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O Homoerotismo na Literatura Portuguesa

Por:   •  2/4/2018  •  2.542 Palavras (11 Páginas)  •  425 Visualizações

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1.3 – Características do poema

O poema apresentado pode ser considerado como uma síntese da vida de Cruz e Sousa. Na época em que viveu, o racismo era algo comum na sociedade e provavelmente o poeta sofreu devido ao fato de ser um negro intelectual. A solidão, que serve como tema para o soneto, foi algo vivenciado por Cruz e Sousa. Podemos ver no poema diversas referências aos fatos ocorridos na sua vida, como "cóleras medrosas" (2 - v. 3), que podem ser entendidas como a ira da sociedade racista ao deparar-se com um intelectual negro, o medo que tinham de Cruz e Sousa servir de exemplo para outros negros.

A exploração do eu por meio de uma linguagem pessimista e individualista é uma característica simbolista presente no poema, além da utilização de palavras com carga emotiva, como "sepulcral", "trágico", dentre outras. Outro aspecto simbolista do soneto é a subjetividade, que se realiza por meio da reflexão do poeta a respeito da sua condição solitária no mundo. Além disso, Cruz e Sousa enxerga o mundo como algo ruim, sem compaixão e indiferente para os seus problemas.

Alguns recursos linguísticos, como a sinestesia, são usados por Cruz e Sousa. Esta é uma das características mais marcantes do Simbolismo e consiste em relacionar entidades de universos diferentes. Vejamos abaixo um exemplo retirado do poema:

A doce graça de um clarão bendito (1 - v. 4)

"doce" está relacionado ao paladar e "clarão" está relacionado a visão.

O soneto é composto por versos decassilábicos, sendo cada um dos quartetos compostos por versos rimados de forma emparelhada e os tercetos rimados de forma cruzada entre si. Cruz e Sousa, para valorizar os aspectos sonoros das palavras, lança mão do uso de algumas figuras de linguagem. Nas duas primeiras estrofes, o primeiro verso termina sempre com um som consonantal semelhante ao do final do último verso e o segundo com um semelhante ao do final do terceiro verso. Vejamos abaixo um exemplo:

Muito embora a estrela do Infinito

Lá de cima me acenem carinhosas

E desça das esferas luminosas

A doce graça de um clarão bendito;

( 1 - v 1 -4)

Já nos tercetos, os dois versos iniciais de cada um terminam com um som consonantal semelhante e os respectivos últimos versos terminam com um som consonantal em comum. Vejamos:

Neste mundo tão trágico, tamanho,

Como eu me sinto fundamente estranho

E o amor e tudo para mim avaro...

Ah! Como eu sinto compungidamente,

Por entre tanto horror indiferente

Um frio sepulcral de desamparo!

Essa repetição ordenada de sons vocálicos idênticos é o que conhecemos como aliteração, figura de linguagem bastante frequente nas obras simbolistas. Uma outra figura de linguagem também presente no poema é a personificação, que consiste em atribuir características de seres vivos à seres inanimados. Como exemplo, temos o seguinte trecho do poema: “Muito embora a estrela do Infinito / Lá de cima me acenem carinhosas” (1 – v. 1-2). Como podemos observar, é atribuída às estrelas uma característica de um ser vivo, que é a capacidade de acenar, além de uma personalidade (carinhosas).

Cruz e Sousa também faz uso de antítese ao relacionar no poema, sentimentos distintos como carinho e desamparo. Na primeira estrofe, ele declara que as estrelas o acenam “carinhosas”, demostrando afeto a ele. Na última estrofe, o poeta diz sentir, diante da indiferença do mundo por si, “um frio sepulcral de desamparo”.

“Cecília é o caso de poesia total. Cecília é o próprio nome da poesia. Riqueza verbal e espiritual. E nobre por fora e por dentro. Não participa nunca das coisas menos elevadas. Não tem deficiências. E poesia no sentido universal. Tem coisas que não se encontram em nenhum outro".

Carlos Drummond de Andrade

2 - Análise de Canção Suspirada – Cecília Meireles, de Vaga Música

2.1 – Cecília Meireles: A Dama da Poesia Brasileira

Nascida em sete de novembro de 1901, Cecília Benevides de Carvalho Meireles viveu praticamente toda a sua vida como órfã de pais, sendo criada pela sua avó materna, que a educa., Cecília, desde pequena, aprendeu sobre a morte, a vida, sua efemeridade e solidão, características que surgiriam mais tarde em seus textos.

Cecília começa a trabalhar como professora primária, em 1917, no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Esse amor pelas crianças é traduzido nos livros Olhinhos de Gato, Ou isto ou aquilo e outras obras, assim como pelo seu empenho e dedicação para a implantação da primeira biblioteca infantil, em 1934. Em 1919, publica sua primeira obra, Espectros, ainda com características simbolistas.

Já casada com Fernando Correia, que se suicida posteriormente, e mãe de três filhas, sua intensa produção não pára, produzindo crônicas sobre o ensino. Em 1940 casa-se novamente, desta vez com Heitor Grilo, e em 1942 publica Vaga Música, que trata de temas como o mar associado aos sons musicais, que são os veículos da viagem e dos sonhos da poetisa.

No dia 9 de novembro de 1964 falece no Rio de Janeiro, tendo em 1965 a Academia Brasileira de Letras conferido à poeta, como gostava de ser chamada, no gênero masculino, o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra. Esse não foi o único prêmio recebido por Cecília, que ainda em vida, teve o seu merecido reconhecimento não só nacional como também internacional.

2.2 – Análise do Poema Canção Suspirada

Logo que iniciamos a leitura do poema, que é escrito em prosa, notamos que é todo elaborado em primeira pessoa “ Por que desejar libertar-me / se é tão bom não ver o teu rosto,” ( 1 – v. 1-2). Trata-se do “eu” poético, que se refere à subjetividade, ao íntimo, à descrição dos sentimentos. Nessa primeira estrofe, o eu poético demonstra que prefere viver em um mundo imaginário ao invés do mundo real.

Sequentemente, ele reflete acerca do mundo natural, onde não há “preocupações racionais” e conclui que

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