Filosofia clínica
Por: Ednelso245 • 14/10/2018 • 2.400 Palavras (10 Páginas) • 320 Visualizações
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Gadamer (1997) mostra-nos que para compreender um texto é preciso deixar que ele diga alguma coisa por si, posicionar-se de maneira receptiva a sua alteridade, o que não significa neutralidade ou auto-anulamento.
Para possibilitar essa abertura para o outro na clínica, durante o processo de formação, o filósofo clínico submete-se a um procedimento denominado Clínica Didática ou Pré-Estágio. Esse procedimento consiste em passar por todo o processo clínico como um partilhante, ou seja, submeter-se à clínica, com o objetivo múltiplo de conhecer seus referenciais, suas concepções prévias, seus pré-juízos, de conhecer a si mesmo a partir do instrumental filosófico clínico e, principalmente, de vivenciar esse instrumental.
A princípio, a postura do filósofo clínico é de escuta atenta. Ouvir interferindo o mínimo possível, acolhendo, acompanhando atentamente. . Há interação, encontro desses universos como conjuntos que estabelecem interseções. Há atenção e cuidado que se fazem explícitos no decorrer dos trabalhos.
Dentro das especificidades filosóficas clínicas, há exames iniciais que permitem um conhecimento das questões, divide-se em três eixos centrais: Exames Categoriais, Estrutura de Pensamento e Submodos.
Os Exames Categoriais são exames iniciais, consistem em conhecer o universo no qual o partilhante está inserido. A Estrutura de Pensamento fornece o modo como essa pessoa se estruturou a partir das vivências de seu universo. São trinta tópicos que abordam esse modo de ser, considerando. Desde sua visão de mundo, até suas emoções, sua expressividade, seus valores, a religiosidade, seus papéis existenciais, seus meios de expressão. Os Submodos intervenções clínicas dividem-se em dois momentos: a observação dos Submodos Informais e sua utilização como procedimentos clínicos. Como Submodos Informais são verificadas, no partilhante, as maneiras habituais de lidar com suas questões. Como procedimentos clínicos, os Submodos são maneiras, modos subordinados à Estrutura de Pensamento, aos Exames Categoriais e aos Submodos Informais, isto é, só fazem sentido e somente podem ser utilizados se estiverem de acordo com o que foi estudado e observado.
O partilhante chega ao consultório para uma primeira consulta. A conversa inicial é sobre o Assunto Imediato, ou seja, a queixa, o que incomoda o que moveu o partilhante a procurar ajuda. O filósofo clínico poderá perguntar sobre o contexto da questão apresentada, pedir mais detalhes, para compreender o que se passa. A seguir, explicará ao partilhante os procedimentos clínicos, com mais ou menos detalhes, de acordo com o interesse do mesmo.
O conceito de Interseção, em Filosofia Clínica, tem sua origem na Teoria dos Conjuntos (Cantor), onde a interseção entre conjuntos equivale aos elementos comuns entre eles. Em clínica, filósofos clínicos e partilhantes são os universos, os conjuntos, em interseção.
A Interseção não é medida pela quantidade de elementos comuns, mas pela qualidade estabelecida na relação. Relação esta que se estabelece tanto por dados verbais como por dados não verbais: gestos, olhares, expressões, posturas, etc.
Após a conversa sobre o Assunto Imediato, o partilhante preencherá uma ficha clínica que contém dados sobre o partilhante, termo de esclarecimento e consentimento para o trabalho clínico. Caso trate-se de um partilhante que se encontre em acompanhamento psiquiátrico ou neurológico, o filósofo clínico informará sobre a necessidade de um trabalho interdisciplinar e entrará em contato com o médico responsável para estabelecer a interdisciplinaridade.
O próximo passo consiste em colher o histórico do partilhante, contado por ele mesmo, cronologicamente e em detalhes. Esse histórico servirá de fonte para a obtenção de dados sobre os três eixos fundamentais: Exames Categoriais, Estrutura de Pensamento e Submodos.
Obviamente, dificuldades nesse contar a história podem surgir: o partilhante pode considerar irrelevante falar sobre sua história de vida, não se sentir à vontade para expor dados e detalhes de suas vivências. Nessas situações, cabe ao filósofo clínico ouvir, acolher, mostrar a necessidade dos dados para um subsequente trabalho, explicitar que não se tratam de lembranças traumáticas, mas de todas as vivências, contextos e dados do cotidiano.
Se o partilhante tiver dificuldade em contar um período de sua história, pode-se deixá-lo para depois, afinal, nos primeiros momentos da clínica, o filósofo clínico é um estranho para o qual o partilhante deve contar dados que muitas vezes são difíceis de expor, pode faltar confiança, pode ter medo de ser julgado, pode sofrer com as lembranças.
Chegando ao momento presente, o filósofo clínico dividirá o histórico do partilhante em partes, pedindo que reconte, parte a parte, com mais detalhes, novos dados. Há casos em que o partilhante corrige: “Da outra vez contei que isso havia ocorrido assim, mas não foi bem assim. Depois lembrei melhor, o que ocorreu foi o seguinte:...”, ou ainda: “Na primeira consulta, fiquei com vergonha de lhe contar, não sabia o que pensaria a respeito, como julgaria. Agora já tenho confiança, posso contar e sei que você não vai me recriminar por isso...”. Falas como essas são muito comuns em clínica.
A Divisão não serve apenas para essas correções, mas principalmente para a aquisição de mais dados. O procedimento divisório é repetido inúmeras vezes, até que não surjam novos dados.
Terminada a Divisão é o momento dos Enraizamentos. Trata-se de um processo epistemológico para pesquisar o conteúdo de termos, estabelecer relações, testar hipóteses clínicas. Nesse momento são feitas perguntas específicas sobre dados colhidos no histórico do partilhante. Neste momento, todas as dúvidas relativas ao histórico, questões ou termos que não estejam claros e que possuam pertinência clínica, ou seja, estejam vinculados às questões do partilhante, poderão ser esclarecidos.
Enquanto encaminha esses procedimentos, o filósofo clínico observará os três eixos fundamentais: Exames Categoriais, Estrutura de Pensamento e Submodos Informais, atualizando os dados a cada consulta. Com dados suficientes para compreender o universo do partilhante. Esse planejamento inclui a leitura do todo da Estrutura de Pensamento: se há choques intra ou inter tópicos, quais são os tópicos determinantes, os permeáveis, os flexíveis, os estruturais; quais as possibilidades para trabalhar os choques; que modificações são possíveis e necessárias ao partilhante e quais as suas consequências.
O conhecimento da
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