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FOGO MORTO: UMA ANÁLISE Á LUZ DO PERSONAGEM JOSÉ AMARO

Por:   •  20/8/2018  •  2.332 Palavras (10 Páginas)  •  326 Visualizações

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Na narrativa, o autor propõe um diálogo difícil entre elementos naturais, fatos reais seguindo uma linha regional. Este universo é expresso na crença do mito, em direção à região que é marcada pelo imaginário social. Esta passagem do universal ao regional ganha maior destaque na obra. Logo, ao centrarmos na questão da identidade de José Amaro, ela se manifesta através da influencia do mito sobre o imaginário de um grupo e da lógica da simpatia de traços que definem o personagem.

Consequentemente, essa influência é marcada na construção da identidade, em que o mito atua diretamente nessa construção, da mesma maneira que os papeis sociais. De acordo com essa linha de pensamento, a problemática da identidade é vista como ponto de relevância, pois está interligada com apontamentos acerca do aspecto mítico e da imaginação. Com isso, é questionável observar essa relação social de José Amaro através do mito do lobisomem para identificar os seus efeitos causados pelo sobrenatural.

Para compreender o subjetivismo de José Amaro, é útil perceber que se trata de um “eu” possuidor de uma identidade capaz de perpassar por outras formando uma espécie de feixe de identidades, que perpassa para além do “eu” resultando em outros “eus”. Pois o autor da obra apresenta em um único personagem: o mestre artesão, pai de família, homem orgulhoso, suposto lobisomem e etc. Essa pluralização da identidade se completa com o término da obra, quando ele é um homem fracassado e, essa existência se dá através da relação com o espaço sociocultural em que o personagem está incluído.

O Mestre José Amaro é um Seleiro célebre da região, que vive nas terras pertencentes ao Seu Lula. Sua dedicação à profissão aos poucos compromete sua saúde, atribuir-lhe aparência de doente, e ao mesmo tempo é um homem rude ignorante, principalmente com sua mulher e sua filha e sua esposa, vale observar em uma de suas conversas elas: -Nesta casa mando eu. Quem bate soa o dia inteiro, quem está amarelo de cheirar sola, de amansar couro cru? Falo o que quro (...). (Rego, 2010; p.36). Diante disso, está explícito que o personagem é de difícil convivência com sua família.

Em suas características físicas, José Amaro é apresentado como homem velho que apesar de ser branco não possui destaque perante a sociedade, por pertencer a baixa classe social apesar de ser pobre, velho, com a aparência doentia devido o trabalho e de acordo com o Rego (2010):

“O mestre José Amaro, arrastando a perna torta (...)”. (P.35)

“Sou pobre, seu Laurentino, mas não faço vergonha aos pobres.” (p.35)

Nota-se que José Amaro está mergulhado em ressentimentos e revolta; é um ser que não aceita a condição em que vive, mas não se curva diante daqueles que se consideram mais importantes do que ele. Apesar de não se preocupar com o que pensam a seu respeito, sua opinião sempre prevalece.

O autor traça um personagem incapaz de encontrar consigo mesmo, que está visivelmente ligado á ideia de um pobre homem cercado por sofrimento: a vida de seleiro solitário, uma filha problemática que o deixava sem paciência, a rotulação que lhe é atribuída ao ser chamado de lobisomem e por fim sua estrutura entra em declínio quando sua família é desestruturada, ele é expulso do engenho, torna-se dependente do cangaceiro, é torturado pelos policiais volantes e por fim, dominado por esses acontecimentos são recorrentes e alastram e acabam com todas as suas forças, diminuindo suas defesas e aos poucos ele vai enlouquecendo a ponto de cometer o suicídio.

José Amaro: de seleiro orgulhoso e revoltado ao mito do lobisomem

A figura de José Amaro é marcada profissionalmente pela profissão de seleiro, que passa boa parte de sua vida trabalhando para o sustento da família. Morador do engenho Santa Fé e revoltado, ele tem dificuldade em se adequar ao mundo, vive perturbado determinado tipo de crise de sua própria existencial. Na realidade, permanece em um mundo monótono: trabalha na frente de casa, próximo à beira da estrada, local onde transitam os moradores do engenho. Diante disso, delimitaremos a resposta para a seguinte indagação: quais os motivos que levaram as pessoas a chamar um seleiro orgulhoso e revoltado de lobisomem? Com isso, propusemos a fazer uma avaliação mítica acerca do personagem ao longo da narrativa.

Desse modo, faz necessário destacar que José Amaro era um homem que vivia angustiado, sentia-se sufocado, a ponto de ficar vagando pelo campo afora, geralmente no período noturno: “O seleiro estava possuído de paz, de terna tristeza; ia ver a lua, por cima das cajazeiras, (...) Foi andando de estrada afora, queria estar só, viver só, sentir tudo só. A noite convidava-o para andar.” (p.60).

Essa prática tornou-se um hábito, pois o aroma de mato e a liberdade davam-lhes alivio para o corpo e para a alma, libertando-o das situações incômodas: cheiro de sola, situação social, doença da filha e de certo modo, essas saídas eram uma espécie de fuga. Em certo dia, passeando próximo ao rio José Amaro passa mal, sua respiração fica limitada e suas forças vão diminuindo forçando-o a passar a noite na mata. Tratando desta presença mitológica, é notória que há representações de transformação em traços pequenos que concretizam a ideia atribuída a transformação. São acontecimentos levam à comunidade a acreditar que esses hábitos, eram indícios de que José Amaro estava se metamorfoseando em lobisomem. Sua feição, olhos amarelos, costume de soltar pragas e o distanciamento religioso eram motivos necessários para provar o misticismo do velho. Pois de acordo com Rego (2007), o personagem em seus percursos:

“(...) Marchava devagar. As suas alpercatas batiam alto no calcanhar. Estava só naquele mundo, sem uma pessoa, sem um ente vivo. Viu a luz da casa das velhas do seu Lucindo como um farol vermelho na luz branca da lua. Aproximou-se mais e ouviu choro de gente. O que seria aquilo? Pensou em entrar no atalho que dava para a casa. E estava pensando em procurar saber o que podia ser aquele choro, quando um canto de reza subiu ao ar. Era quarto de defunto. Entrou no atalho e se foi chegando para a casa que se escondia atrás de um juazeiro enorme. Só podia haver muita gente dentro da casa para dar aquele volume enorme de canto de morte. E quando ele se chegou na janela e botou a cabeça para olhar o povo rezando, um grito estourou como uma bomba. – É ele, é o lobisomem.” (p.100 )

Observa-se que, essa afirmação está atrelada as primeiras apresentações do personagem,

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