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O conto Africano em Língua Portuguesa

Por:   •  10/8/2017  •  1.321 Palavras (6 Páginas)  •  594 Visualizações

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social. As suas experiências refletem, como diria o próprio autor, mágoa e esperança. Mágoa pela aparência escatologizante de que se reveste o fenômeno guerra, com toda a sua brutalidade catastrófica. Esperança, em razão do sonho de viver em um espaço menos hostil, na terra mãe que recebeu os mortos dos conflitos. Mortos, que, simbolicamente, apontam para um novo recomeço para Moçambique.

Como em Fronteiras Perdidas (1999), de José Eduardo Agualusa, tomada em seu conjunto, constitui uma viagem literária pelo tempo-espaço da pós-colonização. No mosaico das narrativas ficcionais, fragmentos da pouco conhecida história de Angola rompem com a linearidade historiográfica tradicional, de modo a reconsiderar criticamente o passado. Os contos assumem a perspectiva do presente, desconstroem as “versões oficiais” sobre os acontecimentos reais e, em seu lugar, erguem um universo ficcional no qual há meramente versões, numa polifonia capaz de engendrar as mais inconcebíveis temporalidades. Nos textos de ficção que integram o livro, Agualusa articula historicamente o passado nos termos propostos por Walter Benjamin: não tem a pretensão de conhecê-lo “como ele de fato foi”, mas “apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja num momento de perigo” (p. 224); afinal, o passado é um tempo saturado de “agoras”, que só se deixa perceber por meio de fragmentos, jamais pela totalidade.

Os contos produzidos mostram que as relações entre Portugal e África ultrapassam o período colonial e se constituem ainda hoje, quando as fronteiras se sugerem menos nítidas. As narrativas breves e concisas, contendo um só conflito, uma única ação (com espaço limitado a um ambiente), unidade de tempo, e número restrito de personagens facilitam a transmissão da história e na conscientização do povo para o que acontece. Ana Mafalda Leite diz: Ora, talvez mais do que qualquer outro gênero, o conto oral é universal e comum a todas as culturas e continentes. O fato de uma parte das sociedades africanas continuar a ser fundamentalmente camponesa e agrícola, e manter as tradições orais como forma de preservação da sua bagagem cultural, não significa que o conto, a forma mais popular de transmissão de conhecimento e de cultura, seja necessariamente a forma “natural” ou “essencial” de reconhecimento da africanidade literária. (pp. 24-25).

Podemos dizer então, que todos esses contos mantém a característica de brevidade mencionada por Júlio Cortázar em Do conto breve e seus arredores, onde o conto precisa manter a brevidade, ser tudo bem conciso dentro da história, como estes textos de José Eduardo Agualusa, Luandino Vieira, Mia Couto e Luis Bernardo Honwana que são breves e dizem tudo o que precisam em poucas páginas. Segundo Cortázar, os contos modernos constroem suas narrativas com concisão e brevidade, porque há economia de meios.

Com seus contos, esses autores contribuíram para que o discurso oficial hegemônico se esvazie e perdesse a sua aura, reiterando, de forma dramática, a urgência de uma reinterpretação da História.

Bibliografia:

BENJAMIN, Walter. “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da

cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

CORTÁZAR, Julio. “Alguns aspectos do conto” e “Do Conto breve de seus arredores” – Valise de Cronópio. São Paulo: Perspectiva, 1993.

FONSECA, Maria Nazareth Soares; MOREIRA, Terezinha Taborda. PANORAMA DAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em <http://www.ich.pucminas.br/posletras/Nazareth_panorama.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2015.

LEITE, Ana Mafalda. “Oralidades & escritas nas Literaturas Africanas”. Lisboa: Colibri, 1998.

PADILHA, Laura. Entre voz e letra: o lugar da ancestralidade na ficção angolana do

século XX. Niterói: Eduff, 1995.

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