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A Ralé Brasileira

Por:   •  10/9/2018  •  1.281 Palavras (6 Páginas)  •  188 Visualizações

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O homem é essencialmente produto de sua socialização, pensá-lo fora de seu contexto social é “tornar invisível duas questões que permitem efetivamente ‘compreender’ o fenômeno da desigualdade social: a sua gênese e a sua reprodução no tempo.” Isso acontece quando a realidade das classes é percebida somente através de dois fatores, a renda e o lugar na produção. Deixando de lado todos os fatores e pré condições sociais, emocionais, morais que constituem a renda diferenciada. O que acarreta uma confusão entre causa e efeito.

Nossa sociedade predominantemente economicista tende a acreditar que “herança” resume-se ao conjunto de bens materiais que um indivíduo deixa para seus descendentes. Ledo engano. Jessé evidencia que para além dos recursos econômicos existe outra forma de herança, passada entre as gerações através dos mecanismos de socialização.

“O processo de competição social não começa na escola, como pensa o economicismo, mas já está, em grande parte, pré-decidido na socialização familiar pré-escolar produzida por “culturas de classe” distintas.”

Jessé aponta a cegueira da visão economicista do mundo como sendo a incapacidade de perceber que o mais importante na reprodução das classes sociais é, na verdade, a transferência de valores imateriais. Segundo ele, é preciso perceber que mesmo entre as classes mais abastadas, é preciso que os filhos herdem certos padrões de comportamentos para manterem a vida privilegiada. Os indivíduos dessas classes, sabem que devem imitar certos padrões de comportamento para se manterem nesse patamar elevado.

Já na classe média, essa transmissão de valores se dá de forma imperceptível, através das relações afetivas que acontecem cotidianamente dentro do universo das casas. Essas transmissões serão responsáveis por dar aos filhos “precondições de competir, com chances de sucesso, na aquisição e reprodução de capital cultural.”

“O filho ou filha de classe média se acostuma, desde tenra idade, a ver o pai lendo jornal, a mãe lendo um romance, o tio falando inglês fluente, o irmão mais velho que ensina os segredos do computador brincando com jogos. O processo da identificação afetiva – imitar aquilo a que se ama – se dá de maneira ‘natural’ ou ‘pré-reflexivo’, sem a mediação da consciência, como quem respira ou anda, e é isso que o torna tanto invisível quanto extremamente eficaz como legitimação do privilégio.”

Esse fator, apesar de “invisível” já envolve extraordinária vantagem na competição social. Tanto as escolas quanto o mercado de trabalho, esquecendo de considerar a influência do social no desenvolvimento e capacitação das pessoas, irão naturalmente exigir capacidades pertencentes as classes sociais com certa condição de trabalha.

Interessante notar que, quando um indivíduo de classe baixa consegue escapar desse círculo vicioso hereditário, e obter certo “sucesso na vida” o economicismo retira daí argumentos para reforçar a ideia de que o que faz a diferença é o mérito social. O que acontece é que casos isolados são usados como exemplo e justificação para a naturalização de cotidianos humilhantes para milhões de pessoas. É esse pensamento, denominado meritocracia, que fundamenta a crença de um mundo justo e igualitário, onde o único diferencial para o sucesso é o desempenho diferencial dos indivíduos.

“O que vai ser chamado de “mérito individual” mais tarde e legitimar todo o tipo de privilégio não é um milagre que “cai do céu”, mas é produzido por heranças afetivas de “culturas de classe” distintas, passadas de pais para filhos.”

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