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O Letramento Digital

Por:   •  31/8/2018  •  5.170 Palavras (21 Páginas)  •  394 Visualizações

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Contrário à crença popular no que diz respeito ao ensino democrático, este não pode – ou deve – ser uniforme. A educação democrática é caracterizada pela igualdade na formação intelectual e social de todos os alunos. No entanto, a realidade destes alunos deve ser levada em consideração, uma vez que há necessidades particulares a cada contexto, seja regional, social, etc. O docente, representante maior da escola perante o aluno, é responsável por nivelar e avaliar a pertinência de determinados conteúdos e opções metodológicas a fim de favorecer a aprendizagem de seus alunos. No decorrer do ensino fundamental, a escola, através do docente, deve conduzir um letramento contínuo transformando os alunos em cidadãos capazes de interpretar e produzir eficientemente diferentes textos nas mais diversas circunstâncias.

Segundo os PCNs de Língua Portuguesa (1998, p. 20), no ensino fundamental entende-se linguagem como “ação interindividual orientada por uma finalidade específica, um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos de sua história”. Assim, considerando que as práticas sociais que transportam a linguagem não constituem modelos estanques ou estruturas rígidas, pode-se perceber que a interação ocorrerá através da linguagem por meio de diversos gêneros textuais, os quais são “formas culturais e cognitivas de ação social (MILLER, 1984) corporificadas na linguagem, (...) entidades dinâmicas, cujos limites e demarcação se tornam fluidos” (MARCUSCHI, 2008, p. 151). Todo texto, seja oral ou escrito, é organizado dentro de determinado gênero de acordo com suas intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam, constituindo formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura.

Considerando a necessidade de um modelo de ensino sistematizado e contextualizado, frequentemente temos que “tudo se passa como se a capacidade de produzir textos fosse um saber que a escola deve encorajar, para facilitar a aprendizagem, mas que nasce e se desenvolve fundamentalmente de maneira espontânea, sem que pudéssemos ensiná-la sistematicamente” (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p.51).

Enquanto, na realidade, ainda segundo Schneuwly & Dolz (2004, p. 51), “o trabalho, no domínio da produção de linguagem faz-se sobre os gêneros, quer se queira ou não. Eles constituem o instrumento de mediação de toda estratégia de ensino (...)” e, portanto, o mesmo deve ser sistematizado. De modo bem postulado nos PCNs (1998, p. 20),

“aprender (a língua) é aprender não somente palavras e saber combiná-las em expressões complexas, mas apreender pragmaticamente seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas entendem e interpretam a realidade e a si mesmas”.

Dessa maneira, reforça-se a importância de um ensino de língua materna contextualizado cujo objetivo seja a formação cidadã, ou seja, que permita ao aluno perceber como a língua funciona em ambientes discursivos reais de uso.

Nas sociedades em que a modalidade escrita prevalece sobre a oral, a escola torna-se o lugar onde o ensino da escrita ainda é tido como mais importante. Conquanto, com as grandes transformações advindas dos PCNs, o valor dado aos textos em suas diferentes modalidades tem crescido. Além disso, com o crescente uso das novas tecnologias, outras possibilidades textuais se constroem, o que na linguagem online envolverá não somente a utilização da escrita, mas também de recursos como imagens, sons, gestos, ou seja, textos multimodais, fazendo com que escola e professores se apropriem desses recursos como ferramentas que auxiliem o processo de aprender. Segundo Rojo (2009 apud MICARELLO & MAGALHÃES, 2014),

letramentos múltiplos compreendem as mais variadas formas de utilização da leitura e da escrita, envolvendo as culturas locais e seus agentes, em relação com os letramentos valorizados, universais e institucionais. Afirma, ainda, que os textos, na contemporaneidade, envolvem a leitura de imagem, da música e de outras semioses, fato que faz ampliar a noção de letramento. É preciso, então, que a escola leve em conta também os letramentos multissemióticos.

Assim, faz-se importante inserir ao ensino essas novas possibilidades de gêneros que se consolidam nesse momento em que vivemos e que tem seus sentidos estrategicamente construídos sobre diversas formas de linguagem.

O entendimento do meio digital, com suas recentes produções escritas e orais, verbais e não-verbais, encontram na escola (e no ensino de língua materna) uma possibilidade de ampliação da competência linguística do estudante e, também, uma forma de inserção de sujeitos em outros ambientes de vivência cidadã. Dessa forma, entende-se que ensino de Português no Ensino Básico deve ter como função letrar o aluno nessas diferentes esferas e com esses distintos textos, através da criação de projetos de letramento por meio dos quais são criados espaços para experimentar formas de participação nas práticas sociais letradas, assumindo os letramentos múltiplos como o objetivo estruturante do trabalho escolar em todos os ciclos. De acordo com Kleiman (2007, p. 4),

A diferença entre ensinar uma prática e ensinar para que o aluno desenvolva individualmente uma competência ou habilidade não é mera questão terminológica. Em instituições como a escola, em que predomina a concepção da leitura e da escrita como conjunto de competências, concebe-se a atividade de ler e escrever como um conjunto de habilidades progressivamente desenvolvidas, até se chegar a uma competência leitora e escritora ideal, a do usuário proficiente da língua escrita. Os estudos do letramento, por outro lado, partem de uma concepção de leitura e de escrita como práticas discursivas, com múltiplas funções e inseparáveis dos contextos em que se desenvolvem.

Em outras palavras, é preciso tornar o aluno capaz de ler e compreender textos em suas várias realizações de forma crítica e reflexiva, principalmente aqueles que fazem parte do cotidiano social. Portanto, o letrar na esfera digital, tomando essa como lugar de uso social da escrita e da oralidade, possibilita – aos que se encontram nesse espaço de ensino-aprendizagem – emergir no universo de textos elaborados, apropriando-se de uma outra forma de um bem cultural: a língua.

Tomando como base as discussões apontadas acima, elencou-se a resenha e o blog para a construção dessa sequência didática, unindo assim um gênero de alta circulação social a um suporte comunicativo online altamente

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