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Jane Eyre - análise do livro

Por:   •  30/10/2018  •  3.440 Palavras (14 Páginas)  •  393 Visualizações

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Os personagens principais são Jane Eyre, Edward Rochester e St. John Rivers. A história acontece em cinco locais diferentes: Gateshead, a casa da tia Reed; Lowoods, a escola; Thornfield, onde Jane encontra o amor de sua vida; Moors House, onde é acolhida pelos Rivers; e Ferndean, após seu retorno a Thornfield.

Esses locais revelam-se significantes ao longo de toda a obra, relacionando-se ao conteúdo temático e estruturando o romance através do deslocamento da personagem por estes lugares distintos. A ação sempre ocorre dentro ou nas proximidades de um casarão em particular e cada movimento marca um estágio na trajetória e amadurecimento da personagem, acompanhando seu crescimento, seus infortúnios e o desenvolvimento de seu próprio sentido de identidade.

- DESCRIÇÃO DOS LOCAIS ONDE SE DESENVOLVE O ENREDO

Cada local do romance apresenta topografia e localização características, e seus nomes sinalizam os estágios da jornada da personagem. Apresentamos a seguir a descrição de cada um desses espaços na trama, e sua importância na vida de Jane Eyre.

- GATESHEAD

O início. Gateshead fica em Gateway, que significa “porta de entrada”, enquanto head significa “cabeça” e representa o pensamento, fonte dos problemas de Jane na infância, que pensava de maneira diferente do convencional. Na trama, este local representa a entrada para o resto do mundo e o início de todas as desventuras da protagonista.

Gateshead é a residência que pertencia ao seu tio, Mr. Reeds, irmão de sua mãe. Deveria ser o lar de Jane quando esta ficou órfã, e é onde passa boa parte da infância. Mas após a morte de seu tio, a atmosfera muda completamente: sua tia, Mrs. Reed, e seus primos Georgiana, Eliza e John Reed passam a expressar o seu ressentimento pela presença de Jane, que é constantemente lembrada de maneira muito ríspida, principalmente pela tia e pelo primo John, sobre a sua situação de dependência e a inconveniência que ela representa para a família. Mrs. Reed não se esforça para dissimular a diferença entre Jane e seus filhos, que ela considera superiores.

Perdura ao longo de sua infância o sentimento de não pertencimento a essa família, cujo modelo é em si problemático, já que a matriarca impõe total obediência dos filhos às suas vontades ao mesmo tempo em que trata com indulgência os caprichos destes, o que converge em um relacionamento baseado em ciúmes, despeito, intimidação e ameaças. Jane, por sua vez, não corresponde às expectativas de comportamento feminino e infantil, pois possui opinião própria e a expressa de modo franco e desafiador. Dessa forma, suas dificuldades se intensificam e ela se torna uma vítima conveniente dos problemas inerentes àquela família. A personagem sofre humilhações, castigos e falsas acusações por parte da tia, além de agressões por parte do primo John, que ela suporta com resiliência enquanto pode. Até que ocorre um episódio no qual John a atinge com um livro, ferindo-a; Mrs. Reed toma partido do filho e castiga Jane, trancando-a no quarto vermelho.

Jane descreve o quarto vermelho como uma grande câmara onde ninguém jamais dormia. Era um cômodo amplo, mas sombrio, silencioso e frio com móveis grandes e pesados e um grande espelho, que refletia fracamente a mobília do quarto. Ela revela a origem dos seus sentimentos negativos em relação ao quarto vermelho, que o tornam tão solitário apesar de sua grandiosidade: foi lá que seu tio morreu. E acrescenta: nenhuma prisão seria mais segura.

Após a agressão do primo, no quarto vermelho, Jane desperta para questões éticas que vão permear toda a sua existência. Em seus constantes castigos no quarto vermelho, desenvolve um forte senso de justiça e uma intensa reação contra a injustiça. É neste ambiente que se torna clara a sua posição de exílio e prisão: embora a menina seja geralmente libertada desse quarto, continua sendo rejeitada por todos, exluída do amor e da família. Também é lá que tem visões de seu tio falecido. São momentos muito difíceis na sua infância, mas ela se rebela e encontra consolo nos livros e no exercício da imaginação. Pode-se dizer também que o quarto vermelho representa a clautrofobia da mulher na sociedade vitoriana, em cujos padrões a personagem não se encaixa. O quarto vermelho pode ser visto como símbolo do que deve ser superado por Jane para que encontre sua liberdade e felicidade. A importância do quarto vermelho continua por toda a obra. Reaparece na memória de Jane toda sempre que ela relaciona sua situação atual e o sentimento de ser ridicularizada. Ela lembra do quarto vermelho quando é humilhada na escola e na noite em que decide deixar Thonfield depois da proposta de Rochester de ser sua “amante”.

Em certa ocasião em Gateshead, a personagem confronta sua tia com tenacidade, atentando-se para suas falhas de caráter; então a senhora passa a vê-la não apenas como uma menina má, mas como uma pessoa mentirosa desprovida de qualquer caráter. Então é mandada para Lowood, colégio interno barato e sem grandes atrativos.

- LOWOOD

Lowood, ou “Low Wood”, significa “floresta baixa”. É o nome da escola para onde Jane é enviada, e faz alusão ao local onde o prédio foi construído: em um vale ao lado de uma floresta; representa um declínio na trajetória da personagem, quando sua visão e progresso são impedidas de se desenvolverem, em uma “escuridão arborizada” e um abismo espiritual.

Inicialmente, a experiência de Jane em Lowood representa uma continuidade dos seus maus tratos em Reeds House, acrescentados os desconfortos físicos do frio e da fome, além da aplicação de uma doutrina severa e estreita do cristianismo, aplicada pelo diretor, Mr. Brocklehurst. Novamente, a personagem se vê lembrada da sua situação de dependência e recebe o estigma de mentirosa perante toda a escola. O diretor faz tudo o que pode para suprimir a naturalidade das alunas, seja com relação aos seus cabelos encaracolados ou sua personalidade. Mr. Brocklehurst simboliza as instituições de ensino da era Vitoriana, representando uma crítica às instituições religiosas da época. Este julga saber exatamente como Deus vê o bem e o mal, e considera seu dever controlar a aparência das alunas, intimidando-as ao dizer que elas irão para o inferno por causa de seus pecados. Também pensa que deve ser muito restritivo quanto ao que elas devem ou não comer, face aos propósitos religiosos e espirituais, aos quais, cinicamente, ele mesmo não segue.

Jane também não se encaixa nos padrões da escola. Os alunos sofrem humilhações

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