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LITERATURA AFRICANA DE LINGUA PORTUGUESA II

Por:   •  16/11/2018  •  1.252 Palavras (6 Páginas)  •  332 Visualizações

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A escritora cabo-verdiana nos faria ver então o desencanto do cabo-verdiano exilado frente ao mundo em modernização que ele só pode contemplar pela porta dos fundos, dele usufruindo somente as sobras. Ao mesmo tempo, desencantaria uma provável autoimagem vitimizada desses indivíduos, explicitando sua mente colonizada. De acordo com o supracitado Sartre: “Pobre colono: eis sua contradição posta a nu” (SARTRE apud FANON, 1979, p. 10)

Na verdade, a narrativa de Amarílis está bastante focada na questão de gênero, no sentido de desconstruir a ligação entre homens e mulheres, simbolicamente a igualdade entre eles. Ela destaca que apesar de Piedade mostrar-se submissa ao noivo, Jean, bem como ao meio irmão Gabriel, toma a iniciativa de sair de Cabo Verde para o exterior em busca de trabalho, como o intuito de ajudar a mãe a abrir um botequim. Assim, Piedade não é uma mulher, caracterizada na narrativa como uma criatura sem destino, que vive dentro de limites impostos pela sociedade machista.

Piedade é uma mulher com uma certa rebeldia, tentando romper o status-quo, buscando atingir seus objetivos, porém, esbarra no machismo forte, mesmo numa sociedade moderna em que as mulheres, também se colocam nos setores econômicos científicos e culturais.

Mas a escritora trata também sobre a violência, fruto do preconceito contra os migrantes ameaçados, como se fossem invasores de território; há ainda, sentimentos racistas e xenófobos, mesmo não levando em conta que muitas vezes as pessoas são obrigadas a viverem longe de seu país.

No caso da protagonista Piedade, a ficção não demonstra atitude violenta por parte do povo africano (como comumente é visto), grifo nosso, mas foi atingida violentamente por um homem branco e europeu. Diga-se de passagem, o único europeu do conto, Jean, homem de meia idade, noivo de Piedade, separado, mais velho que ela e muito ciumento; tenta se sobrepor por ser de classe social mais elevada e por sua nacionalidade, francesa. Ela o vê esse como um bom partido e quando se encontravam era, sempre, em companhia do meio irmão e dos outros dois amigos. Mas, mesmo assim, Amarílis, ao utilizar-se de maneira simbólica, da mágica, no caso a leitura de Cartas de baralho, descreve obstáculos, conflitos e agressões para Piedade “(...) havia de sair para longe desta terra. E assim foi, não foi?” e a narradora faz um enredo tão bem traçado pelas cartas indicando mau agouro, disputa, confronto, trama e a narrativa se torna nefasta, fazendo com que o leitor perceba que uma tragédia está prestes a acontecer e, acontece – o desfecho é o assassinato de Piedade por Jean que, em seguida se afugenta da cidade e o s companheiros dela ficam sendo perseguidos e rejeitados pela sociedade local. Como bem disse Gabriel, meio-irmão de Piedade: “Emigrante é lixo, mãe Ana, emigrante não é mais nada.”

Desse modo, observamos que a literatura cabo-verdiana reflete os fluxos migratórios e o exílio dos cabo-verdianos e, não só o fluxo, mas a percepção dos emigrantes do arquipélago como protagonistas de narrativas, o valor simbólico das dicotomias geográficas criadas pelas ficções; sem contar os sentimentos mais fervorosos, veiculados pelos sujeitos líricos e pelos protagonistas dos contos e romances que, frequentemente, são autobiografias e, trazem toda uma carga nostálgica em relação à pátria e a aceitação de discursos xenófobos.

Referências

Letras: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa II/ Maria das Graças

Ferreira Graúna - Recife: UPE/NEAD, 2013. 60 p.

AMARILIS, Orlanda. Ilhéu dos pássaros. Lisboa: Plátano, 1983.

NEGRI, Antonio. Exílio. Trad. Renata Cordeiro. São Paulo: Iluminuras, 2001.

QUEIROZ, Maria José de. Os males da ausência, ou a literatura do exílio. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.

SAID, Edward W. Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. Tradução: Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

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