O que faz o brasil, Brasil?
Por: Carolina234 • 30/10/2018 • 1.512 Palavras (7 Páginas) • 338 Visualizações
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DaMatta, persegue a ideia de Sérgio Buarque de Holanda, para quem a mistura de raças era um modo de esconder as injustiças sociais contra o negro, índio e mulato, e a ideia de democracia racial não passava de um mito.
Outro aspecto apresentado pelo Brasil é sobre Comida e Mulheres, onde o autor distingue o que é "cru e cozido". O cozido permite a relação e a mistura de coisas do mundo que estavam separadas, já o cru é o oposto do mundo da casa, é como uma área cruel e dura do mundo social. Existe também a diferença entre comida e alimento, onde o primeiro (comida), é tudo aquilo que pode ser ingerido para manter uma pessoa viva, algo universal e geral. A comida é tudo aquilo que foi valorizado e escolhido dentre os alimentos. Já o cozido é algo social por definição. Não é somente o nome de um processo físico, o cozimento das coisas pelo fogo, mas, sobretudo, o nome de um prato sagrado dentro da nossa culinária.
Para nós, brasileiros, nem tudo que alimenta é sempre bom ou socialmente aceitável. Do mesmo modo, nem tudo que é alimento é comida. Dessa forma, o alimento é algo feito para que o homem tenha energia e sobreviva, enquanto a comida é aquilo que deve ser visto e saboreado com os olhos e depois com a boca, o nariz, a boa companhia e, finalmente, a barriga.
Já a questão da relação sexual, na concepção brasileira coloca a diferença entre um "comedor" e um "comido". E se se é aquilo que se come, cuidado com o quê ou quem for comer. Esses casos são muito vistos quando se fala no carnaval, o qual cria certas situações onde várias coisas são possíveis e outras tantas devem ser evitadas. Ele é definido como "liberdade" e como possibilidade de viver uma utopia fora da miséria, trabalho, obrigações, pecado e deveres. É a distribuição teórica do prazer sensual para todos. Nele trocamos a noite pelo dia, e personagens são criados nas fantasias, que tem a liberdade de ser que quiser ser.
Carnaval liga casa, rua e outro mundo querendo e propondo a abertura de todas as portas e de todas as muralhas e paredes. Os ritos cívicos e religiosos fazem o mesmo, mas com propostas diferentes. Os rituais religiosos partem de locais sagrados, pretendendo ordenar o mundo de acordo com os valores que são ali articulados como os mais básicos. Nos ritos de ordem em geral, e nos rituais religiosos em particular, o comportamento é marcado pela contrição e pela solenidade que se concretizam nas contenções corporais e verbais.
Enquanto a desordem carnavalesca, que permite e estimula o excesso, existe a ordem, que requer a continência e a disciplina pela obediência estrita às leis, como é que nós, brasileiros, ficamos? Acabamos ficando no meio de tudo, com a religiosidade e o prazer, com aquele “jeitinho” que tudo dá certo.
O "jeito brasileiro" é um modo pacífico e até mesmo legítimo de resolver tais problemas. A malandragem faz parte desse jeitinho, é uma onda de cinismo e gosto pelo grosseiro e pelo desonesto, o despachante, que só pode ser vista quando nos damos conta da dificuldade de juntar a lei com realidade social diária.
Nós brasileiros, marcamos certos espaços como referências especiais da nossa sociedade. A casa onde moramos, comemos e dormimos; a rua onde trabalhamos e ganhamos a luta pela vida. A cada um desses podemos somar um outro espaço: a igreja e os caminhos para se chegar à Deus.
A religião é uma forma de ordenar o mundo, facultando nossa compreensão para coisas muito complexas, como a ideia de tempo, a ideia de eterno e a ideia de perda e desaparecimento, esses mistérios parentes da experiência humana. Assim, a religião marca e ajuda a fixar momentos importantes na vida de todos nós, desde o nascimento, casamento e morte.
Toda essa complexidade de paradoxos, faz um Brasil de tantas caras, demonstrando uma peculiaridade da construção da identidade brasileira, um Brasil que tem política falha, e ao mesmo tempo de carnaval o ano inteiro. Um Brasil de casa, da rua, e do trabalho. Um Brasil de tantas cores diferentes, antas raças e ao mesmo tempo de tanto racismo. Um Brasil onde comer pode significar muito mais do que se alimentar, pode significar algo que dá prazer. Um Brasil de católicos, religiões evangélicas, espiritismo e candomblé. Um Brasil que com tudo isso e muito mais, forma uma nação única, a nação ou o Brasil de brasileiros.
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