VIDAS DEMOLIDAS EM DOIS IRMÃOS, DE MILTON HATOUM
Por: Evandro.2016 • 14/1/2018 • 5.688 Palavras (23 Páginas) • 400 Visualizações
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A obra Dois irmãos, de Milton Hatoum, é um romance urbano ou citadino por causa do ambiente principal em que a história transcorre: Manaus. O seu título faz referência as duas personagens principais, Yaqub e Omar, irmãos gêmeos, idênticos no físico, mas opostos nas atitudes e no caráter. Movidos pela rivalidade vão destruindo as relações pessoais e familiares, semeando discórdia, inveja, vingança e ódio. E, buscando fundamento para a estrutura do título da obra confirmou-se a dualidade desde os nomes das personagens que parecem terem sido escolhidos com muito cuidado.
Observe que Yaqub /Ya’aqov/ (Jacob - hebraico), significa alguém que agarra o calcanhar ou suplantador, o melhor. Omar /Ámara/ (árabe, germânico, bíblico) quer dizer aquele que tem uma vida longa, opulente ou próspera; Personagem bíblico – foi o filho de Elifaz, neto de Esaú. Pode também derivar do germânico Otmar, de odo, que significa riqueza. Fazendo-se uma leitura comparativa com outros gêmeos famosos da literatura, mitologia grega ou bíblia sagrada, chegaremos a nomes como Caim e Abel, Esaú e Jacó, Dionísio e Apolo, Esaú e Jacó de Machado de Assis. Todos demonstraram a dualidade em suas histórias por inveja, contrastes de temperamentos, ciúmes, relações conflituosas. Milton faz o jogo de luzes e sombra em sua obra
Cresci vendo as fotos de Yaqub e ouvindo a mãe dele ler suas cartas (...) Durante anos, essa imagem do galã fardado me impressionou. Um oficial do Exército, e futuro engenheiro da Escola Politécnica... Já Omar era presente demais: seu corpo estava ali, dormindo no alpendre. O corpo participava de um jogo entre a inércia da ressaca e a euforia da farra noturna. Durante a manhã, ele se esquecia do mundo, era um ser imóvel, embrulhado na rede (HATOUM, 2010, p.61).
O romance Dois irmãos possui duzentas e sessenta e sete páginas, divididas em doze capítulos (sem títulos), com um pequeno preâmbulo, antes do primeiro capítulo, que aguça a curiosidade do leitor e relata cenas do fim da história
Eu não a vi morrer, eu não quis vê-la morrer. Mas alguns dias antes de sua morte, ela deitada na cama de uma clínica, soube que ergueu a cabeça e perguntou em árabe para que só a filha e a amiga quase centenária entendessem (e para que ela mesma não se traísse): “Meus filhos já fizeram as pazes?”. Repetiu a pergunta com a força que lhe restava, com a coragem que mãe aflita encontra na hora da morte (HATOUM, 2010, p.12).
Os doze capítulos da obra retratam fatos da vida da família de Yaqub e Omar. Vê-se então que no primeiro capítulo o autor destaca a volta de Yaqub do Líbano, aos dezoito anos, relata constrangimentos que o pai passa vendo o filho urinar na Cinelândia, mas no retorno para casa Halim dá um sermão no Yaqub. No aeroporto de Manaus encontra-se com a mãe que o abraça, beija efusivamente. Em casa, abraça a irmã e reencontra-se com Domingas. Rememoria fatos de sua infância passados com o irmão. Neste capítulo também fala da separação dos gêmeos aos treze anos de idade, da persuasão de Zana para que o Omar fique com ela no Brasil. Yaqub relembra a noite de carnaval em que Omar dança coladinho a Lívia. O narrador relata a história da cicatriz, fala da readaptação de Yaqub ao Brasil (dificuldades de relacionamento e oratória), do olhar sedutor do gêmeo tímido que arrancava suspiros das mulheres, exalta o talento dele para a Matemática, sua juventude silenciosa em seu quarto, compara os irmãos dizendo que um ganhava fama de estudioso e o outro gazeteava aulas. Relata que o Halim não sabia o que fazer com o Caçula que reprovou dois anos seguidos no colégio dos padres Salesianos. Então foi expulso do colégio por bater no professor de Matemática que elogiava Yaqub e foi estudar no Galinheiro dos Vândalos. O narrador menciona que tinha quatro anos quando Yaqub vai para São Paulo. Destaca o aparecimento de Lívia para despedir-se do gêmeo mais velho e os dois se encontram de maneira mais íntima.
O segundo capítulo tem início com memórias de Halim e Galib (pai de Zana). Discorre sobre o amor de Halim por Zana, que só tinha quinze anos, e que a conquista através da declamação de gazais. Apesar das intrigas, Zana casa-se com Halim na Igreja dos Remédios, começa a dá ordens e tomava as decisões. Halim só queria agradar a esposa porque ela o satisfazia na cama e na rede. Zana sugere ao pai que viaje para o Líbano e por lá, Galib falece. Quando Zana sabe tranca-se no quarto e decreta para Halim que quer três filhos.
No terceiro capítulo aparecem as cartas de Yaqub para a família e para disfarçar a tristeza da mãe, Halim faz sempre um jantar em comemoração pelas boas notícias. Yaqub agora tornou-se professor de Matemática e ingressou na Universidade de São Paulo (Engenharia). Enquanto isso, Omar ignorava as cartas do irmão e continuava com sua vida boêmia. O narrador começa a falar sobre Domingas e seu aparecimento na casa pelas mãos da irmã Damasceno. Termina este capítulo falando do nascimento dos gêmeos e de Rânia.
Neste capítulo quatro, o narrador questiona o seu próprio passado. Revela-se como o filho de Domingas. Questiona-se qual dos gêmeos é o seu pai. Explica a origem de Domingas e fala da única vez em que os dois viajaram para a vila natal de sua mãe, Acajatuba. Estranhava que ela não falava dos gêmeos, especialmente do Yaqub e isso o deixava cismado. Depois volta sua narrativa para a vizinhança e como sofria fazendo mandados para Zana e os vizinhos. A pior era a Estelita Reinoso. As filhas de Talib, Zahia e Nahda, morriam de ciúmes do pai e um dia deram uma surra nele por estar de chamego com uma cunhã. Em casa, Omar tinha atritos com o narrado e ele queria fugir, mas Domingas não. Certa noite, Omar extrapola e dorme com uma moça do cortiço na sala da casa. Halim os encontra pela manhã, estapeia Omar e o algema por dois dias. Em São Paulo Yaqub anuncia seu casamento, mas não revela o nome da esposa. Rânia ficou arredia e com o tempo tornou-se ótima negociante. No aniversário de Zana, Omar surge com uma nova namorada que tinha uma beleza incomum, o nome dela era Dália. Zana consegue afastá-la do Caçula. Ela tenta persuadir Yaqub a receber Omar em São Paulo para desviá-lo de Dália, mas o irmão recusa a presença do outro gêmeo. Então Zana, através do narrador, manda dinheiro para as tias de Dália que desaparece da história. Omar vai obrigado para São Paulo e a casa fica quieta. Domingas sente falta dos gêmeos, limpa diariamente seus quartos, parece gostar do contraste dos irmãos. Halim matricula o narrador no Galinheiro dos Vândalos que relata os vestígios de Omar. O capítulo encerra-se com o sumiço do Caçula, de São Paulo.
A visita de Yaqub inicia
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