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Aspectos do Romantismo na Literatura Portuguesa

Por:   •  24/4/2018  •  1.612 Palavras (7 Páginas)  •  449 Visualizações

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Igualmente de cunho proeminentemente político, o discurso de Antero de Quental intitulado “Causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos” (1871) dialoga com as críticas de Garrett ao estabelecer os principais motivos do que chama de “decadência da história de Portugal”; entre eles a contrarreforma cristã, a centralização política realizada pela Monarquia Absolutista junto à letargia do país em se modernizar e o sistema econômico efetivado pelo período das grandes navegações.

Quental invade o espaço romântico na assimilação de um passado cristão anterior à contrarreforma levada a cabo pelos jesuítas. Deve-se, então, retomar os valores de um primeiro cristianismo, medieval, tolerante à existência entre mouros e cristãos, quando a prática da religião reforçava o âmbito local e a fé tinha expressão autônoma dos povos.

Quental também critica os processos econômicos do Império português que destruíram a sociedade portuguesa – balizado por valores científicos, iluministas – e que resultou somente na extração da riqueza alheia. A herança do povo português é a “indiferença”, em especial à modernização do pensamento e à liberdade de expressão. As políticas expansionistas de Portugal resultam, para Quental, no grande mal da sociedade portuguesa: “a nossa fatalidade é a nossa história”.

Se as conquistas além-mar proporcionaram um grande mal ao próprio Portugal, para Quental, é Garrett que realiza uma outra navegação, moderna e em direção ao interior, pelo território, no sentido contrário da corrente do Tejo, em busca do que há de nacional dentro da própria nação: “Parte para Santarém”.

É justamente Garrett que reafirma a busca pela “cor local”, por um nacional construído a partir da cultura popular não erudita de Portugal, em seu Romanceiro (1851), compilação de poemas e cantigas populares que deveriam ser inseridas, a partir de então, no plano literário. O objetivo do Romanceiro, para Garrett, seria “popularizar o estudo da nossa literatura primitiva, dos seus documentos mais antigos e mais originais para dirigir a revolução literária que se declarou no país” (p. 3). Garrett postula que é preciso:

“estudar as nossas primitivas fontes poéticas, os romances em verso e as legendas em prosa, as fábulas e as crenças velhas, as costumeiras e as superstições antigas: lê-las no mau latim moçárabe meio suevo ou meio godo dos documentos obsoletos, no mau português dos forais, das leis antigas e no castelhano do mesmo tempo – que até bem tarde a literatura das Espanhas foi quase toda uma. O tom e o espírito verdadeiro do português esse é forçoso estuda-lo no grande livro nacional, que é o povo e as suas tradições, e as suas virtudes e os seus vícios, e as suas crenças e os seus erros.” (p. 5)

A incessante busca romântica por uma nacionalidade elaborada pelo que é autóctone e local perpassa a história da construção dos estados nacionais pós-absolutistas, pelos aspectos que Hobsbawm aborda em “Nações e Nacionalismo desde 1780” quanto a um sentimento de pertença a uma região em que o território para a ser unificado pelo Estado, quanto à configuração de um governo administrativo nacional estruturado e orgânico e, em especial, quanto a identidades étnicas e linguísticas.

Segundo Hobsbawm, o nacionalismo exacerbado em meados dos oitocentos na Europa é alimentado por raízes linguísticas protonacionais populares. No entanto, “a língua cultural oficial dos dominantes e da elite frequentemente transformou-se na língua real dos Estados modernos via educação pública e outros mecanismos administrativos” (p. 77).

Sob a égide da valorização da cultura e da língua do povo português, este entendido como espontâneo, inocente, “natural” – o “popular” que Quental defenderia como “espírito infantil” em antítese à renegada poesia clássica –, Garrett realiza no Romanceiro um dos primeiros trabalhos que seria preciso ser realizado a fim da construção de uma história e de uma nacionalidade literária portuguesa disseminada para “toda a classe de leitores” (p. 3).

Assim surge uma grande produção de textos literários voltados ao público infantil, que corresponderia a um projeto de atualização do sistema de ensino baseado nos ideais de Rousseau no campo da Educação. Tesouro poético da infância, de Antero de Quental, o poema A escola, de Guerra Junqueiro (1879) e A Literatura de Natal para crianças, de Eça de Queirós, são exemplos da crítica ao atrasado método de ensino da escola em Portugal e ao próprio sistema literário português que não acompanha a modernização percebida em demais países europeus.

Considerando a escola como uma manifestação da sociedade, a que corrompe o espírito bom do homem, no ensino infantil, a educação não poderia ser castrante da natureza das crianças, quando a razão dorme e abre espaço para a assimilação de conteúdos morais. A infância é como o espírito do povo, deve ser doutrinado com modelos morais e tutelado pelos homens da razão.

O período romântico da literatura portuguesa incorpora indispensavelmente as vivências históricas do período como cerne de sua produção. Engajada politicamente, o Romantismo forja um sentimento de nação baseado na recuperação saudosista de um Portugal medievo e cristão e na projeção de um futuro moderno na política, na liberdade literária e nas reformas da educação.

REFERÊNCIAS

GARRETT, Almeida. Introdução. In: ______. Romanceiro. Lisboa: Imp. Nacional,

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