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A peste negra e os hábitos de higiene na Idade Média

Por:   •  25/11/2018  •  3.374 Palavras (14 Páginas)  •  309 Visualizações

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Por volta de 1346, na Criméia, eclodiu uma briga de rua entre os cristãos que faziam o comércio entre a Ásia Menor e a Europa, e os tártaros, que na época sofriam com a peste. Os tártaros acreditando que a doença era resultado de uma praga jogada pelos cristãos, resolveram atacá-los. Mas, devido à epidemia que os acompanhava, seus pelotões em pouco tempo foram dizimados, vendo-se assim, obrigados a deixar a batalha. Porém, resolveram deixar aos seus inimigos um presente, presente este que lhes faria sentir o gosto do sofrimento que lhes fizera padecer, e então, fazendo uso de catapultas gigantes (Figura 1), os tártaros arremessaram cadáveres dos soldados vitimados pela peste sobre as muralhas da cidade dos cristãos (Caffa), e com isso tinham o objetivo de espalhar a doença entre eles, tendo sido exitosa tal empreitada, pois a epidemia tomou de conta da cidade, deixando seus habitantes apavorados, e obrigando-os a fugir em suas galés em direção ao Mediterrâneo.

[pic 1]

Figura 1 – Catapulta usada pelos Criméios.

Fonte: LEWINSOHN, 2003, p. 50.

Em 1347, no porto de Messina, na Sicília, chegam as primeiras galés abarrotadas de especiarias e também de doentes. Temerosos, proibiam que os tripulantes desembarcassem, já que o mínimo contato era o suficiente para o contágio, mas, não podiam impedir que os ratos pulassem dos navios atracados e com eles levassem juntos a pulga transmissora. E assim, começou a sua infestação funesta, por etapas, do continente europeu, sendo por terra firme a partir do Oriente Médio, e pelo mar Mediterrâneo, nos portos em que atracavam as galés.

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A Europa antes da peste

Desde aproximadamente 1000 até 1250 d.C. a Europa teve um período de crescimento em massa, quase que ininterrupto, fazendo com que a face da mesma mudasse, trazendo então, momentos de prosperidade, como a grande expansão agrícola, devido a melhoramento nas condições climáticas, e o crescimento demográfico. O clima tornou-se mais ameno, e isso favoreceu a cultura de cereais e, os melhoramentos técnicos, como o uso da tração bovina e de novas fontes de energia, como os moinhos d'água, revolucionaram a produção de alimentos, cujo grande aumento estimulou o crescimento populacional.

Le Goff cita na obra A civilização do ocidente medieval algumas dessas técnicas que permitiram o avanço da agricultura na Idade Média, senão vejamos:

A lenta difusão do afolhamento trienal permitiu aumentar a superfície cultivada (com um terço do solo em repouso, em vez da metade), variar os tipos de cultivo e lutar contra as intempéries com o recurso aos cereais de primavera quando as do outono davam pouco (ou o contrário). A adoção da charrua dissimétrica de rodas e aiveca e o emprego crescente do ferro nos instrumentos agrícolas permitiam lavrar mais fundo e com maior frequência. As superfícies cultivadas, os rendimentos, a variedade da produção e, por conseguinte, da alimentação, melhoraram. (LE GOFF, 2005, p. 59)

Rachel Lewinsohn cita em sua obra, Três epidemias: lições do passado, um trecho de Jean Froissart (2003, p. 53 apud FROISSART, 1976, p. 31) que descreve esse momento de prosperidade pelo qual a Europa passa, segundo ele “o país gordo e cheio de todas as coisas [...] as casas cheias de riquezas [...]”. Portanto, estava se vivendo um momento de muita riqueza.

Como a produção agrícola estava a todo vapor, gerando inclusive excedentes, o comércio se expandiu levando, paulatinamente, as cidades a crescerem de importância. Por serem fortificadas e se localizarem próximas às rotas de comércio, as cidades eram consideradas locais seguros, principalmente para manter as estruturas bancárias necessárias à realização dos negócios na época. Com o aumento de sua importância econômica, elas foram se expandindo. Mais pessoas passaram a morar nas cidades, resultando na ampliação dos muros que demarcavam seus limites. Porém, esse crescimento gerou uma grande aglomeração de pessoas para os números daquele período.

Essas cidades consistiam apenas num amontoado de edifícios, como se fosse um labirinto formado por ruas estreitas e que, apesar do seu grande crescimento e de todas as riquezas que dispunham, não possuíam práticas de salubridade e o saneamento básico não existia, tornando-as um local propício à propagação de epidemias como a peste negra. Elas eram pequenas e sujas, e a maioria de suas ruas não possuía pavimentação, nem tão pouco obras de drenagem, e recebia todas as imundices e refugos produzidos pelo povo. Vale frisar também, que o lixo era jogado nas ruas e os esgotos corriam a céu aberto e que homens e animais disputavam espaço entre elas.

E é no final do século XIII que a Europa torna-se superlotada, passando a ser esse drástico crescimento populacional um grande problema, pois as cidades não conseguiam mais absorver todo o fluxo campesino que iam em direção a elas, outro fator que muito contribuiu para inflar este problema foi que, apesar dos avanços técnicos da agricultura, esta já não era capaz de acompanhar o crescimento populacional.

Aliados a esses fatores, vieram as mudanças climáticas, frio intenso, chuvas torrenciais trouxeram consigo uma série de colheitas desastrosas que, consequentemente, provocou epidemias de fome aguda. Com o frio intenso quase todos os países europeus perderam a totalidade de várias colheitas, e a falta do calor solar impedia a produção de sal pela evaporação, dificultando ainda mais a conservação e armazenamento da pouca carne que havia. Em razão dos fatores acima elencados, a vida da maioria dos habitantes da Europa tornou-se muito difícil, por não dizer intolerável.

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A DOENÇA E SEU PODER DEVASTADOR

A peste negra é uma infecção aguda causada pelo bacilo Yersinia pestis, descoberto em Hong Kong, no ano de 1984, pelo pesquisador suíço Alexandre Yersin. Somente em 1898 foi descoberto o papel da pulga na transmissão da peste, pelo francês Paul-Louis Simond, descoberta que lhe rendeu, por anos, o apelido de “O Mágico das Pulgas”.

A doença apresenta duas formas, porém a bubônica é a mais conhecida. Sua transmissão ocorria através da picada de uma pulga contaminada com os bacilos acima informados, e não diretamente de homem para homens. No entanto, se o bacilo adentrar as vias aéreas irá se sobrepor uma pneumonia à moléstia primária e neste caso a doença se torna ainda mais perigosa e contagiosa,

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