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A REVOLUÇÃO RUSSA À LUZ DO POETA REVOLUCIONÁRIO VLADIMIR MAIAKÓVSKI

Por:   •  15/3/2018  •  3.373 Palavras (14 Páginas)  •  369 Visualizações

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A peça alegoricamente vai traçando o caminho que a Rússia percorreu até a Revolução de Outubro, usando de elementos simbólicos e satíricos que requerem uma interpretação atenta. Logo no início, os personagens se reúnem no polo boreal da Terra, usando como cenário todo o planeta. Ao perceber a chegada de um dilúvio, decidem embarcar numa Arca e navegar. No entanto, os puros decidem, sob a voz do Francês, que os impuros não embarcarão com eles na Arca:

Francês (puro)

(que ocupou o lugar do mercador examina com raiva o ferreiro que tinha

levantado a mão)

E você também se mete?

Não se orgulhe em vão!

Senhores,

os impuros não vamos levar!

Pra eles aprenderem a não nos xingar.

Carpinteiro (impuro)

E você sabe serrar e aplainar?

Francês (puro)

(desanimado)

Eu mudei de ideia.

Os impuros são bem vindos

Neste diálogo - onde os impuros representam os trabalhadores e os puros representam a burguesia -, o francês logo muda de ideia sobre quem embarcaria pois percebe que nenhum dos puros saberia construir a arca, cabendo esse trabalho aos impuros. Assim termina o primeiro ato, com o acordo de que todos embarcariam. Dessa forma, dá-se início ao segundo ato, já todos na barca com destino a Terra Prometida.

Durante a viagem, os impuros que sabem caçar e pescar conseguem obter alimentos para se manter, diferente dos puros que não sabem manusear instrumentos de pesca e caça. Ao perceberem isso, os puros planejam algo que possa dar a eles o domínio sobre os alimentos que eram obtidos pelos impuros. Com a ajuda do padre, os puros elegem o personagem Negus como rei soberano, cabendo a ele a distribuição dos alimentos. No entanto, Negus acaba por comer toda a comida da embarcação, levando a revolta dos puros, que o atiram em alto mar. É interessante perceber que nessas passagens o plano dos puros de eleger um rei soberano seria satiricamente a representação da apropriação do poder pela burguesia e a instauração de uma Monarquia que mantivesse os seus privilégios, assim como se deu na Rússia pré-revolucionária com Nicolau Czar II.

Após o rei Negus ser jogado ao mar, a embarcação se vê livre de um rei soberano, dando início a república, que também satiriza a abdicação de Nicolau II na Rússia, a chamada Revolução de Fevereiro, iniciando, dessa forma, a república democrática no território russo. Tinha-se, a partir daí o que se denomina como Governo Provisório, que organizou uma nova proposta administrativa para o país, com a criação de numerosos cargos e participação de diferentes partidos. Maiakóvski ilustra isso em sua peça, tecendo certa crítica a burocracia estatal a partir do discurso do mineiro:

Clemenceau – Francês ( puro)

Bem, cidadãos, isso é o bastante

Passearam à vontade.

É hora de organizarmos um poder democrático.

Para, que tudo, cidadão, seja rápido e sem demora,

Nós - O negus, que Deus o tenha! – somos treze agora,

Seremos ministros e assessores,

e vocês, cidadãos da república democrática,

vão fazer coisas práticas:

pescar focas, consertar botas e assar broas.

Alguma objeção?

Alguém contra ou não?

[...]

Mineiro (impuro)

Camaradas!

O que está acontecendo?

Antes uma boca só comia,

Agora muitos estão empanturrados.

A república parece o Czar,

Por cem multiplicado.

De volta a peça, os que estão na barca firmam um acordo em que o alimento deveria então ser dividido democraticamente, mas os puros continuam a explorar os impuros sem que a repartição dos alimentos seja justa. Ou seja, novamente a representação, agora sob ponto de vista histórico, de como a Rússia mesmo após a queda do czar e implantação da república democrática, continuou a ser desigual, somente a burguesia sendo favorecida em detrimento das outras classes. Inicia-se, nesse momento, a ação revolucionária dos trabalhadores, ilustrada de modo figurado na obra de Maiakóvski. Sendo assim, é decretado na peça teatral a luta de classes e a revolta do proletariado representado pelos impuros. Os impuros, insatisfeitos, jogam os puros no mar e seguem viagem rumo à Terra Prometida. Trazendo esse momento na obra para a historicidade, a revolta dos impuros simboliza a própria Revolução de Outubro onde os bolcheviques tomam o poder na Rússia. Após a queda do poder político vigente, os bolcheviques buscam implementar e consolidar um novo sistema, o Estado socialista. Dessa forma, o socialismo é representado na obra na figura da Terra Prometida, a partir do segundo ato, no qual os tripulantes da embarcação navegam em direção. A Terra Prometida seria o lugar perfeito, sem divisões sociais, explorações e opressão. Lá “todos são aceitos, menos os pobres de espírito”.

Os três atos seguintes resumem-se nos obstáculos por eles enfrentados. No decorrer da peça, a Arca passa por outros cenários como o Inferno e o Paraíso, sendo o último descrito por eles como um lugar muito monótono e chato. Nesses cenários surgem outros personagens como os diabos e os santos, travando discursos com os impuros que estão em busca de alimentos. Percebe-se que Maiakóvski retrata na peça a difícil realidade pela qual a população russa passava, tendo que enfrentar diversos problemas que ameaçavam a sua sobrevivência, como a insuficiência de alimentos.

No quinto ato, após percorrerem o Inferno e o Paraíso, os

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