OPISANIE SWIATA - REPRESENTAÇÕES DE DESCOLAMENTO NA OBRA DE VERÔNICA STIGGER
Por: Kleber.Oliveira • 1/9/2017 • 3.529 Palavras (15 Páginas) • 623 Visualizações
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a editora Saraiva: “Acho que é o estranhamento que eu mais persigo nos meus textos. Mas estranhamento num sentido particular: algo se torna estranho, em primeiro lugar, porque se acha deslocado do contexto em que deveria estar e, em segundo, porque este deslocamento, este estranhamento, é tratado com naturalidade pelo narrador e pelos personagens”.
2 SOBRE VERÔNICA STIGGER
Veronica Stigger nasceu em 1973, em Porto Alegre, e atua como escritora, crítica de arte e professora universitária. Gaúcha radicada em São Paulo desde 2001, Veronica Stigger também é doutora em história da arte. Defendeu tese sobre a relação entre arte, mito e modernidade, enfatizando as obras de Kurt Schwitters, Marcel Duchamp, Piet Mondrian e Kasimir Malevitch. Em seu pós-doutorado estudou, entre outros, os artistas brasileiros Maria Martins e Flávio de Carvalho.
Seu primeiro livro, O trágico e outras comédias, foi publicado pela editora
portuguesa Angelus Novus, em 2003 e, no Brasil, pela 7Letras, em 2004. Pela Cosac Naify, publicou Gran cabaret demenzial (2007), Os anões (2010) e Opisanie swiata (2013), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2014.
Alguns de seus contos foram traduzidos para o catalão, o espanhol, o francês e o italiano. Depois de três livros de contos, lançou em 2013 seu primeiro romance. Opisanie swiata ("Descrição do mundo’, em polonês); ganhou o o Prêmio Machado de Assis (melhor romance) da Biblioteca Nacional de 2013, o Prêmio São Paulo de 2014, na categoria "melhor estreante acima de 40 anos", e o Prêmio Açorianos de narrativa longa, também em 2014. Participou da mesa O Futuro do Presente, na FLIP 2007.
2.1 OPSANIE SWIATA DE VERÔNICA STIGGER: A APRESENTAÇÃO DA OBRA E DOS PERSONAGENS
O livro de Veronica tem a ver com a composição de seu trabalho, não apenas desde os primeiros livros — ou do mais recente publicado apenas na Argentina, “Sur” —, mas também com uma tarefa crítica que atravessa alguns de seus interesses, como por exemplo Flávio de Carvalho (que procura compor uma deformação entre o que pode ser a imagem e a memória do corpo numa afrontalidade com o intocável e com o não acabado, daí “A origem animal de Deus”, por exemplo) e Maria Martins, particularmente, como ela mesma ressalta, a série “Amazônia” (Veronica fez a curadoria da exposição “Maria Martins: Metamorfoses” no MAM-SP).
Depois, ainda, seus livros traçam uma linha modulada e pontiaguda do que vem de alguns escritores que estão entre os mais imaginativos e inventivos no Brasil.
Neste romance, tudo tem início através de Natanael, que vive na Amazônia em meados dos anos 1930 e está à beira da morte, e pede a seu médico e confidente Dr. Amado Silva que envie uma carta que ele escreveu ao pai, cujo nome é Opalka e vive na Polônia, que venha visitá-lo o quanto antes, pois nunca teve a oportunidade de conhecê-lo antes, porque o Sr. Opalka esteve no Brasil no início dos anos 1900, teve um relacionamento, mas como ficou muito doente, voltou para a Polônia a fim de se tratar e acabou ficando por lá, e por isso, nunca soube da existência do filho.
Ao receber a carta, o Sr. Opalka ficou extremamente comovido com o pedido do jovem e, tocado com o pedido do filho, decidiu partir imediatamente para a Amazônia, que implica trem e navio, com o intuito de ainda encontrar o filho com vida para então se despedir.
Os preparativos da viagem são feitos e o Sr. Opalka vai para a estação tomar o trem que o levará até o local, onde ele embarcará num navio rumo ao Brasil. É então, que outro personagem entra na história e muda toda a prosa. Pensamos que o encontro inusitado entre um filho moribundo e um homem que foi pego de surpresa ao descobrir que era pai e que o filho estava morrendo seria a trama principal, mas Bopp, esse estranho personagem, traz outra história, talvez aquela que a escritora estava querendo nos contar.
Opisanie Swiata em polonês significa "descrição do mundo", um mundo descrito a partir do momento que o Sr. Opalka embarca e se depara com Bopp, um alemão extremamente atrapalhado que num primeiro momento nos parece aqueles passageiros chatos que temos a sorte ou não de encontrar numa viagem e que se sentam ao nosso lado, falando coisas sem sentido quando clamamos por silêncio porque queremos ler em paz, que se mete em assuntos que não lhe são pertinentes, que repara insistentemente na nossa maneira de vestir e nos nossos objetos e que ainda se comporta como se fosse nosso melhor amigo de infância.
Porém, com o desenrolar da narrativa, percebemos que a conduta de Bopp é outra, justamente o de apresentar esse "mundo" a um homem velho e solitário que está fazendo uma viagem melancólica indo em busca de um filho que talvez não tenha tempo de conhecer.
Bopp é responsável por muitos dos momentos mais leves da narrativa, pois conforme ele vai se envolvendo com os demais passageiros daquele navio, eles vão desnudando sua personalidade e por muitas vezes coisas bizarras aparecem e vão compondo um cenário excêntrico, as vezes surreal, mas que talvez seja a leitura comum que fazemos dos outros e das suas atitudes, que podem parecer estranhas a um homem solitário, que se não tivesse Bopp por perto certamente a história teria tomado um outro rumo, uma direção mais melancólica devido as condições em que Opalka é dirigido ao Brasil.
O romance é permeado por apontamentos breves, com imagens de recortes de jornal, contendo a publicidade da época em que a história se passa, anos 1930, onde também retrata-se imagens de postais da Polônia que combinaram perfeitamente com a narrativa.
O livro de Verônica não procura aprofundar as relações entre Opalka e Bopp, e sequer trata das histórias individuais de um e de outro. O argumento inicial mostrado é de um homem que parte em busca de um último adeus ao filho desconhecido, e que transpõe logo após em uma série de histórias paralelas de gente que saiu de vários cantos e percorreu tantos outros.
Dentre estas diversas cenas, há descrições das brincadeiras de três crianças e de uma cachorra chamada Margarida, cujo local também é o navio. Há uma cena que causa bastante distúrbio em que envolve um russo, uma criatura misteriosa e uma moça que dança descontroladamente. Há também um homem apaixonado por esmeraldas cuja história é revelada por um companheiro de viagem de Bopp e Opalka.
É sintomática a cena em que Bopp narra a Opalka com detalhes o momento em que estava na mata, e encontrou uma senhora, de aparentemente cem anos, pele enrugada, óculos que preenchiam todo o rosto
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