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Hannah Arendt- Antropogia Filosofica

Por:   •  30/4/2018  •  2.817 Palavras (12 Páginas)  •  370 Visualizações

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Você não vê que a verdadeira finalidade da Novafala é estreitar o âmbito do pensamento? No fim teremos tornado o pensamento-crime literalmente impossível, já que não haverá palavras para expressá-lo (...) Menos e menos palavras a cada ano que passa, e a consciência com um alcance cada vez menor (...) Alguma vez lhe ocorreu, Winston, que lá por 2050, no máximo, nem um único ser humano vivo será capaz de entender uma conversa como a que estamos tendo agora? (...) A literatura do Partido será outra. Os slogans serão outros. Como podemos ter um slogan como ‘Liberdade é escravidão’ quando o conceito de liberdade foi abolido? Todo o clima de pensamento será diferente. Na realidade não haverá pensamento tal como entendemos hoje. Ortodoxia significa não pensar – não ter necessidade de pensar. Ortodoxia é inconsciência. (Orwell, 2010, pág. 68, 69 e 70)

Uma reformulação da linguagem e da comunicação pretende garantir o fim do pensamento, o fim do discurso e consequentemente a impossibilidade do homem fazer o uso da ação, posto que a comunicação entre entres os habitantes do país era limitado pelo controle exercido pelo partido, a possibilidade de uma ação contra o regime ou na própria dos cidadãos é quase nula, e até mesmo o romance vivido por Winston e Julia se torna efêmero, o herói sofre as consequências pela tentativa de viver uma vida humana em meio a um contingente de “desvida”[2].

As perguntas que se podem fazer são: por que Winston e Julia se relacionam mesmo sabendo das consequências de suas ações? Por que arriscar as suas vidas mesmo sabendo que seriam descobertos a qualquer momento? Por que desafiar o poder do partido? Por que fazer o uso da ação e do discurso? A resposta é dada por Hanna Arendt: “O fato de que o homem pode agir significa que pode esperar dele o inesperado, que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável” (ARENDT, 1987, pág. 191) o infinitamente improvável como fizeram os personagens do romance é a capacidade e a necessidade de o homem ser homem, ou seja, eles precisaram fazer o uso da ação e do discurso para se entenderem como seres humanos, não só precisavam, tinham a capacidade de fazer acontecer, aí estão as respostas sobre as a necessidade de ação e discurso para o homem viver uma vida humana, ao encontrarem-se Winston e Julia percebem que podem ter algo verdadeiramente humano e segundo Arendt somente “a ação e o discurso são os modos pelos quais os seres humanos se manifestam uns aos outros, não como meros objetos físicos, mas enquanto homens. ” (Idem. 189).

Dentro desse contexto apresentado no romance, nos é disponível ver um exemplo de como a impossibilidade do discurso e da ação escoam na impraticabilidade da vida humana e como o homem sempre fazer o uso da ação e do discurso, mesmo não sabendo as consequências de suas ações.

De qualquer modo, desacompanhada do discurso, a ação perderia não só o seu caráter revelador como, e pelo mesmo motivo, o seu sujeito por assim dizer: em lugar de homens que agem teríamos robôs mecânicos a realizar coisas que seriam humanamente incompreensíveis, sem o discurso a ação deixa de ser ação, pois não haveria ator, e o ator, o agente do ato só é possível ser for, ao mesmo tempo, o autor das palavras. A ação que ele inicia é humanamente revelada através de palavras; e, embora o ato possa ser percebido em sua manifestação física bruta, sem o acompanhamento verbal, só se torna relevante através da palavra falada na qual o autor se identifica, anuncia o que fez, faz e pretende fazer. (Idem. 191)

É importante ressaltar que a ação sem o discurso de nada vale, afinal, a revelação do agente não está apenas comprometida, mas sim, impossibilitada de ser feita, é preciso fazer o uso da palavra para que a comunicação seja efetivada, sem a revelação do agente no ato, suas ações se tornam um feito qualquer, ou seja, um meio atingindo um fim e se iguala a atividade do labor e da fabricação de objetos.

Há grande diferença entre esta frustações e a notória impossibilidade filosófica de se chegar a uma definição do homem, uma vez que todas as definições são determinações ou interpretações do que o homem é e, portanto, de qualidades que possa ter em comum com outros seres vivos, enquanto sua diferença especifica teria que ser encontrada determinando-se que tipo de quem ele é. Contudo, à parte esta perplexidade filosófica, a impossibilidade de solidificar em palavras, por assim dizer, a essência viva da pessoa, tal como se apresenta na fluidez da ação e do discurso,

tem profundas consequências para toda a esfera dos negócios humanos, na qual existimos basicamente como seres que agem e falam. (Idem. 194)

A revelação do agente por meio da ação e do discurso se confunde ao notar que a pergunta que se faz sobre o sujeito é o referindo-se as qualidade que são atribuídas ao sujeito, em controvérsia, Arendt indica que a pergunta correta a ser feita deve ser que se refere a uma essência do agente, e essa é justamente a pergunta fundamental da qual a resposta será indicada na história de cada um, ou melhor, no fim da história de cada um, que ao mesmo tempo estará refletindo na história da humanidade, Arendt afirma que a história não tem fim, uma vez que, a natalidade impossibilita a findar da história humana, ou seja, para a autora a cada nascimento ocorre uma nova possibilidade, um novo começo para os homens e para suas histórias.

Em outras palavras, as histórias, resultado da ação e do discurso, revelam um agente, mas esse agente não é o autor nem produtor. Alguém a inicia e dela é o sujeito, na dupla acepção da palavra, mas ninguém é seu autor. O fato de que toda vida individual, compreendida entre o nascimento e a morte, pode vir a ser narrada como uma história com princípio e fim, é a condição pré-política e pré-histórica da História, a grande história sem começo nem fim. Mas o motivo pelo qual toda a vida humana constitui uma história e pelo qual a História vem a ser, posteriormente, a livro de histórias da humanidade, com muitos atores e narradores, mas sem autores tangíveis, é que ambas resultam da ação. (Idem. 197)

A busca pelo sujeito da história não é novidade dentro da história da filosofia, a insistente procura desse algo que possibilita a construção da história da humanidade nos rendeu um amplo acervo de teorias, teses, e possibilidades sobre o ser, essa é para Arendt a mais fundamental questão do homem, afinal, no jogo das relações humanas não se tem intermediários, o que existe é o contato direto nas relações humanas, diferentemente da relação do homem com

o

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