 Páginas)  •  431 Visualizações

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A trama tem início no assassinato misterioso de William R. Simonson, possuidor de grande patrimônio, inclusive de Shirl, “mobília” que faz parte de seu apartamento. No dia de seu assassinato, Shirl juntamente com o guarda Tab, vão ao encontro de um comerciante para comprarem mantimentos. Nesse pequeno lapso de tempo, Simonson não parece surpreso com a invasão de um sujeito e é assassinado. O detetive Thorn então é chamado ao ofício e começa a investigar o caso.

O investigador não poderia prever o que viria a seguir. Ele traz do apartamento de Simonson vários mantimentos (incluindo uma porção de carne) e bebidas que antes nunca havia visto. Junto com esses mantimentos, traz a seu parceiro Sol Roth, um livro intitulado “Relatório da investigação oceanográfica do Soylent”. Sol é professor e grande curioso das ciências. Contudo, jamais imaginaria encontrar o segredo de Soylent Green naquele documento.

E é exatamente o segredo a grande motivação para o assassinato – o que já era uma desconfiança presente em Thorn – só ainda não havia resolvido o mistério. O detetive investiga o padre que ouviu a confissão do milionário buscando por respostas e este parece não querer responder a suas indagações por estar devastado pela verdade. O governo pede ao delegado que dê o caso por encerrado, mas este se recusa. Sol, ao estudar o relatório saqueado por Thorn, vai ao “intercâmbio de livros” (semelhante a uma biblioteca) para desvendar o mistério do tablete verde.

Logo após descobrir o que está por trás do alimento, Sol, já esgotado daquela funesta realidade, vai a um centro de recolhimento que incentiva as pessoas a morrerem de forma agradável. São vinte minutos de experimentação do mundo como era quando possuidor de recursos, das melhores músicas e outras coisas que são específicas ao último desejo do ser. Thorn, ao descobrir que seu parceiro está partindo, vai ao seu encontro e presencia a cerimônia. O parceiro alerta o detetive que o mesmo procure provas do segredo.

O detetive descobre que os oceanos, bem como os plânctons, estão morrendo. O governo está produzindo Soylent Green de pessoas. Aqueles que morrem nos centros, os que são encontrados mortos e os recolhidos pelos caminhões (similares aos de lixo) durante as rebeliões são levados à indústria para se tornarem o tão precioso tablete verde.

Observa-se assim, um filme atemporal, que demonstra as crises existentes, desde a crise da democracia. Nas últimas décadas muito se discorre sobre a sustentabilidade, esta busca por racionalidade para com os recursos naturais. Diante disso, o filme demonstra a necessidade de conservação, de forma mediata, ao ponto em que pese quase meio século após o seu lançamento o mundo estaria completamente transformado, problemas que ao longo dos anos se agravaram e, consequentemente, emergiriam outros problemas ligados aos elos da sociedade. Conforme Leff,

la degradación ambiental, el riesgo de colapso ecológico y el avance de la desigualdade y la pobreza. La sustentabilidade es el significante de uma fala fundamental em la historia de la humanidade, crisis de civilización que alcanza su momento culminante em la modernidade (1998, p. 9).

É o relato não apenas de mais um enredo que pressagia as possíveis catástrofes que poderão ocorrer na contemporaneidade, juntamente com a evolução da espécie humana, mas um marco diante de outros filmes que também fizeram sucesso à época, uma película que não ousou em demonstrar a omissão por parte do Estado, a subalternidade daqueles que possuíam menos recursos financeiros aos que estavam em uma posição social mais elevada.

Como bem aponta o autor supracitado, estamos diante de “de tempos de hibridização, onde há matizes de culturas, e há a construção e reconstrução do mundo, resignificando identidades e sentidos como projeto unitário e homogeneizante da modernidade” (1998).

Nesse sentido, Schorr e Cenci discorre sobre a necessidade de transformação da consciência e de comportamentos do ser humano, para que haja efetivamente mudança. Em que pese isso será possibilitado através de uma nova percepção, com escopo em uma mudança profunda do modo de agir e pensar da sociedade, que consequentemente, “criarão novos valores, ou mesmo, outro modo de vivenciar os valores existentes, desenvolvendo, a partir da razão, novos meios de utilização dos recursos naturais disponíveis” (2014).

Assim, destaca-se que

a perspectiva ecológica exige a formação de um pensamento que reflita a heterogeneidade, a possibilidade da diferença, a tolerância e a solidariedade diante do outro. É preciso conceber uma sociedade na qual estejam desde sempre colocados múltiplos modos de viver e construir a realidade (...) isto não significa estar conformado com a desigualdade, mas o reconhecimento da sua dimensão para estabelecer um diálogo democrático na direção de um senso comum em defesa de todas as formas de vida, o qual parta das diferenças para poder superar as iniquidades, (TYBUSCH, 2013, p. 255).

A sustentabilidade tornou-se mais visível diante do processo de globalização, pois é necessário repensar as atitudes humanas, tanto com os recursos naturais, bem como com os outros indivíduos em sua totalidade. Sustentar é um termo que pode ter esse duplo sentido.

A relação humana em geral, demonstra a inversão de poderes, prevalecendo interesse do poder privado sobre o público, não é o interesse da maioria que é almejado, mas sim o interesse em particular, o que gera inúmeras consequências negativas e desencadeia outros obstáculos, por isso há a necessidade de rever conceitos, de almejar uma sustentabilidade viável no campo econômico, socialmente justa e que contribua para uma cultura que propicie a sustentabilidade.

A película demonstra até onde pode chegar a sociedade. Portanto, falsa é a ideia de progresso da civilização quando se está diante de grande descaso com o meio em que se está inserido, como bem é retratado. A sociedade caminha a passos largos para atingir patamares mais elevados, no âmbito da economia e tecnologia, mas enquanto se estiver a degradar cada vez mais rapidamente os recursos naturais - já tão escassos atualmente – pouco se pode falar em progresso.

3 A REPERCUSSÃO NOS DIREITOS HUMANOS

As últimas décadas, vistas como evolução histórica, demonstram um momento peculiar e significativo da trajetória do homem, que, conforme Nielsson e Bedin, pode ser denominado como um “período de emergência de um novo tempo de viver e refletir dos seres humanos, porém evidencia-se

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