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ANÁLISE POÉTICA DO EU – FLORBELA ESPANCA

Por:   •  28/11/2018  •  986 Palavras (4 Páginas)  •  341 Visualizações

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Sou aquela que passa e ninguém vê...

Sou a que chamam triste sem o ser...

Sou a que chora sem saber porquê...

O eu-lírico absorve a imagem que lhe atribuem, chora sem motivo, mergulha num estado de melancolia, assume a postura do clichê feminino de dama frágil e indefesa. Nota-se a repetição do verbo na primeira pessoa no início de cada verso, porém os demais vocábulos apresentam-na como aquela que é vista, sendo toda a definição feita a partir do olhar lançado pelo outro.

O sentimento de inadequação que permeia todo o soneto intensifica-se na última estrofe.

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,

Alguém que veio ao mundo pra me ver

E que nunca na vida me encontrou

Torna-se evidente nessa estrofe a frustração do eu-lírico relativa a suas aspirações românticas, também se intensifica a perspectiva da alteridade que está presente em todo o soneto. O encontro predestinado não acontece e mais uma vez o eu-lírico se coloca no lugar de objeto de desejo, estática, sempre a espera. O não encontro com o Outro é o não encontro de si mesma, sob essa perspectiva sua própria existência é posta em xeque. Como sugere o advérbio de dúvida: Sou talvez a visão que Alguém sonhou. Nota-se que ela sequer percebe-se real, é somente a visão ou o sonho de alguém. Corrobora com essa interpretação o uso das palavras visão e sonho, ambas remetendo à alucinação ou ao desvario e aliadas ao pronome alguém intensifica a fragilidade de sua existência.

O desejo de amor guia-lhe para um confuso processo de autoconhecimento. A poesia de Florbela é permeada pelo apelo quase doloroso por alguém que possa responder à questão “quem sou eu”, ao mesmo tempo em que se retrata como um reflexo, sombra, névoa, sonho de Alguém. Alguém que é aquele a quem ama, quem tem o poder de transformá-la de torna-la real. E é ao homem amado a quem ela se rende e submete, disposta a transfigurar-se e moldar-se conforme ao desígnio que ele lhe conceder.

BIBLIOGRAFIA

ESPANCA, Florbela. Eu. In: ESPANCA, Florbela. Livro de Mágoas. Portugal: Bertrand, 1978. p 37.

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