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AS RELAÇÕES SOCIAIS DA EDUCAÇÃO

Por:   •  8/3/2018  •  3.713 Palavras (15 Páginas)  •  318 Visualizações

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como o trabalho assalariado está para a produção de subsistência ou para o trabalho autônomo, e está para a livre aprendizagem comum como urna empresa capitalista está para urna cooperativa ou para urna empresa autogestionada.

Burocracia e impessoalidade

A autoridade, ao menos tal como a tratamos na seção anterior, é apenas uma dimensão pessoal da organização. .Uma das características que separam o mundo do trabalho, ao qual a escola serve, da família, no que tange a seu publico, e a que opõe as relações pessoais e íntimas desta as relações impessoais, formais e burocráticas daquele.

Que tem a escola, no que concerne a normas e valores, que não pode ter a família? Que, nela, crianças e jovens são agrupados de acordo com umas poucas características e tratados de forma teoricamente uniforme sem a interferência de considerações individuais nem, muito menos, afetivas.

A relação pessoal com o pai, a mãe ou outros adultos da família é substituída na escola pela relação com o professor, mas uma relação na qual o aluno é considerado apenas enquanto parte de um grupo, coletivo ou categoria. Como escrevia um crítico das escolas secundárias na segunda metade do século passado:

(...) é o que se deve esperar inevitavelmente da escolarização em massa. Para manejar com êxito urna centena de crianças, ou mesmo a metade deste número, o professor deve reduzi-Ias tanto quanto seja possível a uma unidade (citado por Tyack, 1974: 54).

Mas o que compromete a impessoalidade e o tratamento como parte de um coletivo não é o número em si, mas uma organização socialmente determinada das escolas e da educação. O trabalho do professor passa assim a consistir, sobretudo, e contrariamente a qualquer ideia platônica a respeito, em ensinar crianças e jovens a comportar-se da forma que corresponde ao coletivo ou categoria em que foram incluídos, exigindo e premiando a conduta correspondente e rejeitando e mesmo penalizando tudo o que possa derivar de suas outras características como indivíduos ou, ao menos, tudo o que delas possa manifestar-se na escola ou chegar a afetar a relação pedagógica.

Na escola, se traça tais características, ou são ostensivamente - ou pretensamente - ignorados, como ocorre com o gênero, ou desaparecem como diferenciadores dentro dos coletivos para limitar-se a diferenciar os coletivos entre si, como acorre com a idade – e, nas escolas mistas, também com o gênero. Assim, os alunos veem-se designados e confinados a grupos homogêneos que se constituem em categorias definidoras de acordo com as quais são tratados e se espera que ajam. Aprender a ser tratado com critérios "universalistas" e "específicos" é também aprender a tratar os demais com esses mesmos critérios.

A alienação com relação aos fins do trabalho

Marx caracterizou acertadamente o trabalho na sociedade capitalista, em comparação com o trabalho em geral, como trabalho alienado. Para ele, esta alienação residia, basicamente, na relação entre o trabalhador e o produto, o processo e os meios de seu trabalho (Marx, 1977: 105 e ss.).

O primeiro aspecto da alienação com relação ao produto, o fato de ser propriedade de outro, não vem ao caso tratar com relação a escola. O resultado do trabalho do aluno, seja o conhecimento ou seu certificado, pertence-lhe sem discussão.

O segundo aspecto, a determinação dos fins por uma vontade alheia, reproduz-se inteiramente na escola. Assim como o trabalhador assalariado carece de toda capacidade de decidir o que produzir, a criança e o jovem escolarizados carecem da capacidade de decidir o que aprender.O produto de seu trabalho ou, o conteúdo do ensino e da aprendizagem, é determinado por outro. No esotérico jargão dos pais da teoria da reprodução cultural:

Toda ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de uma arbitrariedade cultural (Bourdieu e Passeron, 1977: 45).

Isto é, toda ação pedagógica implica a seleção de um conjunto de saberes como dignos de serem transmitidos e aprendidos e, como corolário, a eliminação de outros como indignos de tal procedimento. Na escola escuta-se toda série de belas coisas sobre o respeito para com a criança, as diferenças individuais e coisas parecidas. Mas nossas ações, em contraposição nossas palavras, parecem dizer a criança:

"Tuas experiências, tuas preocupações, curiosidades, necessidades, o que sabes, desejas, perguntas, esperas, temes, gostas ou desgostas, para o que serves e para o que não, tudo isto não tem a mínima importância, não conta para nada. O que importa aqui, o único que importa, é o que nós sabemos, o que consideramos importante, o que queremos que faças, penses e sejas (Holt, 1977: 24).

Assim como a autoridade no seio da família é fundamentalmente restritiva, a autoridade escolar é essencialmente prescritiva, o que representa uma diferença de qualidade e de grau.

Na escola, como na produção capitalista, minha liberdade não começa como reza o ditado, onde termina a liberdade dos demais, mas onde termina seu poder, o que neste caso quer dizer fora da instituição. A eficácia na imposição desta relação social do aluno com o conteúdo de seu trabalho não precisa esperar a vida de trabalho para se fazer evidente. A maioria das crianças e jovens aprende logo a não perguntar por que tem que aprender isto ou aquilo. Logo aceitam que, a esse respeito como a outros, estão submetidos à uma vontade alheia.

O chamado ensino individualizado não traz nenhuma diferença. A “individualização” raramente afeta os fins. Consiste normalmente em uma adaptação ou dosificação dos meios para chegar ao mesmo objetivo ou, como afirma Oettlnger, em que cada “cada aluno é livre para ir mais· ou menos rapidamente aonde lhe foi dito para ir" (citado por Silberman, 1971: 137).

Uma educação mais livre é mais provável para quem também tenha mais probabilidades de chegar a um destino social mais elevado e reforça cumulativamente estas. E um destino social “mais elevado" significa, entre outras coisas, uma posição distinta na divisa o vertical do trabalho, isto é, maiores possibilidades de ter capacidade decisória sobre o objeto e o processo deste.

A alienação com relação ao processo de trabalho

A alienação com relação ao próprio processo de trabalho, outra das características do modo de produção capitalista industrial, radica na carência de poder, por parte do trabalhador, para determinar o procedimento pelo qual obterá os objetivos fixados para seu trabalho. A criança e o jovem escolarizados

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