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FICHAMENTO COMPLETO DO LIVRO CRASH, DE ALEXANDRE VERSIGNASSI

Por:   •  7/5/2018  •  27.161 Palavras (109 Páginas)  •  316 Visualizações

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Você pode imaginar que carregar sacos de comida por aí para trocar por outros produtos não era lá muito prático. Mas os babilônios, povo que viveu no Crescente Fértil há 4 mil anos, criaram uma forma de driblar isso. E, de quebra, inventaram duas coisas que você conhece melhor ainda: as cédulas e os Bancos. (p. 20)

Era um esquema sofisticado. Até juros compostos eles já cobravam. Juro composto, vale lembrar, é aquilo de pagar uma taxa de 1% ao mês que, ao fim de um ano, não terá somado 12%, mas 12,7%. E que, ao fim de 20 anos, não vai dar 240% (o número de meses em duas décadas), mas 989%! Quase dez vezes mais que o valor financiado. Se você deve 100, o 1% incide só sobre os 100. No mês seguinte, será 1% sobre 101. E por aí vai. Parece pouco, mas, depois de um bom tempo, você está com uma dívida de lascar. Qualquer semelhança com o que acontece quando você financia um carro ou compra um apartamento não é mera coincidência. No fundo, nunca deixamos de ser babilônios. (p. 20)

Os tabletes da Babilônia podiam ser uma ideia genial. Mas não foi a que vingou. [...] Para que o dinheiro virasse dinheiro mesmo, era preciso que ele estivesse sob a forma de algo que durasse muito e que, de quebra, respeitasse aqueles dois pré-requisitos que a comida preenchia: ser algo relativamente raro e que todo mundo quer. O sal cumpria esse papel. (p 20)

Couro, peixe seco, penas de certas aves, conchas bonitas, pinga. Praticamente qualquer coisa que muita gente quisesse e não fosse fácil de obter já foi usada como dinheiro. Até depois da invenção do dinheiro. E até no tempo e no espaço em que o nome dele já era “dólar”. (p. 21)

Como ensina Eduardo Dusek naquela música politicamente incorreta dos anos 80: “Troque seu cachorro por uma criança pobre / Sem parente, sem carinho, sem rango, sem cobre”. Essa estrofe traça involuntariamente a história do dinheiro. Depois do rango − a comida, primeiro meio universal de troca −, vem um metal, o cobre. Foi basicamente o que aconteceu na vida real. E Eduardo Dusek estava mais certo ainda: o primeiro metal usado em grande escala pela humanidade, aquele que acabaria fazendo o papel que as suas notas de R$ 50,00 fazem hoje, foi justamente o cobre. (p. 21)

Com uma vantagem sobre os sacos de grãos, o sal ou qualquer outra mercadoria: ele durava bem mais. Dava para acumular cobre à vontade, e ele continuaria ali, sem estragar [...] Desse jeito, não deu outra: a posse de cobre se tornou algo tão seguro quanto a posse de terras. Era algo que podia ser passado de mão em mão por gerações. (p. 21)

As barras de cobre viraram a primeira moeda universal e, quando começaram a misturar cobre com estanho para fazer um metal mais resistente, bem melhor para a forja de armas, esse derivado também virou moeda: o bronze. Mas quando falamos em dinheiro o fator raridade é mais importante que o fator utilidade. O ouro, por exemplo, não serve para nada além de deixar claro para todo mundo que você possui algo extremamente raro em casa, no pulso ou no pescoço. Ele é tão escasso que, se você reunisse todo o ouro minerado na história da humanidade e juntasse num bloco maciço, teria só um cubo com 20 metros de lado. (p. 21-22)

Mesmo com essa rotatividade toda, sempre foi pouco ouro para a economia do planeta viver em função dele, mas foi precisamente o que aconteceu. E que, de certa forma, continua acontecendo. [...] O ouro não só sempre foi dinheiro como ainda vale “mais do que dinheiro”, no sentido de que tende a valorizar mais do que qualquer índice de inflação. Só entre 2005 e 2010 o preço do grama de ouro em dólar aumentou 190%. (p. 22)

As amostras do quanto os metais foram importantes no papel de dinheiro continuam em todo canto. Várias moedas de hoje carregam nomes que têm a ver com eles. A libra esterlina, por exemplo. Libra (pound, no original) é meio quilo; e “esterlina”, um adjetivo para o grau de pureza da prata. Uma libra esterlina, então, é literalmente “meio quilo de prata da boa”. (p. 22)

Outra vantagem dos metais é que tudo passou a ter preços bem claros. Um documento egípcio de 1000 a.C. que registra a transação financeira para a compra de um boi ilustra isso bem. O animal valia 50 debens (4,5 quilos) de cobre. O comprador, porém, só tinha 5 debens. Então completou o resto em alimentos e vestimentas, como faziam antes da ascensão dos metais, só que no documento esses produtos aparecem cotados em debens de cobre também: banha (30 debens), óleo (5 debens) e mais 10 debens em roupas fechavam os 45 que faltavam. (p. 23)

Cada coisa passou a ter um valor traduzido para uma unidade monetária. Então, do mesmo jeito que temos os reais e os dólares hoje, tínhamos os debens de cobre lá, certo? Não. A maior revolução ainda não tinha acontecido: a criação do dinheiro de mentira. Exatamente o que está na sua carteira hoje. (p. 23)

É difícil saber se você está com uma embalagem de 100 ou de 125 gramas de presunto na mão. Se o objeto em questão é presunto, 25 gramas a mais ou a menos não fazem grande diferença. Mas com ouro, prata ou cobre é outra história. Então, qualquer transação financeira tinha de envolver uma balança no meio. E aí temos dois problemas. Um: não é fácil depender da presença de uma balança sempre que você for comprar alguma coisa. Dois: fica fácil de trapacear, seja na ponta do comerciante, que pode fraudar a balança para ela dizer que o metal do cliente é menos pesado do que ele diz; seja na ponta do consumidor, que pode chegar com metais “sujos”, cheios de outros minérios que não valem nada incrustados lá no meio. (p. 23)

Quando o dinheiro era comida, você podia plantá-lo ou criá-lo na forma de gado. Quando era sal, dava para filtrar o cloreto de sódio a partir da água do mar. Quando eram peças simples de ouro e prata, tinha como ir minerar para conseguir mais. Mas o ponto é que agora existia uma moeda corrente controlada pelo governo. Isso, de cara, aumenta a confiança das pessoas na hora de fazer negócios. Se você não precisa nem de uma balança, nem de nada, fica bem mais fácil comprar e vender. E quanto mais negócios, mais rica a sua nação. Bom para todo mundo. (p. 23)

Imagine um governo que depende de ouro e prata para cunhar suas moedas. Imaginou? Então. Ele precisa minerar o ouro e a prata para fazer dinheiro. Mas, se a mina se esgota, vai um tempão até encontrar outra e extrair metal precioso de novo. Nisso, o suprimento de moedas no mercado diminui com o tempo. (p. 24)

Quando o suprimento de moedas diminui, a economia interna também míngua. Óbvio: as pessoas acabam com menos dinheiro no bolso, então compram menos coisas.

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