Analise do Livro "A Revolução dos Bichos"
Por: Sara • 21/3/2018 • 2.117 Palavras (9 Páginas) • 387 Visualizações
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Assim, um grupo de homens invadem a granja e explodem o moinho. Os animais revoltados, pois o moinho havia sido destruído mais uma vez, enfrentam e expulsam os homens. Mais uma vez os animais trabalham demais e o pior de tudo, sem comida. Sansão, cavalo muito trabalhador e leal, morre ao ser levado pela carrocinha, por estar doente e não conseguir trabalhar mais. Gradativamente os animais que viveram a época do Sr. Jones foram morrendo, e as novas gerações já não sabiam como era a vida antes e durante a Revolução. Só conheciam a vida sob o domínio de Napoleão.
Análise da obra e sua relação com a sociedade contemporânea
No início da história temos a figura do senhor Jones, dono da fazenda e, como tal, explorava o trabalho animal em benefício próprio, com o objetivo de acumular capital. Pelo trabalho, os animais recebiam alimentação, mas esta era de qualidade e suficiente a todos. Esse quadro expressa a sociedade capitalista, em que o mais trabalhador é explorado e separado do fruto de seu trabalho. A concepção de trabalho como o conhecemos surgiu a partir dos estudos de Marx, acerca da sociedade capitalista. Em suas análises, o trabalho ocupa lugar central, por ser um termo historicamente construído, “que indica a condição da atividade humana no que denomina economia política, ou seja, a sociedade fundada sobre a propriedade privada dos meios de produção e a teoria ou ideologia que a expressa” (MANACORDA, 1991, p. 44).
Assim, no caráter descrito pela economia política, o trabalho, enquanto princípio desta é o eixo particular da propriedade privada e está para o trabalhador como bem alheio a ele e é prejudicial e nocivo. Sendo assim, a atividade humana enquanto trabalho, tende a tornar-se estranha a si, estranha ao homem e à natureza e, por conseguinte, a consciência e à vida. E à medida que este trabalho constrói-se historicamente, torna-se a única forma existente, e em vista disso, atividade alienante formadora de homens alienados. Assim, o trabalho perdeu toda a sua subjetividade e somente com a apropriação dos instrumentos de produção, ou dos meios de produção, será possível atingir a expressão pessoal.
Neste contexto, a Revolução dos bichos liderada pelo Major, tinha por fundamento a igualdade. Nesta perspectiva, o Animalismo corresponde ao Socialismo, regime em que não existe propriedade privada e em que todos são iguais e trabalham para o bem comum. Por isso, Marx insiste em seus escritos pela união dos trabalhadores, pois é a partir dessa união que estes poderão reclamar para si o que a eles são de direito. A tomada do modo de produção pelos trabalhadores, na perspectiva marxiana, provocaria uma transformação social. Porém, não basta que os trabalhadores assumam o poder, é preciso destruir o sistema, pois sem isso os dominados apenas se tornariam dominantes.
Com a revolução dos bichos, no princípio, houve democracia e igualdade, uma espécie de socialismo democrático, em que todos tinham voz. Entretanto, não satisfeito com a situação, Napoleão promoveu um golpe e tomou para si o poder. Assim, essa passagem representa a busca pelo status e poder absoluto, em que para conseguir seus objetivos tudo torna-se válido. Tal situação remete-nos aos regimes totalitários que camuflados por um pseudossocialismo, em que muitos líderes massacraram seu povo com ideais escusos, submetendo-os à pobreza extrema enquanto eles ficavam cada vez mais ricos. Assim como na fazenda, do livro analisado, nos países sob o totalitarismo, instaura-se uma verdadeira ditadura, em que o povo não tem liberdade de expressão e seus direitos são esmagados em nome do capital.
Na busca incessante pelo poder e pela riqueza, os donos do capital não se preocupam com direitos humanos, e explorando seus trabalhadores à exaustão. E quem ousa opor-se ao sistema é duramente repreendido, muitas vezes com a vida. Neste contexto, a fábula nos apresenta dois tipos de dominação. A primeira ocorre pela sedução: um exemplo são os argumentos utilizados por Garganta para persuadir os animais; na vida real temos a mídia que serve para nos conformar quanto a nossa sorte e assim, nos apresenta um mundo de faz de conta. Essa ação nos torna sujeitos alienados. A segunda é a dominação pela força física. Nesse sentido quem se rebela contra sistema é repreendido fisicamente. Temos casos como a missionária Dorothy Stang que lutava contra a exploração ilegal de madeira, no Pará, e defendia uma reforma agrária justa.
A segmentação do trabalho controla a divisão da sociedade em classes e, consequentemente, a cisão do homem em trabalhador manual e trabalhador intelectual. É nessa perspectiva que, a divisão causa a unilateralidade, reunindo assim, todas as determinações negativas, em oposição à omnilateralidade que caracteriza-se pelas perspectivas positivas de uma pessoa. Diante da alienação humana, está a necessidade da omnilateralidade, de um desenvolvimento panorâmico, multilateral, em que todos os sentidos, possibilidades e forças produtivas, das necessidades e da capacidade de prazer, “o homem se apropria de uma maneira omnilateral do seu ser omnilateral, portanto, como homem total” (MARX, apud, MANACORDA, 1991, p. 79). Para Marx, o homem omnilateral é aquele completo que desenvolve suas capacidades físicas e intelectuais.
De acordo com a perspectiva marxiana, a educação formal representa e desempenha um papel bem definido no sistema, que pode ser denominado práxis político-pedagógica, pensado por Marx que fundamenta-se na educação aliada ao trabalho e lutas sociais. A escola, hoje, está estruturalmente voltada ao interesse burguês, por se originar no seio da sociedade capitalista, incorporada ao modelo democrático-burguês servindo como mecanismo de manipulação e reprodução da ideologia socialmente dominante. Sendo assim, a escola como microestrutura, depende de uma estrutura maior para existir, emaranhando-se numa complexa rede complexa e contraditória.
Nessa perspectiva também podemos dialogar com Paulo Freire. Este concebe o homem como um ser da práxis, por isso mesmo, está em constante relação com o mundo, em que é possível conhecê-lo e transformá-lo. Os homens são seres de ação, sendo assim seu fazer é ação e reflexão. E à medida que o quefazer é práxis, acaba por fundamentar-se em uma teoria que a ele dê sentido. “O quefazer é teoria e prática. Ação e reflexão. Não pode reduzir-se [...] nem ao verbalismo, nem ao ativismo.” (FREIRE, 2014, p.168). Assim, para melhor compreensão Freire cita Lênin que em What is to be done? Afirma que “Sem teoria revolucionária não pode haver movimento revolucionário.” Ou seja, teoria e prática são
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