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A Antropologia Filosófica

Por:   •  23/2/2018  •  Exam  •  2.679 Palavras (11 Páginas)  •  381 Visualizações

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Antropologia filosofica

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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA

PROFESSOR: JOSÉ MARIA ARRUDA

MONITOR: FREDERICO MARTUCCI

ALUNA: GIANA CLAUDIA DE CASTRO ARAUJO

Para todas as questões abaixo, contextualize, problematize, disserte e argumente tendo como pressuposto os textos disponibilizados para leitura, as discussões em sala de aula e suas próprias ideias acerca dos temas.

Niterói, 31 de outubro de 2015

QUESTÃO 1. Um filósofo, certa vez, lamentou que “os viajantes não fossem filósofos”, tendo que ouvir como resposta a seguinte frase: “Que pena que os filósofos não são viajantes”. Explicite as diferenças de abordagem da pergunta “o que é o homem” entre a filosofia tradicional e a antropologia empírica.

Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho5, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.

Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.

Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.

(Carta de Pero Vaz de Caminha, 1500)

Na carta de Pero Vaz de Caminha apreendemos tanto vestígios da cultura indígena quanto da europeia. As descrições de viagem até o século XIX estão sempre impregnadas de julgamentos moldados pelo horizonte cultural de quem o descreve. A vida do outro é descrita a partir dos valores do observador. Laplantine (2003) observou que “o estudo dos textos etnológicos nos informa tanto sobre a sociedade do observador quanto sobre a do observado” (p.137).

Não raro esta postura engendra um projeto civilizatório: “Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”.

Do século XVI para o século XVIII, esta postura ainda não havia sido superada, mesmo com o reconhecimento da universalidade do homem. Lamentar que os viajantes não sejam filósofos, portanto, é uma lamentação de que este tipo de interpretação do outro não se aprofunde. A antropologia empírica classificou esta postura de etnocêntrica – ou seja, tomar a sua cultura como superior às outras. A “viagem filosófica”, ideal descrito em Laplantine (2003, pp. 43-7) requer um observador (“iluminado”), com “um certo número de qualidades” (p. 43). A universalidade do homem foi um conceito que, embora fosse revolucionário no século XVIII, acabava por cumprir um papel de eliminação das diferenças e consequente afirmação de superioridade da visão europeia.

A citação do próprio Rousseau é esclarecedora:

Suponhamos um Montesquieu, um Buffon, um Diderot, um d’Alembert, um Condillac, ou homens de igual capacidade, viajando para instruir seus compatriotas, observando como sabem fazê-lo a Turquia, o Egito, a Barbaria... suponhamos que esses novos Hércules, de volta de suas andanças memoráveis, fizessem a seguir a história natural, moral e política do que teriam visto, veríamos nascer de seus escritos um mundo novo, e aprenderíamos assim a conhecer o nosso. (apud LAPLANTINE, 2003, p. 43)

Viajar para instruir os seus compatriotas com o olhar do observador erudito e brilhante, geraria, ainda assim, uma descrição que tomaria como eixo os hábitos dos próprios europeus. O “mundo novo”, assim, ao modo de Caminha, resultaria de uma descrição espelhada, embora o conceito de universalidade do homem tenha podido expurgar deste discurso algum viés do julgamento moral de superioridade do século XVI. Mesmo considerando outras culturas como extremamente válidas e ricas, estas estariam reféns do quadro conceitual dos filósofos.

A filosofia nasce na Grécia antiga com uma proposta de definir a essência do homem e modificá-lo, se colocando sempre como agente principal da transformação do mundo “civilizado”. O “homem universal” do século XVIII é uma definição que se encaixa nesta proposta logocêntrica – onde a linguagem verbal quer se afirmar como principal meio de aproximação do homem com a verdade – apresentando o discurso filosófico como sua principal porta voz.

A antropologia empírica, por sua vez, surge apresentando um observador que tende a buscar muito mais singularidades do que universais. Na primeira metade do século XIX, porém, marcou-se a importância do trabalho de campo, tendo sido, porém, delegado para observadores, no papel subalterno de provedores de informações (LAPLANTINE, 2003, p.57), permanecendo os intelectuais em seus gabinetes, apenas interpretando o olhar destes observadores, que por sinal não possuíam formação em antropologia. A produção etnográfica se apresentava impregnada de uma “filantropia” indicativa de uma intenção intervencionista, para realização de “ajustes” e “correções” de “injustiças”, o que por sua vez indica o olhar dominador, sem disposição ainda para dar voz aos povos, muito menos de suportar os incômodos que as diferenças pudessem causar.

O teórico e o observador foram finalmente unidos no trabalho de campo com Franz Boas na primeira metade do século XIX, que busca imprimir um olhar em que a descrição da cultura deve ser feita sem julgamentos do que é mais ou menos importante, muito menos coleta “materiais à maneira dos antiquários”, buscando o sentido de uma cultura nela própria, em sua totalidade singular, dona de sua própria lógica de funcionamento.

Deste modo, vemos que a filosofia, ao tentar responder à pergunta sobre o que é o homem, atém-se, em última instância, em uma ontologia que busca afirmar um ser num discurso

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