Análise Teórica do Modelo de Gestão das Empresas Familiares: Um olhar para as Micro, Pequenas e Médias Empresas (PME’s) em Moçambique (2002
Por: Carolina234 • 20/3/2018 • 15.565 Palavras (63 Páginas) • 511 Visualizações
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Segundo a tabela abaixo, discriminando em grandes empresas e PME’s, verifica-se que, do total das empresas, as PME’s representavam 98,6% com 80% da força de trabalho e 41,5% do volume de negócios.
Tabela 1: Nº de empresas, pessoas ao serviço e volume de negócios em 2002 (10^6).
Tamanho Total de Empresas % Pessoas ao serviço % Volume de Negócios % Grandes Empresas 396 1.4% 60,149 20.0% 38,842,454 58.5% PME's 28,474 98.6% 240,996 80.0% 27,601,800 41.5% Total 28,870 100.0% 301,145 100.0% 66,444,254 100.0% Fonte: INE (CEMPRE, 2004)
Logicamente que, em termos de valor acrescentado (na geração de rendimento ou no contributo ao PIB), as grandes empresas têm um contributo desproporcional, comparativamente ao número de empresas (pelo volume de negócios, as PME’s perfazem 41,5%).
De 2002 até 2006, as PME’s apresentam-se com um peso médio anual de 98,8% (em termos de número de empresas), com uma taxa média anual de crescimento de 16,1%2, comparado com 6,6% das grandes empresas3. Portanto, no caso específico de Moçambique, o processo de crescimento, acumulação de capital e
2 Embora, há que ter muito cuidado na interpretação deste crescimento, pois que este valor é fortemente influenciado pelo ano de 2003, em que o crescimento de PME’s esteve acima dos 50%. Mas que nos anos seguintes, o mesmo esteve a uma média anual abaixo de 3,4%. Infelizmente, a dificuldade de obtenção de informação no INE não permite que se analise se este crescimento deve-se a novas entradas ou pela maior abrangência dos dados.
3 INE, 2007 4
desenvolvimento sustentável da economia nacional passa necessariamente pelo estudo das PME’s, no seu todo.
Apesar do governo moçambicano4 ter declarado as PME’s como uma das suas grandes prioridades e de organismos internacionais5, efectivamente, o que se verifica é uma tendência de domínio da economia por empresas de larga escala e, de grande nível de capital privado e estrangeiro, com fracas ligações internas de input-output e de fracas ligações fiscais. Estas empresas chegam a contribuir em mais de metade no crescimento económico, mas que grande parte deste produto é exportado para os países de origem do capital. Portanto, é fácil notar que as suas ligações com o desenvolvimento económico de Moçambique são muito fracas e tendenciosas. Portanto, sabendo que tipo de empresas temos e as características do crescimento da economia nacional, torna-se importante valorizar o crescimento via PME’s.
4 Veja: Programa do Governo (1999, 2004, 2009).
5 O Banco mundial aprovou mais de USD 10 biliões em programas de apoio às PME’s, entre 1999 a 2004 (Beck & Demirguch-Kunt, 2004).
6 Dificuldades de acesso ao crédito, taxas de juros elevadas, elevados custos de transação, instituições concentradas no grande capital, ausência de serviços de apoio.
7 Estas empresas são na sua maioria geridas por famílias.
E a dificuldade que as PME’s têm de crescerem e tornarem-se rentáveis está fortemente associado ao ambiente empresarial em que operam6, associado aos desafios do tipo de gestão interna7, diante da influência causada pelos valores familiares no processo de decisão. Neste ambiente, perde-se a oportunidade de criar uma classe média sólida e dominada por empresários virados para o mercado interno e com fortes capacidades de liderarem os objectivos da redução da pobreza.
É neste contexto que surge a motivação para a elaboração deste trabalho, com o intuito de prestar uma contribuição para o conhecimento do contexto e das principais características das PME’s, uma vez que os aspectos familiares podem vir a representar uma vantagem competitiva frente à concorrência e, no entanto, estes mesmos aspectos, que são princípios da lealdade, cumplicidade, identificação com o negócio familiar, ou seja, valores presentes em uma família, também podem vir a ser a causa de falências das empresas, caso não estejam associados aos valores empresariais, como processos e modelos de gestão e, num país em que os níveis de pobreza são altos, com a maioria da população vivendo na zona rural e tendo uma agricultura de subsistência. Nesta linha de pensamento e tendo em conta a motivação 5
para a realização deste trabalho, coloca-se a seguinte questão: Em que medida o modelo de gestão das empresas familiares contribui para o fortalecimento da economia moçambicana através das PME’s, uma vez que estas constituem a maioria do tecido empresarial do País?
1.3. Justificativa
O tema a ser desenvolvido têm sua relevância, pois que, actualmente, um dos grandes focos do Governo e de entidades internacionais é o desenvolvimento da economia nacional de forma sustentável e com foco na redução da pobreza e, estas entidades reconhecem que tal deverá ser feito com foco em pequenos negócios, ou seja, com o incremento das PME’s na economia moçambicana. Ora, a maioria, senão a totalidade destas empresas em Moçambique são geridas por famílias. Portanto, há que estudar como as empresas familiares funcionam diante da influência dos valores familiares nos seus processos de gestão e de sucessão, para daí criar-se um sector privado muito forte, diversificado e sustentável. Por outro lado, este trabalho poderá servir de mais um instrumento de consulta para os gestores deste tipo de empresa.
1.4. Objectivos
1.4.1. Objectivo Geral
Analisar de forma teórica o modelo de gestão das empresas familiares (Micro, pequenas e médias empresas) em Moçambique.
1.4.2. Objectivos Específicos
Contextualizar o ambiente das micro, pequenas e médias empresas, com foco na empresa familiar, conceituando e caracterizando o seu contexto histórico, composição e modelo de gestão.
Compreender a composição de uma empresa familiar e os principais conflitos decorrentes da vertente empresa versus família, com um enfoque para a influência dos valores familiares no seu processo de decisão, num âmbito de pesquisa e busca bibliográfica.
Identificar os conflitos ocasionados pelas principais decisões estratégicas, no âmbito administrativo das empresas familiares, bem como no processo sucessório, traçando uma discussão sobre as vantagens e desvantagens da gestão familiar em cada um dos seus aspectos
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