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A Independência do Haiti e da América Espanhola

Por:   •  8/12/2018  •  2.565 Palavras (11 Páginas)  •  359 Visualizações

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O processo de independência da América Espanhola só foi se complicando com o tempo, e chegou ao seu ápice em 1808, quando Napoleão Bonaparte invadiu a Espanha, destituindo o rei Fernando VII. Com isso criollos das mais diferentes áreas, como México, Venezuela, Argentina e Colômbia, assumiram um discurso que trouxe consigo a ameaça definitiva para o domínio espanhol: enquanto Fernando VII não estivesse no poder, os colonos assumiriam controle das suas próprias áreas a partir da criação de Juntas Coloniais, como é analisado nos capítulos de Timothy Anna e David Bushnell, respectivamente denominados ''A Independência do México e da América Central''[5] e ''A Independência da América do Sul Espanhola''[6]. Enquanto, de um lado, os criollos clamavam a legitimidade das Juntas e prestavam subordinação apenas a Fernando VII, os espanhóis, de outro lado, enxergavam nisso uma ameaça para o sistema colonial. A intenção real dos colonos, porém, não é exata, mas é um fato que as Juntas assumidas por criollos vieram por protagonizar todo o processo de independência até 1825. É importante ressaltar, também, que os movimentos de independência da América Espanhola são muito diferentes uma das outras, enquanto tiveram áreas que, como o México e a Venezuela, sofreram várias reviravoltas, outras como o Paraguai obtiveram sucesso rapidamente.

Agora, compreendido os três processos de independência é possível traçar relações entre eles. A independência das 13 colônias, por ter sido um processo que ocorreu cedo e, principalmente pelas bases da Declaração de Independência, obteve um enorme peso na influência das independências que vieram adiante. O ideal federalista, constitucionalista e liberal (mesmo que apenas para homens brancos) foi seguido, por exemplo, pela primeira Constituição da Venezuela de 1811 como é analisado por Inés Quintero:

A Constituição de 1811 estabeleceu como forma de Estado a Federação, sancionou a separação de poderes, fixou um sistema eleitoral pelo voto, consagrou a liberdade, a igualdade, o direito à propriedade e à segurança, eliminou foros e privilégios e proclamou o nascimento da República[7]

Neste fragmento retirado do texto de Inés, também é perceptível a influência da Revolução Francesa com seu ideal de ''liberdade, igualdade e fraternidade'', uma chave para se entender a independência do Haiti. Estabelecemos aqui, então, uma relação entre os processos de independência da Venezuela, Haiti e dos Estados Unidos. Bernard Bailyn, famoso por seus estudos sobre os Estados Unidos, também mostra como seu modelo de federalismo se mostra presente nas constituições do México, Equador e Colômbia[8].

Simon Bolívar, conhecido como o ''libertador da América Espanhola'' por ter sido um agente ativo nas independências de Venezuela e Colômbia, criticava o federalismo dos Estados Unidos, apesar de terem sido usados como base para a elaboração da constituição de ambos os países:

Na concepção de Bolívar, expressa na crítica subseqüente que fez a essa constituição, o federalismo era uma das teorias impraticáveis que alguns[...] tentavam impor a um país não preparado para elas, levando-o com isso à beira da ruína. Na realidade, a república que inspirou especialmente os autores da constituição[...] eram os Estados Unidos[...][9]

Ao contrário dos exemplos das independências das colônias espanholas e britânicas, que assumiam na teoria igualdade mas na prática só libertavam homens brancos, o Haiti, colônia francesa, portanto fortemente influenciada pelos ideais da Revolução de 1789, o fez de forma eficiente: além de ter sido a primeira República de negros, foi a primeira também a abolir a escravidão, e isso em 1794, anos antes da independência. Em contrapartida, a escravidão só foi abolida nos Estados Unidos em 1863, em 1851 na Colômbia e Equador, 1853 na Argentina e 1854 na Venezuela e no Peru, muitos anos após a independência.

Outra relação que podemos fazer é na questão de reconhecimento dos processos. Por ter sido um processo majoritariamente negro, a independência do Haiti só foi reconhecida pelos Estados Unidos 58 anos após a declaração, e quando reconheceu foi para intervir no país, o que, em minha opinião, é um fator primordial para a atual condição do país. Simon Bolívar, principal nome da independência da América Espanhola, apesar de ter sido amplamente beneficiado pela ex-colônia francesa, também demorou a reconhecer sua autonomia. Os Estados Unidos, porém, reconheceram rapidamente a independência das ex-colônias espanholas, por terem sido processos organizados pelas elites coloniais e por, principalmente, estarem buscando maior influência política e econômica nas Américas.

Portanto, percebemos o quão importante é estudar os processos de independência da América correlacionando-as, trançando suas semelhanças, diferenças e seus impactos umas nas outras. Processos com ideologias, protagonistas e desenvolvimentos diferentes, mas que em suas bases buscam a mesma coisa: pessoas que, dando seu sangue, suor e pondo em risco suas vidas, buscam a autonomia integral das colônias, visando um maior desenvolvimento interno e maior liberdade para os colonos - mesmo que na maioria dos processos, essa liberdade seja só para uma minoria numérica privilegiada.

2. Quais as especificidades da independência de Saint Domingue? Analise o impacto da revolução insular no mundo escravista.

A Independência do Haiti, como ficou conhecida após o processo, garantiu a colônia francesa o título de 1º território da América Latina a conseguir emancipação política de sua metrópole. O processo, apesar de muito denso e de suma importância para o estudo da história do restante das américas, é muitas vezes esquecido e apagado de propósito pela historiografia. Uma das evidências disso é o fato de, no livro de Leslie Bethell sobre as independências (que será usado como base para discutir a questão) traduzido em português, o único capítulo esquecido é o que trata sobre a Revolução Haitiana. Para compreender as particularidades e os impactos dessa grande revolução, marginalizada pela historiografia mundial, que durou 14 anos no restante do mundo é preciso primeiramente entender como esse processo se deu.

Como é visto no capítulo 4 do livro de Leslie Bethell, denominado ''La Independencia de Haití Y Santo Domingo'', em fins do século XVIII a colônia francesa era a mais produtiva das Antilhas, superando as colônias britânicas e até mesmo o Brasil, que inclusive teve de reconfigurar suas

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