A Desconstrução da Figura Materna em "Mãe, o Cacete"
Por: kamys17 • 3/8/2018 • 1.038 Palavras (5 Páginas) • 453 Visualizações
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A desconstrução é estabelecida no conto de modo contínuo, para que a ideia dessa mudança de significação atribuída à figura materna se concretize. Ivana Arruda Leite constrói seu texto de modo que a desmontagem do estereótipo materno ocorra a partir de uma série de ações praticadas pela mãe, ações caracterizadas pela ausência de amor, cuidado, carinho e proteção, tudo isso entrelaçado aos episódios de violência física, verbal e psicológica.
Ao ser privada daquilo considerado “normal” e “correto”, a filha desenvolve uma consequência significativa, a rejeição do modelo materno, que pode ser identificado no trecho “Mãe é uma cruz na minha vida. Nunca gostei da minha e duvido que as pessoas gostem tanto da sua quanto dizem”. A personagem passa a repudiar toda e qualquer mãe, uma vez que a construção da sua não se desenvolveu conforme o esperado. Por conseguinte, qualquer imagem de mãe é vista de maneira negativa, pois faz menção à imagem que a menina, já adulta, ao narrar a história, possui da maternidade que existiu em sua infância, “Não gosto da mãe de ninguém, nem da mãe de Jesus”.
Ao fixar os olhos em Mãe, o cacete, é bastante provável que o leitor se assuste, arregale os olhos, diga “Que mãe horrível!” e até deixe o texto de lado, indignado com o abuso, magnífico e debochado, com o qual Ivana trata de um assunto ainda bastante cercado por tabus. Mas é provável que, assim como aconteceu comigo, o leitor se assuste, arregale os olhos, diga “Que mãe horrível!” e abrace o conto, em uma vontade avassaladora de mordê-lo com a vista, enquanto corre, apressado, tenso e, acredite, rindo, por suas linhas impiedosas.
A validade da leitura se dá por infinitos e valiosos fatores, dentre os quais destaco o fato de ser uma produção literária considerada um exemplar da literatura de autoria feminina que, por ser produzida por mulheres, tem a capacidade de abordar assuntos e temáticas que fazem parte do nosso mundo de maneiras que escritores homens, ainda que dotados das mais excelentes formas de escrita, inteligência e talento, não possuem.
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