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Resenha: De Demiurgo a operário: Uma análise gramsciana do trabalho sob o taylorismo/fordismo

Por:   •  15/5/2018  •  1.831 Palavras (8 Páginas)  •  423 Visualizações

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na vida familiar, enumeradas anteriormente, haviam outras formas de persuasão, como os concursos do operário-padrão. Com base nisto, Henry Ford tentava passar a ideia de que estava construindo uma nova sociedade. Este interesse possuía ares puritanos com uma obediência rigorosa a um senso de moral austero e intransigente. Esta iniciativa “puritana” de Ford não era um ato de benevolência e nem tampouco eram diligências que visavam fortalecer a “humanidade” ou “espiritualidade” do operariado; justamente pelo contrário, estas iniciativas estabeleciam um controle ideológico sobre o operário tornando-o cada vez mais submisso, controlado e irracional quanto ao seu trabalho e ao processo produtivo. Ou seja, completamente diferente do papel do trabalhador no período feudal – o artesão (o qual assim como um “Demiurgo” plasmava o chora).

Tal controle ideológico se fortaleceu por estar mascarado de iniciativas ditas como benevolentes. Estas iniciativas tinham o objetivo de levar pra fora do trabalho um determinado equilíbrio psicofísico. Ao levar estas iniciativas ao âmbito familiar, o tal equilíbrio psicofísico não seria mais imposto de fora pra dentro do trabalhador, mas estaria enraizado dentro dele, incorporado em suas ações. Ao atingir este equilíbrio, o operário estaria livre de sofrer um colapso fisiológico e criaria dentro de si uma verdadeira aversão à extravagâncias. Desta forma, a estrutura familiar estaria submissa às necessidades da reprodução da força do trabalho. Como diz uma afirmação do Manifesto do Partido Comunista: “o capitalismo acaba com a família como elemento socializador fundamental. O mundo fabril e seus aparelhos passam a centralizar essa socialização”.

O sindicalismo de ofício – o setor mais radical dos sindicatos e que lutava pela defesa dos ofícios e qualificações pelos trabalhadores – também teve de ser controlado pelo sistema fordista. A sua destruição era fundamental para a continuidade e o avanço do novo sistema de gestão da força de trabalho, afinal a existência de um grupo radical capaz de mobilizar o operariado contra o sistema de controle e ideologias que estava sendo implantado poderia ameaçar o avanço do novo sistema de gestão da força de trabalho.

Entretanto, ao mesmo tempo em que era preciso derrubar o sindicalismo de ofício, também era necessário para a manutenção do sistema fordista a existência do sindicalismo de uma maneira geral, e ainda mais que isso, o seu reconhecimento pelas indústrias. Isso porque o sindicalismo não radical era uma ferramenta de controle do operário, para isso foi necessário a existência de um pacto social entre o capital e os sindicatos e, por meio de negociações e garantia de direitos trabalhistas, estabelecer como aliada às grandes empresas a principal organização que o operário possuía. Ou seja, o que aconteceu na verdade foi a institucionalização do sindicalismo, tornando-o um dos melhores aliados que o capitalismo já teve, os sindicatos foram incorporados ao processo de produção fordista.

A queda do sindicalismo de ofício e, principalmente, a institucionalização dos sindicatos contou, contudo, com o importante apoio do Estado estadunidense. O qual, em plena pós quebra da sua principal bolsa de valores, em 1929, observava a instalação de uma crise econômica de nível internacional e a intensificação de ideologias socialistas. Foi nesse contexto que se implantou o Estado de Bem-estar social, sistema esse que de preocupado com o bem-estar da sociedade só tem o nome.

Seu principal interesse era manter o operário preso ao sistema capitalista e intensificar cada vez mais as atividades industriais na economia de mercado, mesmo que fosse necessária a intervenção estatal na economia. Como justificativa para tais intervenções estava o interesse em melhorar as condições de vida da população de um modo geral e levantar o país após uma crise de nível mundial, tentando evitar que ocorressem outras. Assim, o Estado de Bem-estar social estava salvaguardado pela aceitação de uma política “benéfica” para a população, mesmo que antiliberal.

Após a segunda guerra mundial, com a URSS no auge de sua força, mas intensa foi a política implantada pelo Estado de Bem-estar social, procurando conter a classe trabalhadora e amenizar os impactos do socialismo soviético através da geração de empregos e de renda, implantação de novos direitos trabalhistas, assistência a idosos, desempregados e inválidos, estabelecimento de planos de saúde, seguridade habitacional, urbanização, etc. Foram esses os benefícios que tornaram os sindicatos aliados ao regime existente, levando a um crescimento das indústrias e a uma expansão do capital, em conjunto com o sistema taylorista\fordista.

Em especial no período pós 1945, houve a expansão do Estado de Bem-estar social e do taylorismo\fordismo pelo mundo capitalista, a qual foi acompanhada de mudanças e adaptações a cada região do globo. Na Europa, os antigos inimigos (durante a segunda grande guerra) e, agora, aliados dos EUA contra a expansão do socialismo soviético, foram ajudados pela política estadunidense através do plano Marshall e colaboraram com a expansão do sistema fordista. Já na América latina, o Estado de Bem-Estar social foi implantado, porém com menos direitos trabalhistas, visto que a classe operária dos países do segundo mundo não representava tanto perigo ao capitalismo como as dos EUA, numa política conhecida como desenvolvimentista. No Brasil, a marca principal dessa política foi o governo de Juscelino Kubistchek (50 anos em 5).

Conclusão

Nas palavras de Henry Ford, assim como eram monótonos os trabalhos realizados pelos operários em sua empresa, “também são monótonos muitos cérebros; inúmeros homens querem ganhar a vida sem ter que pensar”. Apesar de ser essa uma declaração ridicularizadora, se não houvesse verdade em tais palavras, com certeza não seria tão fácil como foi submeter a classe operária

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